Pouco antes das negociações sobre mudanças climáticas começarem na 23ª Conferência do Clima (COP23) em Bonn, na Alemanha, a ONU alertou que as últimas projeções de aquecimento global apontam uma elevação de 3,2ºC até 2100 – muito acima do objetivo de limitar o aumento da temperatura entre 1,5ºC e 2ºC.
Mas, por trás dos números, quais seriam as consequências de um mundo mais quente? Como diz o próprio nome, o aquecimento global ocorrerá no mundo inteiro, mas os impactos irão variar de um lugar para outro. A DW mostra o que um aumento de 3ºC significaria para cinco cidades mundo afora:
Se a temperatura global aumentar 3ºC, o futuro de Nova Orleans será incerto. A relação entre as mudanças climáticas e tempestades está apenas começando a ser entendida, mas o aumento do nível do mar e temperaturas da superfície dos oceanos mais quentes sugerem que a cidade provavelmente experimentará mais eventos meteorológicos semelhantes ao furacão Katrina até o fim do século.
A temporada de furacões excepcionalmente hiperativa em 2017 pode ser um prenúncio preocupante dos eventos climáticos que estão por vir. De acordo com Bridget Tydor, urbanista do Conselho de Esgoto e Água de Nova Orleans (SWBNO), a cidade americana está trabalhando duro na manutenção de diques e no preparo para a remoção de um grande número de pessoas, se necessário.
“Como vimos e aprendemos, a proteção ou mitigação contra desastres não é a única parte do quebra-cabeça”, afirma Tydor, que também é membro da delegação americana da Governos Locais por Sustentabilidade (ICLEI) dos EUA que foi à 23ª Conferência do Clima, em Bonn. “Nós também temos que nos adaptar e ter construções e infraestrutura mais sustentáveis para suportar eventos de chuva mais intensos ou até furações.”
Paris, França: ondas de calor e poluição
Um aumento de temperatura de 3ºC tornaria as ondas de calor mais comuns – inclusive no local de nascimento do Acordo de Paris. Um estudo recente da World Weather Attribution (WWA) sugere que temperaturas de mais de 40ºC no verão poderiam ser a norma em toda a Europa até 2050.
Grandes cidades como Paris também têm que lidar com a poluição do ar, que é acentuada por ondas de calor prolongadas – e vice-versa. Um estudo de 2017 aponta que, combinadas, ondas de calor e partículas de poluição agravam umas as outras, representando um risco significativo para a saúde humana.
Não precisamos esperar até o fim do século para ver o impacto do tempo quente nos centros urbanos. A França foi especialmente atingida pela onda de calor europeia em 2003, quando Paris registrou uma série de mortes. Mais recentemente, a onda de calor Lúcifer causou calor excessivo no sul da Europa. Paris já está tentando lidar com um futuro mais quente, começando pela proibição de veículos a diesel no centro da cidade, que deve entrar em vigor em 2030.
Cidade do Cabo, África do Sul: seca
À medida que as temperaturas aumentam, o risco de seca segue o mesmo caminho – não apenas nas regiões naturalmente áridas, mas também nas que dependem de chuvas sazonais. A Cidade do Cabo está atualmente em meio à sua pior seca em 100 anos.
Johannes Van Der Merwe, membro do comitê de finanças da prefeitura da cidade na COP23, afirma que a cidade está respondendo à crise atual construindo mais aquíferos e estações de dessalinização, além de restringir o uso da água. Porém, a cidade precisará se adaptar no longo prazo à escassez de água.
“Quando parti da Cidade do Cabo, há cerca de uma semana, os níveis das barragens estavam em 38%”, afirmou Van Der Merwe. “Muitas vezes falamos que [esse patamar] é o ‘novo normal’.”
A crescente população da cidade só tornará as coisas mais difíceis. Atualmente, a região metropolitana da Cidade do Cabo tem 3,7 milhões de habitantes, mas a população está crescendo 3% ao ano. “Você pode ser uma cidade bem governada e segura, mas, se não houver água, então você tem um problema”, frisa Van Der Merwe.
Daca, Bangladesh: aumento do nível do mar
Com uma população de 14,4 milhões de pessoas, Daca é a quarta cidade mais densamente povoada do mundo – e um dos lugares mais vulneráveis ao aumento do nível do mar.
Um aumento da temperatura média global de 3ºC faria com que o nível dos oceanos aumentasse de dois a quatro metros nos próximos três séculos. Mas uma análise de 2013 mostra que as marés em Bangladesh estão aumentando pelo menos dez vezes mais rápido que a média mundial, o que deve significar um aumento de quatro metros em 2100. Isso faria com que ao menos 15 milhões de pessoas deixassem áreas rurais mais baixas e se mudassem para cidades como Daca.
Muthukumara S. Mani, economista do departamento de desenvolvimento sustentável para o Sul da Ásia do Banco Mundial, identificou áreas que se tornarão “pontos cruciais” de mudanças climáticas nas próximas décadas.
“Definitivamente, Daca é muito vulnerável às mudanças climáticas e precisa estar preparada”, afirmou Mani à DW.
“O que acontecerá em Daca também dependerá muito do que acontecerá em outros lugares de Bangladesh. Se as coisas começarem a piorar, as pessoas começarão a migrar para Daca, e isso vai piorar a situação”, frisou a especialista.
Daca está situada apenas quatro metros acima do nível do mar, e altas taxas de pobreza significam que a cidade tem capacidade limitada para se adaptar às mudanças climáticas.
“É difícil planejar com antecedência, considerando os recursos limitados que o governo tem agora”, afirma Mani.
Norilsk, Rússia: derretimento do permafrost
O derretimento do permafrost é um sintoma frequentemente ignorado das mudanças climáticas, mas seus impactos já estão sendo sentidos em algumas cidades do mundo localizadas mais ao norte.
Um estudo de 2016 aponta que cidades na Sibéria construídas sobre o permafrost – solo ou sedimento congelado por mais de dois anos consecutivos – estão em perigo de, literalmente, entrar em colapso devido ao aquecimento global.
Norilsk, na Rússia – a cidade mais ao norte do mundo e que tem uma população de mais de 100 mil habitantes – está situada em uma zona de permafrost contínua. Estudos demonstraram que as temperaturas na Rússia ártica estão aumentando mais rapidamente que no resto do mundo.
No ritmo atual, pode ser que os edifícios em Norilsk consigam suportar de 75% a 95% menos peso até os anos 2040. Os moradores já estão relatando um aumento súbito de danos e rachaduras nos prédios à medida que o solo sobre eles se descongela.
Fonte: Deutsche Welle