Neste domingo (10), as pessoas que se sentem afetadas pelo estrago que os humanos causam à natureza terão uma chance de ficarem ainda mais indignadas se conseguirem assistir ao documentário “Blue Planet II”, no site da BBC News. No texto do editor de ciências da rede de comunicação, David Shukman, que faz a apresentação do filme, já dá para sentir vergonha e raiva, compartilhando sentimentos da zoóloga Lucy Quinn, que teve a má sorte de pegar um filhote de albatroz, na Ilha dos Pássaros, em Ushuaia, morto depois de ter engolido um palito de plástico que perfurou seu estômago.
Esta é a questão levantada no documentário: a invasão de plástico nos oceanos. Não tem desculpa, não tem justificativa desenvolvimentista que consiga explicar isso, a não ser a tremenda falta de cuidado que a humanidade demonstra ter com o ambiente que nos cerca. Uma das cenas do filme, segundo o texto de Shukman, mostra uma festa com balões de gás e, no minuto seguinte, uma pesquisadora dissecando outro pássaro, da família dos Fulmares, morto depois de ter engolido um daqueles artefatos de diversão que alguém, depois de usar, não teve o menor problema em jogar fora sem saber aonde iria parar.
Tanta falta de cuidado está afetando muita gente. Por isso, na reunião do meio ambiente que a ONU organizou em Nairóbi, cidade africana do Quênia e que acabou na quarta-feira (6), as quase quatro mil pessoas que estiveram presentes decidiram romper com uma tradição. Foi a primeira vez, em uma Assembleia Ambiental da ONU, que os ministros do meio ambiente das Nações Unidas emitiram uma declaração.
“O documento afirma que as nações honrarão esforços para prevenir, mitigar e gerir a poluição do ar, da terra e solo, da água doce e dos oceanos – que prejudica a nossa saúde, a da sociedade, dos ecossistemas, das economias e a segurança”, diz o texto.
Basicamente, segundo o discurso de Erik Solheim, diretor-executivo da ONU Ambiente, na abertura da reunião, a cruzada será contra os plásticos. Uma pesquisa divulgada na Assembleia mostra os 15 países que mais produzem lixo plástico no mundo e – ufa! – pelo menos nessa lista o Brasil não está. Em primeiríssimo lugar, disparado na frente, vem a China, seguida pela Indonésia, Filipinas, Vietnam. Em décimo lugar está Bangladesh e logo depois, em décimo segundo lugar, vem a Índia.
Quais serão os primeiros a serem cooptados para embarcarem no trem dessa cruzada? As empresas, disse à BBC News o Ministro da Indústria da Noruega, Vidar Helgesen. É preciso dar incentivos, mostrar o quanto pode atrapalhar bons negócios se a produção for suja, não levar em conta a poluição. Por outro lado – sim, sempre existe o outro lado – as empresas de plástico estão muito preocupadas e espalharam o rumor de que se todos os países realmente se juntarem para diminuir drasticamente o uso de plástico no mundo vai haver um desemprego em massa.
Na África, onde aconteceu a reunião da ONU, muitas cidades já estão proibindo o uso de plásticos para embalar coisas, por exemplo. E os comerciantes até se espantaram porque descobriram que as frutas se conservam mais em cestas de palha do que abafadas em sacos.
Em Bangladesh, segundo reportagem da BBC News, os sacos plásticos bloquearam as principais redes de escoamento de águas da chuva, provocando inundações terríveis em 2002. Desde então, o governo daquele país proíbe as pessoas de usarem. Não sei se oferecem uma boa alternativa, porém. Porque, de verdade, deixamos que o plástico invadisse tanto as nossas vidas que é difícil imaginar o dia a dia sem algum objeto de plástico.
Seja como for, é bom que o fim da poluição, principalmente causada por plástico, esteja em pauta.A campanha lançada pela ONU meio ambiente (oficialmente chamada de Pnuma, que vem a ser Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), na reunião em Nairobi, é #acabecomapoluição. E, ainda segundo informações fornecidas pelo próprio site da ONU, atingiu quase 2,5 milhões de compromissos, com 88 mil compromissos pessoais de ação.
Como se sabe, porém, é grande a distância entre intenção e gesto. Mas, mesmo entendendo que há problemas mais emergenciais nesse mundo à espera de soluções, como a crise vivida pelos refugiados, não dá para fechar olhos e ouvidos aos dados divulgados pela ONU: “A degradação ambiental causa uma em cada quatro mortes no mundo, o mesmo que 12,6 milhões de pessoas por ano, bem como a destruição generalizada de ecossistemas-chave. E a poluição do ar é o maior assassino ambiental, responsável pela morte de 6,5 milhões todos os anos”, diz o texto no site.
Outro relatório divulgado na reunião na África, da Comissão Lancet, sobre Poluição e Saúde diz que as perdas de bem-estar relacionadas à poluição são estimadas em mais de US$ 4,6 trilhões de dólares ao ano, o equivalente a 6,2% da produção econômica global. Isso é transformar em capital uma perda que vai muito além da econômica.
Qualidade de vida inclui saúde, inclui lazer, prazer, contato com o entorno, segurança, educação, informação que, de fato, agregue algo à vida de cada um. Para isso, o cidadão ou cidadã precisa saber que tem também alguns ônus a pagar. Entre eles, prestar atenção ao redor e fazer contato com a biodiversidade. Por isso, todos nós, da próxima vez que jogarmos fora uma garrafa ou um saco plástico, deveríamos pensar naquele filhote de albatroz, uma das aves mais lindas que há, morto por causa de um palito.
Fonte: G1 Amelia Gonzalez