Soltar mosquitos geneticamente modificados na selva para combater a malária, a zika ou outras doenças transmitidas por insetos é uma atitude prematura e pode ter consequências indesejadas, afirmaram pesquisadores em um relatório divulgado na quarta-feira (8).
“Nosso comitê urge cautela – é necessário que muito mais pesquisas sejam feitas para entender as consequências científicas, éticas, regulatórias e sociais de liberar tais organismos” transgênicos, disse o James Collins, professor da Universidade do Estado de Arizona, que foi copresidente do comitê da Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina.
O comitê estudou a modificação genética dirigida – a prática de estimular uma herança genética predisposta ou “enviesada” através da alteração de determinados genes em laboratório, com o objetivo de fazer com que determinados traços genéticos passem dos pais para a prole, alterando populações inteiras.
Com novas técnicas de edição genética, as alterações intencionais podem se espalhar rapidamente em uma população, aumentando consideravelmente as chances de que o gene modificado se torne muito difundido.
“Pesquisas preliminares sugeriram que a modificação genética desenvolvida em laboratório poderia espalhar o gene alvo para cerca de 100% de uma população de leveduras, moscas ou mosquitos”, disseram os acadêmicos em um comunicado que anunciou o relatório do comitê.
A tecnologia poderia ser usada potencialmente para atingir mosquitos selvagens, modificando-os geneticamente para que eles não sejam capazes de transmitir doenças infecciosas como a dengue, a zika ou a malária.
Na agricultura, a modificação genética dirigida poderia ser usada para controlar as pragas que afetam colheitas.
No entanto, tal tecnologia poderia ter consequências devastadoras “como a interrupção não intencional de espécies que não sejam o alvo, ou a formação de uma segunda espécie mais resistente e invasiva”, disseram os pesquisadores.
“Visto que o objetivo de usar a modificação genética é espalhar informações genéticas em uma população rapidamente, é difícil antecipar seu impacto e é importante minimizar potenciais consequências indesejadas”, afirma o relatório, sugerindo mais pesquisas e uma maior colaboração entre os cientistas.
O comitê concluiu que as regulações existentes são insuficientes para avaliar os riscos de experimentos de campo ou da liberação planejada de organismos modificados através da modificação genética dirigida.
“Até maio de 2016, nenhuma avaliação de riscos ecológicos foi realizada para um organismo transgênico”, segundo o relatório. (Fonte: UOL)