Oscilação lunar pode ter contribuído para maior morte de mangue do mundo

Estudo mostra que, não apenas o El Niño, mas também as mudanças orbitais do satélite impulsionaram óbitos de árvores na costa do Golfo de Carpentaria, na Austrália

Imagens aéreas de morte de mangue no Golfo de Carpentária em meados de 2016 (Foto: Professor Norm Duke/James Cook University)

Pesquisadores acreditavam que o fenômeno El Niño, que move a água marinha para o leste do Pacífico, diminuiu o nível do mar, sendo culpado por matar de sede 40 milhões de manguezais em 2015. Porém, descobriu-se agora que o trágico evento foi impulsionado também pela oscilação da órbita da Lua.

Essa conclusão inesperada está em um estudo publicado em 14 de setembro na revista Science Advances. O episódio fatal — considerado a maior morte de um ecossistema de mangue no mundo — ocorreu ao longo de mil quilômetros de costa no Golfo de Carpentaria, na Austrália.

Para reavaliarem o que ocorreu, os autores da pesquisa examinaram imagens de satélite de 1987 a 2020, notando evidências claras de que a oscilação orbital da Lua contribuiu para os óbitos das árvores, que ficaram com as raízes ressecadas.

Os manguezais, não por acaso, tinham um ciclo de crescimento e morte na mesma escala de tempo da oscilação orbital do satélite. O fenômeno que faz a órbita da Lua oscilar é conhecido desde 1728 e acontece pois o astro não gira de modo plano, mas inclinado. Com isso, o ciclo lunar é de 18,6 anos terrestres — metade dos quais as marés são suprimidas, sendo elevadas no outro restante do tempo.

“Quando analisamos detalhadamente o momento dos picos e vales do ciclo lunar, ele combinou perfeitamente com as mudanças na cobertura do dossel de mangue – um daqueles momentos ‘Eureka!’ que você tem algumas vezes em sua carreira”, relata Neil Saintilan, autor principal da pesquisa, ao site Science Alert.

Morte de mangue no Golfo de Carpentária em 2016 (Foto: James Cook University )

Contudo, em artigo ao site The Conversation, o pesquisador afirma que os mangues em outros lugares também deveriam ter sido atingidos: as mortes foram em grande parte só no Golfo de Carpentaria. Isso sugere que, embora o El Niño possa ter contribuído com a tragédia no ecossistema, a oscilação orbital da Lua também teve muita influência, pois ela muda a forma como a gravidade lunar atrai os oceanos do mundo.

Quando as marés estão mais altas, a água inunda os manguezais e traz nutrientes, que aceleram o crescimento. Mas quando estão mais baixas, as árvores não conseguem a água de que precisam. Ao longo de 2015 e 2016, a oscilação orbital lunar reduziu o alcance das marés no Golfo de Carpentaria em cerca de 40 cm.

Segundo o pesquisador, as costas do norte próximas ao golfo estavam na fase de maré grande e alta produtividade do ciclo de 18,6 anos, logo, estavam protegidas do El Niño. Porém, no próprio Golfo de Carpentaria, a fase de maré baixa do ciclo de oscilação combinou-se com o fenômeno atmosférico-oceânico. “Níveis mais baixos do mar e amplitudes de maré mais baixas empurraram os manguezais para o limite”, concluiu. 

Fonte: Galileu