Oprimeiro filhote do mutum-de-alagoas nascido em um cativeiro do estado de São Paulo está adaptado ao novo lar e deve ser reintroduzido à natureza em breve. O filhote nasceu em criadouro que existe há 7 anos em Borá (SP) e trabalha com a preservação de várias espécies.
O criadouro, que faz parte de um projeto nacional de preservação do mutum-de-alagoas, recebeu em setembro do ano passado seis casais da espécie, que é nativa da Mata Atlântica e vivia nas áreas próximas à foz do Rio São Francisco.
No criadouro, as aves vivem em um ambiente preparado para ser o mais semelhante possível do habitat natural delas mas, por enquanto, somente um dos casais conseguiu se reproduzir.
E por pouco esse filhote não foi perdido, como conta a bióloga Erica Coriolano.
“Ela acabou botando ovo do alto do bebedouro e a chance de ter quebrado era grande. Foi uma correria pra levar pra chocadeira. Passou 5 dias e a gente viu que tava embrionado, mas foi um sufoco de esperar os trinta dias”, conta a bióloga, contente com o resultado.
O ovo ficou em uma chocadeira, com a temperatura e a umidade ideais para o desenvolvimento da ave.
De acordo com a bióloga, foram quase sete anos de pesquisa para chegada do filhote. O macho e a fêmea vieram de Minas Gerais para tentar a reprodução no criadouro de Borá.
Crescido, o mutum-do-alagoas veio para o viveiro há quatro meses e, segundo a equipe, adaptou-se perfeitamente. O animal deve permanecer no recinto até os dez meses de idade, quando deverá ser levado ao habitat natural da espécie para ser introduzido a natureza.
O novo filhote convive harmoniosamente com outras aves e é assistido de perto pela equipe do criadouro. “O mutum é uma espécie ‘guarda-chuva’. Você preservando o mutum você também preserva outras espécies de aves também, de fauna, de flora, porque ele é dispersor de sementes”, completa Coriolano.
Mutum na natureza – Os primeiros registros da ave que se tem conhecimento foram feitos pelo pesquisador alemão George Marcgrave, no século 18, quando veio ao Brasil durante o período da invasão holandesa. A beleza e o tamanho do Mutum chamaram a atenção do expedicionário. Só que a caça predatória e o desmatamento para o plantio de cana são apontados como os principais motivos para a sua quase extinção.
Depois, somente em 1951, o ornitólogo Olivério Pinto redescobriu o mutum em suas andanças em solo alagoano. Já na década de 1970, o engenheiro Pedro Nardelli esteve em Alagoas com a missão de encontrar a ave. Somente em 1981, ele conseguiu êxito em sua busca e levou seis exemplares para um criadouro particular no Rio de Janeiro. De lá, a ave foi levado para criadores particulares em Minas Gerais.
De acordo com a bióloga do Instituto Pauxi Mitu, atualmente existem pouco mais de 200 mutuns de Alagoas puros vivendo em criadouros, a maioria em Contagem (MG). “Dizemos puros, porque o Mutum-de-Alagoas está extinto, ele não é mais encontrado na natureza, e a recuperação da espécie começou com cruzamento com outra espécie, o mutum-cavalo, com características parecidas, pois só foram encontradas na natureza três aves do mutum, uma fêmea e dois machos e por isso foi feito o pareamento genético para fazer o cruzamento e poder salvar a espécie. Mas, agora estamos voltando para a espécie pura, graças ao avanço dos estudos sobre DNA.”
Os esforços dos pesquisadores em recuperar a espécie tem o objetivo de promover reintrodução do mutum no seu habitat natural. A soltura do filhote e também de outras aves da espécie está programada para setembro desse ano e irá ocorrer em uma área de reserva ambiental de 978 hectares do estado de Alagoas.
Mas os casais ficam em Borá para continuidade do trabalho de preservação. “Nós estamos muito esperançosos e acreditamos no nascimento de mais filhotes. É um trabalho muito gratificante acompanhar tudo isso desde o comecinho, o ovo e o filhote se desenvolvendo nele, o nascimento e depois a possibilidade de reintroduzir na natureza uma espécie em extinção”, ressalta Erica.
No criadouro também existem trabalho de recuperação de outras espécies ameaçadas, como o papagaio rodocotita. E a maioria das aves mantidas no instituto vem de apreensões feitas pela Polícia Ambiental em cativeiros irregulares. (Fonte: G1)