Até o final de outubro, 18 mil jubartes devem passar pelo litoral brasileiro buscando as águas quentes do Arquipélago de Abrolhos, na Bahia, em seu período de reprodução. É um espetáculo único, que exige muitos cuidados por parte dos seus observadores. A população da espécie cresce cerca de 10% ao ano, amparada por programas mundiais pela sua preservação. Mas o incremento do turismo, a pesca artesanal e o aumento atípico do número de encalhes preocupa os pesquisadores.
O Projeto Baleia Jubarte detectou, nos primeiros dois meses, 46 encalhes na costa brasileira. O número é superior ao de toda a temporada do ano passado, que registrou 43 encalhes nos quatro meses de temporada, mas não é alarmante. Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do projeto, classifica o período como atípico. Ele passou até a utilizar o aplicativo WhatsApp para receber avisos de encalhes.
“Carcaças de baleias em áreas habitadas são um problema de saúde pública”, esclarece. O Instituto atende a chamados do litoral da Bahia ao norte do Espírito Santo, áreas com forte presença das jubartes. Porém, pode receber avisos de qualquer parte do país e encaminhá-los a organizações governamentais e não governamentais que fazem remoção de forma adequada. A população pode utilizar o número (73) 988.021.874 ou informar pelo site www.baleiajubarte.org.br.
O Instituto Baleia Jubarte, responsável pelo projeto, está monitorando o movimento de embarcações e fazendo reuniões com os pescadores na região de Abrolhos, sul da Bahia, como parte da estratégia para reduzir o impacto das atividades humanas no arquipélago. A ação é apoiada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, e pelo Comando da Marinha, que mantém instalações na ilha de Santa Bárbara.
Atenção redobrada – Os pesquisadores perceberam que as baleias vêm sendo observadas com maior frequência nessa temporada e em trechos da costa onde apareciam menos, como no litoral paulista. Por isso, é necessário redobrar os cuidados para evitar interferências das embarcações turísticas e equipamentos de pesca artesanal.
A advertência vale para que os turistas busquem empresas habilitadas para os passeios. Já os pescadores, redes mais adequadas. “Temos dialogado com os pescadores. Muitos são parceiros na conservação”, relata Milton. A visitação em Abrolhos é regulamentada por decreto, que limita a aproximação máxima a 100 metros, hélices desacopladas dos motores das embarcações e medidas de segurança durante os avistamentos.
Os pesquisadores acreditam que o aumento no número de encalhes tem relação com mudança no clima. Há indícios de que um aquecimento mais severo das águas, provocado pela força com que o fenômeno El niño se manifestou no ano passado, tenha alterado a oferta de alimento na Antártica, segundo explica o pesquisador.
Com isso, algumas baleias chegam muito magras à costa brasileira. Sem forças, depois de percorrer quase 10 mil quilômetros, elas encalham com mais facilidade. “O fenômeno ocorreu em 2010, quando tivemos 93 encalhes, o que chegou a assustar. Mas hoje já compreendemos melhor o que acontece”. O Projeto Baleia Jubarte é patrocinado pela Petrobrás. (Fonte: MMA)