A maior crise econômica da história recente do Brasil foi uma prova de fogo para o engajamento das empresas em ações de sustentabilidade, especialmente em iniciativas ambientais. Diante de dificuldades financeiras, muitas optam por cortar investimentos em ações ambientais. Já outras fazem o contrário. Enxergam os projetos de meio ambiente como uma estratégia de sobrevivência. “A sustentabilidade é a lógica que move nosso modelo de negócio. Momentos de crise, no entanto, nos obrigam a ser ainda mais eficientes e criativos na conciliação de investimentos em inovação com as nossas metas de respeito ao meio ambiente”, diz Luciana Villa Nova, gerente de sustentabilidade da Natura. “Mesmo em meio à crise, continuamos a desenvolver ações ambientais e incentivando a condução de negócios que geram valor ao longo do tempo para todos que se relacionam conosco”, diz Denise Hills, superintendente de sustentabilidade e negócios inclusivos do Itaú Unibanco. “Investir em sustentabilidade é fundamental para a longevidade dos negócios. Crises econômicas são superadas, mas escassez de recursos naturais, como a falta de chuva e de água nos rios, causa um impacto muito maior”, disse Vando Telles, diretor executivo da Pecsa. Essas empresas estão entre as vencedoras do Prêmio ÉPOCA Empresa Verde, realizado em parceria com a consultoria PricewaterhouseCoppers (PwC).
Na décima edição do prêmio, foram analisadas 145 empresas concorrentes para chegarmos a 13 destaques, seis delas em categorias especiais. “De dez anos para cá, vimos que as empresas deixaram de perceber a relação com o meio ambiente apenas como uma boa prática para vê-la como um modo de adaptação à escassez de recursos naturais e resiliência”, diz Dominic Schmal, gerente de sustentabilidade da PwC. Os participantes foram avaliados por meio de um questionário quantitativo e qualitativo e depois selecionados por um conselho formado por José Roberto Marinho, vice-presidente do Grupo Globo (que edita ÉPOCA) e presidente da Fundação Roberto Marinho; Sergio Besserman, diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro; Luiz Gylvan Meira, professor da Universidade de São Paulo (USP); e Rachel Biderman, diretora da WRI Brasil.
PECSA – A saída para a pecuária na Amazônia
É possível aumentar os lucros da pecuária sem desmatar mais nenhuma árvore da Amazônia. É o que prova a Pecuária Sustentável da Amazônia (Pecsa), com um novo modelo de parceria para uma intensificação sustentável do negócio. Funciona assim, o produtor oferece a terra, as instalações e o gado e a empresa entra com tecnologia de ponta, gestão financeira e investimentos em melhorias. Os lucros são divididos de acordo com a participação de cada um. Assim, em poucos anos, o pecuarista tem uma fazenda inteiramente reformada, altamente produtiva, com mão de obra qualificada, gerando alto desempenho econômico, e em conformidade com a legislação ambiental.
No ano passado, a empresa administrou fazendas somando 10.000 hectares em Alta Floresta, em Mato Grosso. Os resultados chegaram, o valor das fazendas está aumentando, junto com a fila de pecuaristas interessados em fazer parceria. Segundo Vando Telles, diretor executivo da Pecsa, a missão da empresa é transformar a pecuária na Amazônia em um negócio sustentável. “Nosso trabalho é aumentar a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, recuperar e conservar os recursos naturais e também desenvolver a economia local”, disse.
ITAÚ UNIBANCO – No mercado de ações verdes
Se as iniciativas ambientais das empresas geram benefícios para a natureza e para a sociedade e ainda rendem lucros, por que não investir nelas? Esse é o princípio dos títulos verdes. A ferramenta financeira permite às empresas captarem recursos para investimentos em projetos ambientais com melhores condições, como juros mais baixos. Os títulos verdes são comuns no mercado americano e europeu. Mas, no Brasil, a primeira emissão de títulos verdes só aconteceu no ano passado e foi coordenada pelo Itaú Unibanco. A empresa Suzano Papel e Celulose fechou um contrato de R$ 1 bilhão em títulos verdes, que estão sendo negociados pelo Itaú.
Os recursos captados com os títulos serão usados em projetos de manejo florestal, restauração de áreas degradadas, conservação da biodiversidade, gestão de recursos hídricos, eficiência energética e energia renovável. De acordo com Denise Hills, superintendente de sustentabilidade do Itaú Unibanco, fazer parte de ações como essa significa crescer com responsabilidade. “Buscamos apoiar iniciativas alinhadas a uma economia mais verde e inclusiva, encontrando diferenciais competitivos”, disse Denise. “Acreditamos que esse caminho será seguido por outras empresas. Poderemos nos orgulhar em dizer que o mercado financeiro nacional avança em direção às melhores práticas internacionais”, diz Marcelo Bacci, diretor financeiro da Suzano.
NATURA – Floresta em pé é a condição
As comunidades na Amazônia sabem que, para serem fornecedoras da Natura, o pré-requisito é que a floresta no entorno delas esteja preservada. A empresa tem um sistema próprio de avaliação das cadeias sociais e ambientais com padrões previstos em selos orgânicos, de comércio justo e do Conselho de Manejo Florestal (FSC na sigla em inglês). Em 2016, a Natura alcançou a marca de 100% de fornecedores auditados. Ao propor um modelo comercial sustentável, a Natura estabeleceu técnicas produtivas, que contribuíram para a conservação de 256.000 hectares de floresta em pé na região, e criou produtos a partir de plantas nativas, como a murumuru.
No ano passado, a empresa lançou o estudo de contabilidade ambiental, conhecido como EP&L, que significa ganhos e perdas ambientais na sigla em inglês. A Natura foi a primeira instituição da América Latina a implementar a ação. A partir da análise, que inclui todas as etapas do processo de produção até o descarte dos produtos, foi possível medir, em reais, os impactos causados pelas atividades da empresa. “O levantamento confirmou o impacto positivo de iniciativas adotadas pela Natura ao longo de sua trajetória, como a opção de uso de álcool orgânico na perfumaria e de ativos da biodiversidade amazônica em seus produtos”, explicou Luciana Villa Nova, gerente de sustentabilidade da Natura.
CPFL – Ações ambientais são negócio
Por se destacar pelo bom trabalho em ações ambientais, a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) venceu o prêmio na categoria Serviços pelo segundo ano consecutivo. Ela tem o maior empreendimento da América Latina em produção e distribuição de renováveis. Ao todo, 96% da energia produzida pela empresa vem de usinas eólicas, solar, aproveitamento de biomassa e pequenas centrais hidrelétricas. Só no ano passado, 14.900 gigawatts de energia limpa foram obtidos através de 93 usinas renováveis. Além disso, a empresa compõe o Índice Dow Jones de Sustentabilidade para Mercados Emergentes, que elege 95 instituições de países em desenvolvimento que sobressaem no assunto.
Em 2016, a CPFL selecionou clientes de baixa renda e promoveu ações para reduzir o consumo de energia elétrica. Substituiu equipamentos domésticos antigos, como geladeiras, chuveiros e lâmpadas por modelos mais eficientes. Reformou as instalações elétricas internas dessas famílias e regularizou as ligações clandestinas. “Aqui, todas as ações ambientais estão relacionadas a negócio. Todas as ações são avaliadas pela eficiência ambiental, pelo impacto social e retorno financeiro. É isso que garante o sucesso e a continuidade dos projetos”, diz Rodolfo Sirol, gerente de sustentabilidade da CPFL.
EDP ENERGIA – A usina virtual
As mudanças climáticas tornam instável a disponibilidade de chuvas e água e, consequentemente, o mercado de geração de energia. Pensando nisso, durante a maior crise hídrica da história, em 2015, a EDP Brasil criou a EDP Soluções em Energia, empresa que fornece serviços de eficiência energética. Segundo Miguel Setas, presidente da EDP, o objetivo até 2020 é alcançar a meta de economia em 100 gigawatts. “Investir em eficiência energética significa construir uma usina virtual. Nela, a energia não é produzida, mas sim, poupada”, explicou.
Ao longo de 2016, a empresa realizou 15 projetos de eficiência energética, que renderam uma economia de 45 gigawatts. Isso é aproximadamente o que Itaipu produz em cinco meses. Além disso, um dos projetos envolveu o reaproveitamento de biomassa para a geração de energia por meio do vapor. Foi feita a queima do cavaco de reflorestamento. Essa operação evitou que 12.367 toneladas de gás carbônico fossem emitidas por meio de outras formas de geração de energia. Esse tipo de queima ainda gera pouco resíduo. De 200 caminhões de cavaco queimado, sobrou apenas 1,5 caçamba de cinzas. Elas foram reinseridas na indústria de reflorestamento como adubo, incentivando a economia circular.
FIBRIA – Preço do carbono
As florestas plantadas são parte da solução dos problemas relacionados às mudanças climáticas. Isso porque, para se desenvolver, as árvores precisam retirar gás carbônico da atmosfera para transformar em folhas, galhos e raízes. Esse mecanismo é um valor para a Fibria, empresa brasileira de base florestal, que lidera a produção de celulose de eucalipto no mundo. Cada árvore da Fibria tem um ciclo de seis anos, entre crescimento e colheita. Durante esse tempo, muito carbono é tirado da atmosfera não só pelo plantio, mas também pelas áreas de florestas nativas conservadas da empresa. “Temos estudos mostrando que para cada tonelada de celulose produzida, entre sequestro e emissões de carbono até o nosso cliente, ainda ficamos com um saldo positivo”, disse o presidente da empresa, Marcelo Castelli.
Em 2016, a Fibria estabeleceu um preço interno de carbono com o objetivo de reconhecer e valorizar suas áreas de plantio e conservação florestal. Dessa forma, a empresa propõe entender melhor o impacto das emissões de gases de efeito estufa e criar novas soluções para uma economia de baixo carbono. Nessa conta, a Fibria definiu que a tonelada de gás carbônico vale US$ 5 para o sequestro em florestas, US$ 10 para emissões industriais e de logística e US$ 30 para novas tecnologias. Dessa forma, foi calculada em R$ 309 mil a redução de emissões de gás carbônico geradas no transporte de madeira feito por caminhões durante o ano passado.
OS DESTAQUES
Algumas ações exemplares das empresas com as melhores pontuações do prêmio
Unilever
A Unilever criou estações de pontos de coleta voluntária de resíduos e recicláveis. O projeto já recolheu mais de 100.000 toneladas de resíduos e as envia gratuitamente para cooperativas. Além disso, a empresa trabalha na implantação de uma rede de coleta seletiva no Brasil.
Toyota
A Toyota fez parcerias com prefeituras para capacitar as pessoas a utilizar práticas industriais de economia de recursos naturais desenvolvidas pela empresa. Em 2016, cerca de R$ 650 mil foram poupados nas contas públicas de Sorocaba, São Paulo, resultado de dez projetos implementados.
ArcelorMittal
Cerca de 30% do aço da ArcelorMittal é produzido a partir de sucata, sem perder suas propriedades físicas. Isso ocorre por meio de um estruturado processo de logística reversa. A ação é essencial dentro da perspectiva da economia circular, até porque o aço é 100% reciclável.
Neoenergia
A empresa desenvolve o Projeto Biogás, que gera energia elétrica a partir de resíduos sólidos e esgoto sanitário. Em uma das estações, em Feira de Santana, na Bahia, o gás alimenta um gerador de energia elétrica que supre cerca de 80% da demanda da estação de tratamento de esgoto da cidade.
Duratex
A empresa tem projetos de adaptação a mudanças do clima, como o estudo dos balanços hídricos e de carbono, e de sustentabilidade das bacias hídricas onde atua. Seu programa de melhoramento de eucalipto desenvolve variedades mais resistentes a pragas e variações climáticas, como seca e geada.
Basf
Para reduzir a quantidade de água utilizada na produção de concreto, a Basf desenvolveu um hiperplastificante que aumenta a eficiência da hidratação do cimento e reduz o uso de água em mais de 40% em relação aos processos convencionais nas obras de pequeno e grande porte.
Novelis
Em 2016, a empresa de laminados de alumínio reduziu em 22% o consumo de água nas unidades. A Novelis estabeleceu, no segmento em que atua, um novo padrão de práticas para a gestão da água com ações inovadoras, educativas e de consumo mais consciente.
Fonte: DESIRÊE GALVÃO