Os governos devem redobrar “urgentemente” os esforços para diminuir as emissões de gases do efeito estufa a fim de minimizar as “perigosas” consequências da mudança climática, segundo um relatório divulgado nesta quinta-feira em Londres pela Agência das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Às vésperas da entrada em vigor do Acordo de Paris, a Agência advertiu neste documento que antes de 2030 essas emissões excederão em mais de 25% os níveis necessários para manter o aquecimento global abaixo do limite crucial de 2 graus centígrados.
Se não ocorrer uma pronta redução desses gases “nocivos”, o planeta experimentará previsivelmente um aumento em sua temperatura média global de entre 2,9 e 3,4 graus centígrados, embora sejam implementadas em sua totalidade os compromissos pactados no Acordo de Paris.
Nele, os 195 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e a União Europeia se comprometeram a pôr em prática medidas desenhadas para evitar que a temperatura global ultrapasse em 2 graus centígrados os limites pré-industriais.
“Deixem me recordar aqui que se trata do futuro do planeta Terra e dos seres humanos; que falamos do futuro da humanidade”, ressaltou hoje na apresentação desse documento Erik Solheim, responsável de meio ambiente da ONU.
Em um apaixonado discurso, o norueguês considerou que por causa das conclusões do citado relatório, ficou evidente que os governos se movimentam “na direção correta”, apesar de “ainda ser necessário acelerar essa tendência” pelo futuro do planeta.
“Não estamos nos movimentando com a suficiente rapidez”, alertou Solheim, que nomeou como “elementos-chave” na luta contra os efeitos do aquecimento global “a ação cidadã, a liderança política e as iniciativas do setor privado”.
Entre os fatos divulgados no exaustivo relatório, indica que para 2030 as emissões alcançarão entre 54 e 56 gigatoneladas do equivalente a dióxido de carbono, muito acima do nível fixado em 42 necessário para poder limitar o aquecimento global a esses 2 graus centígrados neste século.
A PNUMA esclarece que uma gigatonelada equivaleria aproximadamente às emissões geradas pelos meios de transporte de toda a União Europeia (incluindo a aviação) ao longo de todo um ano.
Segundo os cientistas, limitar o aquecimento global abaixo de 2 graus centígrados reduziria a probabilidade de ocorrer fenômenos climatológicos extremos, como tempestades mais intensas, períodos de seca mais longos, aumentos no nível do mar e outros impactos “graves” derivados da mudança climática.
Em comunicado divulgado pela PNUMA, Solheim antecipa que o Acordo de Paris “desacelerará a mudança climática, como fará a recente emenda Kigali a fim de reduzir os hidrofluorcarbonetos (HFCs)” mas enfatiza ao mesmo tempo a necessidade de “fazer mais, mais rápido”.
Nessa emenda foi acordado reduzir progressivamente o uso dos HFCs, os gases usados em frigoríficos e aparatos de ar condicionado, considerados muito nocivos para o clima.
“Se não começarmos a adotar medidas adicionais agora, começando pelo próximo encontro sobre clima em Marrakech (Marrocos), lamentaremos a evitável tragédia humana”, disse.
O relatório remarca que a necessidade de adotar medidas urgentes ficou evidente quando 2015 foi considerado o ano mais quente desde que são registrados estes dados, uma tendência que continua, pois a primeira metade de 2016 foi considerada o semestre mais cálido.
Além disso, observa que apesar de membros do G20 “provavelmente” cumprirem coletivamente com os compromissos climáticos fixados em Cancún (México) em 2010, estes “não reportarão as reduções necessárias” para evitar ultrapassar o umbral dos 2 graus.
O documento ressalta também a importância de atores não estatais, como o setor privado e a cidadania, na hora de contribuir para cortar várias gigatoneladas da brecha entre os compromissos adquiridos e os níveis necessários para limitar o aumento da temperatura antes de 2030, em áreas como a agricultura e o transporte. (Fonte: Terra)