Limpeza de rios de SP dá primeiros passos, diz urbanista Linda Cox

A urbanista norte-americana Linda Cox participou, nesta quarta-feira (14), de um seminário sobre a recuperação de rios no Insper, na Zona Oeste de São Paulo. A especialista falou sobre o projeto coordenado por ela, nos Estados Unidos, que conseguiu despoluir o Rio Bronx – o único de água doce de Nova York. Ela também visitou o Córrego das Corujas, na Vila Madalena, Zona Oeste de São Paulo.

Para Cox, a recuperação das águas também pode ocorrer em São Paulo. Ela conheceu os rios Tietê e Pinheiros e afirmou que o que viu lhe pareceu “familiar”, com a diferença de que os rios paulistanos cortam áreas centrais da cidade, enquanto o Rio Bronx, em seus 37 km de extensão, passa apenas por regiões mais periféricas.

A urbanista não acredita que o fato dos rios passarem pelo coração da capital deixe o problema em evidência e seja um facilitador para o processo de despoluição. “Antes de vir aqui e ver, eu diria que sim [tornaria mais fácil], mas na verdade eles parecem escondidos, fora de vista, assim como era o Rio Bronx. Está lá, mas não é encarado como um rio, com todos os recursos que um rio oferece.”

O caminho para a recuperação dos rios Tietê e Pinheiros é longo. Os próprios especialistas nacionais que participaram do seminário “A Cidade e a Água”, realizado nesta quarta, não acreditam em grandes mudanças nas águas no curto prazo. Mas, segundo Cox, “os primeiros passos estão sendo dados neste exato momento”, disse, ao fim do evento.

Exemplo de Nova York – Durante sua palestra, Cox explicou como se deu parte do processo que permitiu com que o poluído rio se tornasse um ponto de lazer para a população.

Se na década de 1980 o rio Bronx acumulava lixo e era “invisível” para os moradores da região, pouco mais de 30 anos depois, ele se transformou em um corredor que permite atividades como a pesca, canoagem e passeios de bicicleta. Até mesmo a vida animal, que havia sido extinta, voltou a dar as caras. “O mais excitante foi ver a volta do castor depois de séculos”, lembrou ela.

Segundo Cox, a revitalização do rio e de seu entorno só foi possível por conta do engajamento da sociedade, que abriu os olhos do poder público para o problema. “Não acho que especialistas técnicos poderiam atrair recursos do governo. Eles poderiam gastar, mas não alocar estes recursos”, disse.

De acordo com a urbanista, o projeto só avançou com a união deste desejo de mudança da população, que via traficantes tomarem as margens do rio e a cidade liderar o ranking de municípios com mais problemas de asma, com a expertise técnica de especialistas.

Cox contou que uma equipe foi montada para treinar e conscientizar moradores da região, especialmente os mais jovens. O programa de aprendiz gerou oportunidades de emprego e criou “heróis locais e modelos”, segundo ela. “Não subestime o valor de chegar aos jovens e às novas gerações”, ressaltou.

Projeto de lei e manifesto – Nesta quarta-feira, durante o seminário, Marussia Whately, uma das idealizadoras da coalizão nacional Aliança pela Água, anunciou o lançamento de um Projeto de Lei (PL) que tem como objetivo definir o que é segurança hídrica e colocar o assunto na pauta da administração municipal. O documento será levado à Câmara nesta quinta-feira (15).

De acordo com Whately, a segurança hídrica vai incluir, entre outros pontos, o cuidado com a parte ambiental e de saneamento dentro da capital paulista. “Vamos começar a construir esse conceito da segurança hídrica, mostrando que os prefeitos e vereadores tem responsabilidade em relação à água”, explicou.

O evento ainda marcou o lançamento do movimento “Vamos Limpar o Rio?”, que convida a população a se engajar no combate à poluição das águas. No site da iniciativa, os interessados poderão se inscrever para participar da campanha e também conhecer histórias de despoluição de sucesso, como as dos rios Tâmisa, em Londres, e Sena, em Paris. (Fonte: G1)