Mutirão faz plantio de mangue no Maranhão

Comunitários da Reserva Extrativista (Resex) Marinha do Delta do Parnaíba, localizada nos estados do Piauí e Maranhão, promoveram ação para a recuperação de uma área de manguezal degradada, às margens do Igarapé do Galego, próximo à comunidade de Canárias – Araioses (MA). O plantio de 1,5 mil mudas de mangue manso, siriba e vermelho aconteceu no dia 21 de março, envolveu 50 extrativistas e é o primeiro de uma série programada para o ano.

A atividade faz parte de uma iniciativa da comunidade em recuperar áreas de manguezal nos limites da Resex e conta com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), das organizações não governamentais Comissão Ilha Ativa e Rare e da Universidade Federal do Piauí.

“Iniciativas de recuperação do mangue como esta devem ser fortalecidas e ampliadas”, defendeu o ministro Sarney Filho. “O Programa Bolsa Verde é um incentivo para que as famílias contribuam com a conservação do meio ambiente. Por isso, o considero um programa prioritário no MMA”, afirmou.

O líder comunitário Francisco das Chagas Rodrigues, que participa do Grupo de Assessoramento Técnico do Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas e de Importância Socioeconômica do Ecossistema Manguezal (PAN Manguezal), foi o idealizador da iniciativa de plantio. Em suas andanças pelas ilhas do delta, constatou uma grande parte de lama nua, sem vegetação, nos manguezais.

“Falei com as mulheres da comunidade que recebem o Bolsa Verde e propus o seguinte: vocês estão ganhando esse dinheiro e precisam dar um retorno. Então, venham plantar comigo. E elas toparam. Onde tiver terra nua, vamos plantar”, contou.

Francisco é morador do município de Água Doce (MA) e colhe as sementes no manguezal para produzir as mudas por conta própria. “É a minha missão e toda ajuda é bem-vinda. Precisamos de mais e mais apoio”, solicitou. Ele disse que as maiores causas do desmatamento do mangue, anteriores à criação da Resex no ano 2000, foram as plantações de arroz e as salinas.

Mutirão – A proposta é que os beneficiários do Bolsa Verde do Delta do Parnaíba se reúnam periodicamente para tratar das ações de recuperação do manguezal. Maria do Carmo Silva Pereira, da Ilha de Canárias, foi voluntária no primeiro mutirão de plantio. “As pessoas não veem o quanto é importante plantar! Estamos replantando o mangue para que, no futuro, todas as pessoas da comunidade, e os turistas, vejam como é linda a paisagem da nossa ilha”, afirmou.

A maioria das 2,9 mil famílias da Resex vivem da pesca artesanal e especialmente da cata de caranguejos. O objetivo do MMA é que o Bolsa Verde, mais do que complementar a renda, seja um estímulo à preservação do ecossistema. A gestora da Resex, Tatiana Rehder, destacou a importância dos encontros com a comunidade não apenas pela recuperação da área, mas para a sensibilização e mobilização sobre a importância do protagonismo dos extrativistas no cuidado com o seu território. “Depois de ações como essa, a comunidade fica mais envolvida. Já querem saber quando será o próximo mutirão! Isso traz um ânimo para a comunidade”, disse.

Tatiana Rehder contou que o ICMBio sempre esclarece os objetivos do programa Bolsa Verde junto aos extrativistas. “Recuperar as áreas é fundamental para a manutenção dos recursos naturais e o seu uso sustentável. A proposta do programa inclui fortalecer a inserção produtiva das famílias beneficiárias da Resex, melhorando a renda e a sustentabilidade das atividades extrativistas”, explicou.

Delta – O Delta do Parnaíba faz a divisão entre os estados do Maranhão e do Piauí e é o único delta das Américas que desagua em mar aberto. São cinco desembocaduras do rio no mar que formam 90 ilhas – um mosaico de ecossistemas de alta relevância ambiental, com uma rica e complexa diversidade biológica e genética, caracterizada por manguezais, restingas, caatinga litorânea, carnaubais, dunas, praias e lagoas, que abrigam uma fauna rica e diversificada. Algumas espécies estão ameaçadas de extinção, como o peixe-boi marinho, tartarugas marinhas, cavalo marinho, o guariba e aves costeiras migratórias e residentes.

Toda essa riqueza justifica a inserção da região do Delta do Rio Parnaíba em três unidades de conservação. Na esfera estadual, está a Área de Proteção Ambiental (APA) da Foz do Rio Preguiças/Pequenos Lençóis e a Região Lagunar Adjacente; na esfera federal, a APA de 307,5 mil hectares, desde 1996, no litoral dos estados do Maranhão, Ceará e Piauí; e a Resex, criada no ano 2000, com 27 mil hectares. Resex são unidades de conservação de uso sustentável criadas em lugares onde existe uma população tradicional que vive dos recursos naturais e que se torna parceira na conservação.

Caranguejo – No âmbito do Projeto Manguezais do Brasil, representantes de catadores de caranguejo de 15 comunidades da APA e da Resex se reunirão com compradores, pesquisadores da UFPI, Embrapa, Fundação Emilio Goeldi e Sebrae para a aprovação final do Plano de Gestão do Caranguejo Uça. “Foram 60 oficinas comunitárias para construir uma estratégia de como melhorar a cata do famoso caranguejo do Delta”, contou a gestora da Resex, Tatiana Rehder.

Entre as ações definidas pelos catadores, estão: áreas de exclusão da cata, para recuperação ambiental; aumento do tamanho mínimo permitido para a cata do caranguejo; e ações de capacitações e fortalecimento comunitário.

Bolsa Verde – O Ministério do Meio Ambiente (MMA) é o órgão responsável por coordenar, executar e operacionalizar o Bolsa Verde, programa que apoia a superação da pobreza em unidades de conservação de uso sustentável, projetos de assentamento e outras áreas rurais, incentivando a conservação do meio ambiente e valorizando as comunidades que ajudam a manter a floresta em pé.

O programa concede R$ 300, de três em três meses, a famílias em situação de extrema pobreza que desenvolvam atividades de conservação de recursos naturais no meio rural. Para poder ter acesso ao Programa, a renda per capita familiar deve ser de até R$ 85. (Fonte: MMA)