Animal ‘mais estranho já descoberto’ por Darwin encontra uma família

O naturalista britânico Charles Darwin, arquiteto da teoria da evolução, não sabia o que fazer com os fósseis que viu na Patagônia, então os enviou para seu amigo e renomado paleontologista Richard Owen. Ele também ficou perplexo.

“Os ossos tinham uma aparência diferente de tudo que ele conhecia”, disse Michael Hofreiter, autor sênior de um estudo publicado na terça-feira (27) na revista científica “Nature Communications”, que finalmente situa na árvore da vida o que Darwin chamou de “animal mais estranho já descoberto”.

“Imagine um camelo sem uma corcunda, com pés como os de um rinoceronte esbelto e uma cabeça no formato da de uma saiga (antílope)”, disse Hofreiter, professor da Universidade de Potsdam, na Alemanha, à AFP.

A Macrauchenia patachonica – literalmente, “lhama de pescoço comprido” – também tinha um longo focinho elástico e as narinas acima dos olhos.

Durante quase dois séculos, biólogos e taxonomistas discutiram sobre a linhagem desta besta bizarra, que pesava de 400 a 500 quilos, morava em paisagens abertas e comia grama e folhas.

Mas a escassez de evidências de DNA tornou quase impossível determinar se a M. patachonica estava verdadeiramente relacionada com a lhama.

Um novo tipo de análise genética revelou que a macrauquênia era mais parecida com uma antiga ordem conhecida como perissodáctilos, que inclui cavalos, rinocerontes e antas.

“Tínhamos um problema difícil de resolver aqui”, disse o autor principal do novo estudo, Michael Westbury, também na Universidade de Potsdam. “Quando o DNA antigo está tão degradado e cheio de DNA ambiental indesejável, confiamos em poder usar os genomas de parentes próximos, (que funcionam) como um tipo de andaime para reconstruir as sequências fósseis”, disse em um comunicado.

Mas a macrauquênia, um beco sem saída evolutivo, não tinha parentes próximos que conhecemos.

Para resolver o quebra-cabeça, Westbury e uma equipe de 20 cientistas usaram DNA mitocondrial extraído de um fóssil encontrado no sul do Chile para decodificar as origens do mamífero extinto.

Herdado apenas da mãe, o DNA mitocondrial é menor e tem mais cópias na célula – e, portanto, em fósseis – do que o DNA do genoma nuclear, mais complexo, explicou Hofreiter. “O DNA mitocondrial é muito útil para avaliar o grau de parentesco entre as espécies”, disse.

A equipe eventualmente reuniu quase 80% do genoma total, possibilitando situar a macrauquênia em uma linha do tempo evolutiva.

A linhagem da criatura, concluíram, se separou da dos perissodáctilos modernos há cerca de 66 milhões de anos, aproximadamente ao mesmo tempo em que um asteroide maciço bateu na Terra e eliminou os dinossauros.

A macrauquênia sobreviveu até o Pleistoceno superior, entre 20.000 e 11.000 anos atrás. “Por que desapareceu, nós realmente não sabemos – ainda é uma questão em aberto se foram os humanos, as mudanças climáticas ou uma combinação dos dois”, disse Hofreiter. (Fonte: G1)