Mesmo localizada no coração da floresta amazônica, Manaus tem apenas 22% da área urbana arborizada. Foi o que revelou um estudo realizado pelo Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). O índice é considerado baixo e o volume insuficiente de árvores pode trazer consequências para a saúde da população. As pressões urbanas provocadas pelo descarte incorreto de lixo e as invasões ameaçam as áreas verdes da capital.
O doutor em geografia urbana e professor do Departamento de Geografia da Ufam, Marcos Castro, foi o responsável pela pesquisa. O pesquisador explicou que o estudo foi feito em 2013 a partir de um levantamento por imagens de satélite, considerando toda cobertura vegetal da cidade, incluindo ainda as áreas de grande concentração de árvores. Dentre elas: o campus da Ufam, a área do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Parque do Mindu e áreas militares.
O estudo revelou que somente 22% dos 11.500 km² da área territorial urbana de Manaus tem árvores. Isso significa que área arborizada da cidade é de aproximadamente 2.300 km².
“Analisamos a área total de Manaus e chegamos à conclusão de que 22% do total da área urbana de Manaus é coberta por árvores, mas esses 22% de arborização não estão distribuídos e estão concentrados em áreas específicas. Aí que surge o problema. Não há uma política de urbanismo voltada ou vinculada a questão da arborização urbana. O percentual de 22% é muito baixo para uma cidade equatorial como Manaus, cujo o clima é bastante quente”, comentou o pesquisador.
Danos ambientais têm sido provocados pelo crescimento desordenado da cidade mais populosa da Região Norte, que já tem mais de 2 milhões de habitantes. As pressões urbanas provocam redução e degradação de áreas verdes de Manaus.
“Percebemos uma redução na cobertura vegetal significativa em função de ocupações irregulares, as chamadas invasões. Ainda verificamos uma diminuição dos fragmentos vegetais urbanos se compararmos as imagens de 1992 com as atuais”, disse Marcos Castro.
Segundo o pesquisador, o índice de arborização da área urbana de Manaus ideal seria entre 35% e 40%. Porém, a arborização teria que ter um planejamento para plantio, que gerasse maior distribuição das áreas com árvores da capital.
“É preciso plantar árvores em vias urbanas, praças e parques para que possamos ter um percentual mínimo entre 35% a 40% e bem distribuídos. Só chegaríamos a esse patamar se houvesse uma política de urbanismo vinculada a arborização sistemática da cidade”, destacou o professor da Ufam.
A posição geográfica de Manaus faz com que os raios solares incidam com mais intensidade na cidade. Os efeitos dos raios solares poderiam ser amenizados com quantidade maior de árvores, que gerariam sombreamento e conforto térmico. “Manaus é uma cidade próxima a Linha do Equador, estamos a 3.6 graus da Linha do Equador. Nós recebemos uma incidência muito grande de raios solares e isso contribui para doenças relacionadas a pele. A arborização é essencial no sentido que ela ameniza o microclima, a temperatura e provoca efeitos de sombreamento”, enfatizou Castro.
Plantio de árvores – Uma das iniciativas adotadas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas) foi plantio de mudas por meio do Plano de Arborização 2016, o Arboriza Manaus. Até o último Dia Nacional da Árvore, comemorado no dia 21 de setembro, a Semmas divulgou que plantou dez mil mudas de árvores em 61 logradouros públicos de diversas zonas da cidade. O plano vai manter as ações de plantio até dezembro, com a estimativa de plantar pelo menos mais cinco mil mudas em logradouros públicos: corredores viários, praças e áreas verdes degradadas.
“A iniciativa é válida de plantios de mudas. O que falta é continuidade e sistematização. Por exemplo, na Avenida das Torres você tem uma arborização que foi colocada no meio do canteiro e já está dando certo, mas tem árvores na borda da via. Toda via que fosse projetada teria que ter um calçamento mais amplo do que o comum para poder se colocar árvores nas calçadas, mas que não impedisse a livre circulação. A cultura aqui é simplesmente abrir a rua, asfaltar e pronto. Não há uma política de arborização acompanhada e é o nosso grande erro”, avaliou o pesquisador Marcos Castro.
Riscos – Manaus tem aproximadamente 500 áreas verdes catalogadas. Atualmente, na capital há dez unidades de conservação sob gestão da prefeitura do município, sendo seis são APAS (Áreas de Proteção Ambiental), dois parques: Parque do Mindu e Parque Nascente do Mindu, Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé, além do Refúgio Sauim Castanheira.
“Temos na Semmas catalogadas aproximadamente 500 áreas verdes. Porém, sabemos que existem muito mais. O Implurb [Instituto Municipal de Planejamento Urbano] estava fazendo esse levantamento dessas áreas, pois loteamentos antigos. Não temos um levantamento atualizado de áreas verdes da cidade porque aprovação da criação é do Implurb. Por mais venha para nossa gestão depois”, explicou o diretor de Áreas Protegidas, da Semmas, Márcio Bentes.
A cidade ainda tem dois corredores ecológicos do Mindu e da Cachoeira Alta do Tarumã, que não são unidades de conservação, mas são áreas protegidas. De acordo com Márcio Bentes, os corredores deveriam interligar áreas vegetadas para preservação de plantas e animais, mas na prática ainda não tem a função estabelecida porque não conectam essas áreas.
Segundo a Semmas, juntos, áreas verdes, corredores ecológicos e unidades de conservações correspondem a 4,5% do território de Manaus. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade não tem levantamentos sobre áreas de floresta preservadas. “Não temos esse dado e, inclusive, ele é difícil de obter porque áreas de floresta não significa área preservada, pois ainda existem áreas que existe vegetação e floresta em áreas particulares e são passiveis legalmente de destruição e não são protegidas”, justificou o diretor de Áreas Protegidas da Semmas.
Mesmo legalmente protegidas de destruição, a realidade das áreas protegidas demonstra situação de risco. A maioria delas não possui qualquer tipo de proteção ou isolamento, ficando vulneráveis ao crescimento populacional, ao avanço das construções irregulares, ao desmatamento e à poluição. Esses são alguns dos fatores que ameaçam as áreas verdes de Manaus. As ocupações irregulares das áreas têm causado danos e provocado à destruição da flora e, consequentemente, da fauna em áreas de mata na cidade.
“As nossas unidades de conservação têm mais controle sobre isso. Já nas áreas verdes em Manaus pela falta de política pública, principalmente, no passado muitas delas foram invadidas. As que restaram hoje são utilizadas de maneira inadequada, como lixeira viciada. Por falta de atuação no passado essas áreas acontecendo isso”, afirmou Márcio Bentes.
Para tentar minimizar as degradações ambientais, a Prefeitura de Manaus tem realizado ações no Projeto Espaço Verde na Comunidade. A iniciativa busca o engajamento da população na preservação das áreas verdes. O projeto nasceu da necessidade de instituição de uma política pública de gestão ambiental voltada para a conservação e valorização das áreas verdes de loteamentos habitacionais com projetos aprovados pelo município. O Campo Dourado, na Zona Norte, foi a primeira área alvo da ação em 2015 e é a experiência-piloto do projeto.
“A gente junto com a comunidade vem desenvolvendo atividades para revitalizar essas áreas. Primeiro a gente mobiliza a comunidade e ela dando retorno positivo em querer cuidar daquela área junto conosco, começamos a desenvolver um trabalho mais efetivo naquela área verde. A exemplo disso a gente revitalizou uma área verde na Cidade Nova, no Campo Dourado. Colocamos equipamentos de uso comunitário.
Colocamos outras duas no Águas Claras e estamos revitalizando agora no Parque do Mindu. Fazemos isso com recursos de compensação ambiental em parceria com as empresas. Esse é um projeto nosso, que está em andamento nessa gestão. Pedimos apoio das comunidades e vamos fazendo atividades recuperação delas. Sabemos que precisamos envolver a população do entorno dessas áreas para nos ajudar a cuidar delas”, destacou o diretor de Áreas Protegidas. (Fonte: G1)