Discutir água significa discutir saúde, alimento, bem-estar e o cuidado com o meio ambiente; significa discutir quais os modelos que nós vamos abraçar enquanto País. A afirmação da pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) e coordenadora de Extensão da instituição, Rita Mesquita, na abertura do VI Workshop de Tecnologia Social, evento integrado ao III Seminário das Águas da Amazônia do Centro de Projetos e Estudos Ambientais do Amazonas (Cepeam).
Neste ano, o evento conjunto traz como tema “Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Desenvolvimento Social na Amazônia. O evento acontece durante dois dias até esta terça-feira, no auditório do Instituto Soka-Cepeam, que fica na Rua Desembargador Anísio Jobim, 980, Colônia Antônio Aleixo, zona Leste de Manaus. Para hoje (28) a programação conta com visita de campo para a coleta de água, resultado da avaliação da qualidade ambiental e minicurso de gestão das águas.
Há 20 anos, o Brasil sancionou a Lei das Águas (Lei nº 9.433), que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e trouxe a questão da água para o patamar mais alto nas prioridades das políticas públicas nacionais. Em 2017, o problema número um de saúde na Amazônia continua sendo doenças de veiculações hídricas, segundo a coordenadora de extensão do Inpa, Rita Mesquita.
No Amazonas, como foi levantado por Mesquita, que compôs a Mesa de Abertura, a população vive um momento de grande preocupação com relação aos garimpos e à mineração na região. “Isso é um alerta pra gente. Nós aqui estamos consumindo os peixes que vêm dessas bacias e entram nas nossas casas”, diz ao acrescentar que se engana quem pensa que seja algo distante e que afeta exclusivamente às populações tradicionais da Amazônia profunda.
Há, no momento, uma grande operação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no sul do Amazonas para tentar resolver essa questão da poluição e contaminação das águas, que acaba se espalhando e distribuindo-se por toda cadeia.
Segundo Mesquita, a questão passa pela maneira que estamos tratando as águas. “Todos nós estamos sujeitos a esses impactos e temos a responsabilidade de refletir sobre como estamos tratando os nossos recursos”, ressalta.
Somando-se à mesa redonda, que foi composta pelas pesquisadoras Rita Mesquita e Denise Gutierrez, ambas do Inpa, e pelo engenheiro ambiental do Instituto Soka-Cepeam, Jean Leão, o evento contou ainda com a palestra da pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Débora Rodrigues. A palestrante trouxe uma dimensão do conhecimento tradicional, das formas de proteção e dos impasses com relação a políticas públicas na área.
Tecnologias Sociais
Outro recurso em pauta do VI Workshop são as tecnologias sociais. Contrapondo-se aos materiais de ponta e aos desenvolvimentos tecnológicos que resultem em materiais de grande escala (mas não no sentido de destruir ou eliminá-las), as tecnologias sociais vêm para complementar e gerar opções tecnológicas que estão acessíveis a todos nós, que são de baixo custo e de conhecimento consolidado.
Para a coordenadora de Tecnologia Social do Inpa, Denise Gutierrez, as tecnologias sociais vêm para gerar respostas efetivas para problemas concretos na vida das pessoas. “Ela não vêm para inventar a roda, e sim para usá-la de maneira inteligente. Para adequá-la apropriadamente como solução para problemas efetivos”, diz ao afirmar que muitas vezes as pessoas não sabem do que as tecnologias sociais tratam.
Atualmente o Inpa possui 25 tecnologias sociais registradas no próprio instituto. O purificador de água à base de energia solar e a criação de peixe em canais de igarapés são exemplos dessas tecnologias que já cumpriram o ciclo de amadurecimento, desenvolvimento e reaplicação. Outra tecnologia social recém encaminhada é o enriquecimento de sucos à base de farinhas feitas com a casca de frutas como a pupunha, camu-camu, cubiu. A proposta é da Dra. Francisca Sousa, tecnologista na área de alimento do Instituto.
Segundo Gutierrez, a iniciativa traz a possibilidade de fazer um preparado com essas cascas que ainda detém elevadíssimo poder nutricional e que servem para enriquecer sucos. “As pessoas não associam que isso possa ser uma tecnologia social. Isso é uma maneira de você aproveitar bem o alimento que é de fácil acesso e que normalmente vai pro lixo”, ressalta.
Tecnologia Social, para que não restem mais dúvidas, nada mais é do que melhoramento da tecnologia que já temos. “Aí você vê a confluência entre a pesquisa e o fim social, os objetivos de inclusão”, explica Gutierrez.
Lançamento livro
Para o primeiro dia de evento houve também o lançamento do livro eletrônico “Tecnologias Sociais do Inpa para a Amazônia – Uma visão Diagnóstica”, resultante de uma pesquisa realizada pela equipe da Coordenação de Tecnologia Social (Cots/Inpa). A obra tem como autora principal Denise Gutierrez e a equipe da COTS formada por Fernanda Morais, Evandro Souza, Francisco Cavalcante, Gário Florêncio e Marcel Leão.A publicação traz um relato histórico, em termos de resgatar propostas do passado, de pessoas, de grupos de pesquisa e de laboratórios mostrando o que já desenvolveram no do Inpa. “A pesquisa foi feita no período de 2012 a 2014 com dados bem relevantes para a realidade atual”, conta Gutierrez.
Fonte: Inpa