Pesquisadores acreditavam que o fenômeno El Niño, que move a água marinha para o leste do Pacífico, diminuiu o nível do mar, sendo culpado por matar de sede 40 milhões de manguezais em 2015. Porém, descobriu-se agora que o trágico evento foi impulsionado também pela oscilação da órbita da Lua.
Essa conclusão inesperada está em um estudo publicado em 14 de setembro na revista Science Advances. O episódio fatal — considerado a maior morte de um ecossistema de mangue no mundo — ocorreu ao longo de mil quilômetros de costa no Golfo de Carpentaria, na Austrália.
Para reavaliarem o que ocorreu, os autores da pesquisa examinaram imagens de satélite de 1987 a 2020, notando evidências claras de que a oscilação orbital da Lua contribuiu para os óbitos das árvores, que ficaram com as raízes ressecadas.
Os manguezais, não por acaso, tinham um ciclo de crescimento e morte na mesma escala de tempo da oscilação orbital do satélite. O fenômeno que faz a órbita da Lua oscilar é conhecido desde 1728 e acontece pois o astro não gira de modo plano, mas inclinado. Com isso, o ciclo lunar é de 18,6 anos terrestres — metade dos quais as marés são suprimidas, sendo elevadas no outro restante do tempo.
“Quando analisamos detalhadamente o momento dos picos e vales do ciclo lunar, ele combinou perfeitamente com as mudanças na cobertura do dossel de mangue – um daqueles momentos ‘Eureka!’ que você tem algumas vezes em sua carreira”, relata Neil Saintilan, autor principal da pesquisa, ao site Science Alert.
Contudo, em artigo ao site The Conversation, o pesquisador afirma que os mangues em outros lugares também deveriam ter sido atingidos: as mortes foram em grande parte só no Golfo de Carpentaria. Isso sugere que, embora o El Niño possa ter contribuído com a tragédia no ecossistema, a oscilação orbital da Lua também teve muita influência, pois ela muda a forma como a gravidade lunar atrai os oceanos do mundo.
Quando as marés estão mais altas, a água inunda os manguezais e traz nutrientes, que aceleram o crescimento. Mas quando estão mais baixas, as árvores não conseguem a água de que precisam. Ao longo de 2015 e 2016, a oscilação orbital lunar reduziu o alcance das marés no Golfo de Carpentaria em cerca de 40 cm.
Segundo o pesquisador, as costas do norte próximas ao golfo estavam na fase de maré grande e alta produtividade do ciclo de 18,6 anos, logo, estavam protegidas do El Niño. Porém, no próprio Golfo de Carpentaria, a fase de maré baixa do ciclo de oscilação combinou-se com o fenômeno atmosférico-oceânico. “Níveis mais baixos do mar e amplitudes de maré mais baixas empurraram os manguezais para o limite”, concluiu.
Fonte: Galileu