O México mal havia começado a lidar com as consequências de um grande terremoto quando outro atingiu o país. Logo as pessoas naturalmente se perguntam: eles estão relacionados? Será que um causou o outro?
Sismólogos vão passar um bom tempo debatendo essa questão nos próximos meses, mas no momento os tremores não parecem conectados.
O sismo de magnitude 8,1 de 7 de setembro certamente atingiu uma região paralela à fronteira tectônica, mas o hipocentro – o ponto de origem dentro da Terra – estava a 650 km do terremoto desta terça-feira, de magnitude 7,1.
Se o segundo terremoto fosse um abalo sísmico secundário, a proximidade entre eles seria maior, dentro de 100 km, dizem sismólogos. Mas essa conclusão não é definitiva, e os cientistas estão avaliando os dados conforme aparecem. Talvez eles identifiquem uma maneira de transferência de pressão na crosta terrestre.
O que com certeza relaciona os dois abalos é a causa. O México está sobre três grandes placas tectônicas – os dois últimos terremotos aconteceram no ponto onde a placa Cocos, que sustenta o solo do Oceano Pacífico, submergiu sob a placa Norte Americana, que sustenta boa parte do território mexicano.
A placa de Cocos está convergindo em uma proporção de cerca de 75 milímetros ao ano e produz uma espécie de dobra ao descer, fazendo um movimento íngreme para baixo antes de voltar à posição plana e então voltar a imergir novamente.
Esse segundo ponto de descida foi o que provocou o terremoto de terça-feira, a algumas dezenas de quilômetros abaixo.
Preparos e estimativas – Hoje, modelos computacionais são usados para estimar possíveis mortes em um grande terremoto. Algumas horas após o mais recente tremor, as previsões indicaram 5 mil feridos e mais de 200 mortos. Até agora, as contagens apontam pelo menos 225 mortos.
Mas muita coisa depende da hora em que um terremoto acontece.
Se é de dia, como foi o caso, uma escola mal construída pode matar muitas crianças. A história da Enrique Rébsamen, a escola que desabou matando 32 crianças e cinco adultos no último terremoto, é um exemplo terrível disso.
O terremoto de 7 de setembro foi 30 vezes mais forte do que o último, mas a magnitude não é tudo. O acontecimento da última terça aconteceu mais próximo a áreas mais povoadas e à Cidade do México, e impactou um centro urbano que fica em terrenos irregulares, que amplificam o tremor.
O preparo para a situação teria diminuído o número de mortes. O México é um dos lugares de maior atividade sísmica do planeta e deveria ter aprendido com a enorme devastação que sofreu em 1985 quando um terremoto de magnitude 8 matou 10 mil pessoas e deixou outras 30 mil feridas. O aniversário de 32 anos desse acontecimento foi na terça-feira, o mesmo dia do novo terremoto.
Um resultado dessa tragédia foi o estabelecimento de um sistema de aviso com antecedência – o Sistema de Alerta Sísmico Mexicano (SASMEX). Foi o primeiro do mundo.
O sistema usa uma rede de sensores capazes de captar a chegada de ondas sísmicas rápidas de um terremoto (as chamadas ondas P) antes de outras ondas ainda mais lentas e prejudiciais (as chamadas ondas S).
O aviso, dependendo da distância da origem do terremoto, pode vir poucos segundos antes, mas ainda assim há tempo suficiente para colocar em prática alguns treinamentos, como o Tírese, Cúbrase y Agárrese (“Abaixe-se, cubra-se e segure-se”, em português).
Há vídeos na internet que mostram pessoas fazendo exatamente isso. Em outras palavras, o aviso deu tempo até de algumas pessoas ligarem a câmera de seus celulares.
Há também pessoas sugerindo que alguns mexicanos ignoraram o aviso porque houve um treinamento simulando alarmes e sirenes mais cedo no mesmo dia – o que sempre acontece nos aniversários do terremoto de 1985. Contudo, muitas outras reagiram de maneira rápida e esperta porque sua consciência sobre o perigo aumentou depois do tremor de 7 de setembro. (Fonte: Terra)