Todos os países têm problemas nacionais, como uma perigosa diminuição da inclusão ou uma onerosa diminuição do crescimento. Já aprendemos que uma solução não acontece sem a sociedade compreender o problema e sem um desejo de ação generalizado.
Mas, com as mudanças climáticas, todos os países têm também um problema partilhado. E, embora os especialistas já o tenham compreendido e tenham alcançado um consenso sobre os objetivos a atingir, esses objetivos exigem um maior apoio da sociedade do que o que existe até agora.
Como todos sabem, a maioria das mudanças climáticas começaram com a queima de combustíveis fósseis trazidos pela industrialização que começou no final do século XVIII e que tem produzido níveis crescentes de dióxido de carbono desde então.
Uma circunstância importante é que o clima já se deteriorou a tal ponto que se tornou dispendioso para a sociedade e até perigoso para a vida: a violência dos furacões aumentou após a subida da temperatura da água nas Caraíbas. A qualidade do ar está a deteriorar-se manifestamente em todo o mundo. E o aumento do nível do mar ameaça muitas cidades a baixa altitude.
No seu recente livro Endangered Economies [Economias em Perigo], o economista Geoffrey Heal analisa a série de medidas, públicas e privadas, tomadas para bloquear novas mudanças climáticas. Uma questão introduzida por Heal é que os danos – em muitos casos, a devastação – infligidos ao nosso mundo natural têm consequências sérias não só para o ar e a água de que dependemos para a nossa existência, mas também para as empresas, que têm contado com recursos naturais gratuitos como a polinização, o ciclo da água, os ecossistemas marinhos e florestais e muito mais. Assim, a preservação do “capital natural” aumentaria a taxa de retorno sobre o capital no setor empresarial. As empresas reagiriam investindo mais, aumentando assim a produtividade na economia. E, com cada um desses impulsos, poderíamos custear um esforço maior que preservaria ainda mais o capital natural do mundo.
O mundo deve, então, desistir de aspirar ao crescimento económico tão rápido que está a esgotar o capital natural do mundo. Queremos um crescimento económico que seja “verde”, sem danificar ou destruir o meio ambiente. Ao mesmo tempo, queremos melhorar o meio ambiente sem interromper a inovação e o crescimento económico.
Numa série de apresentações e entrevistas impactantes, a economista e matemática Graciela Chichilnisky, da Universidade de Columbia, afirma que a sobrevivência da humanidade exige que retiremos o CO2 já acumulado na atmosfera e asseguremos que ele permaneça fora dela. Para cobrir o custo, Chichilnisky propõe um mercado no qual o carbono capturado é vendido para uso comercial.
Outra solução possível é a “agricultura regenerativa”, como a que o biólogo Allan Savory introduziu recentemente na Patagónia.
Se estas inovações fossem tornadas rentáveis poderiam criar um incentivo para que os agentes privados levassem a cabo a captura de carbono muito além do que um governo nacional poderia dar-se ao luxo de fazer. No entanto, o sucesso dependerá de a “agricultura de carbono” se manter rentável mesmo num contexto de oferta crescente e, assim, de queda dos preços.
Também teremos de lidar com desafios fundamentais, como o crescimento contínuo da população, a industrialização e a má governação. E teremos de encontrar um equilíbrio entre a luta contra as mudanças climáticas e conseguir garantir que a maioria das pessoas ainda tenham vidas que valham a pena viver.
Pode olhar-se para o crescente número de pesquisas sobre mudanças climáticas e concluir que podemos estar descansados: os especialistas já descobriram o que tem de ser feito. Mas os próprios especialistas não são assim tão ingénuos. Eles sabem que as empresas não vão policiar-se e reconhecem que muito dependerá de a procura do lucro poder ser aproveitada para o bem social. O problema é que muitas pessoas assumem que as empresas, os agregados familiares e os decisores políticos farão simplesmente o que os especialistas recomendam: que todas as empresas – por pressão social ou ameaças do Estado – pagarão os danos que causam; e que todos os governos acabarão por criar impostos sobre o carbono ou acordos de limitação e comércio de emissões para as reduzir e, por fim, eliminá-las.
Outro problema é que muitos dos danos ambientais não são diretamente controláveis. Mesmo que grandes empresas públicas considerem adequado compensar a sua poluição replantando, por exemplo, florestas tropicais na América Central, a Terra passou a ter uma população humana colossal e ainda em crescimento. Isso apresenta desafios. Como o economista Dennis J. Snower mostrou há alguns anos, as atividades individuais discretas – como pescar, cozinhar em fogões a lenha ou simplesmente deixar a água a correr – podem contribuir significativamente para a poluição e degradação ambiental, mas passam largamente despercebidas pelos governos, comunidades e indivíduos. Sendo assim, qualquer programa de proteção do meio ambiente deve basear-se na persuasão moral: apelar a todos os indivíduos, e não apenas às empresas, para invocarem os sentimentos de altruísmo que possuam e restringirem voluntariamente a sua própria poluição.
No entanto, outro problema é que muitos países ainda estão em fase de industrialização. Assim, mesmo que todos os países do planeta pudessem reduzir a sua contribuição per capita para a poluição, o aumento contínuo da proporção da população mundial que trabalha em países que estão agora no estágio de industrialização aumentará a média global. Claramente, esse fenómeno demográfico contribuirá para um período difícil enquanto seguimos as medidas propostas por Heal para limitar as emissões de CO2.
Também teremos de enfrentar o facto de que nem todos os governos são capazes de enfrentar interesses instalados. As empresas poderosas podem fugir às restrições ambientais emitidas pelo governo, especialmente se forem uma importante fonte de rendimento e emprego.
Mais dificuldades surgem se a maioria das pessoas ainda for pobre, mas estiver determinada a tornar-se rica, tão rica quanto os países mais ricos do Ocidente. Num tal país, o governo talvez não esteja pronto para reduzir as emissões de carbono ou outra poluição, para que não perca o seu objetivo de crescimento. Calcula-se que 20% da população mundial seja responsável por 80% do consumo mundial de recursos naturais. Como o direito à sobrevivência supera o direito de um país de arruinar o meio ambiente na busca do crescimento, os países que lideram a luta contra as mudanças climáticas terão de ser duros com aqueles que pensam que os custos de redução de emissões são muito altos.
Por fim, as energias renováveis podem representar novos desafios para os salários e o emprego no futuro. De acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável, as indústrias eólica e solar dos EUA têm criado empregos – empregando 777 000 pessoas em 2016 -, enquanto a indústria do carvão tem continuado a perdê-los. Mas esta não é uma observação útil, dado que os funcionários que passam para novas indústrias geralmente provêm de outras indústrias e não de um vasto grupo de trabalhadores desempregados, mas bem preparados. Seria absurdo pensar que o emprego total possa ser gerado por todas as novas empresas que se instalarem.
A teoria económica diz que uma nova indústria expandirá o emprego geral somente se o seu método de produção for de mão-de-obra mais intensiva do que a média intersetorial. No entanto, ainda tenho de ver os dados para o setor de renováveis que abordam esta questão, e não ficaria surpreendido se a indústria se tornasse altamente intensiva em capital ao longo do tempo.
Há muito que enfatizo não só as recompensas materiais do trabalho – principalmente as taxas de salários (de baixo para cima) e as taxas de participação da força de trabalho -, mas também o lado não material do trabalho (as várias satisfações que as pessoas obtêm da experiência do trabalho). Agora que a imaginação e a inventividade dos nossos especialistas e engenheiros nos ajudaram a corrigir o rumo, será importante que voltemos ao trabalho: conceber novos produtos e métodos de produção, testá-los no mercado e lutar pelo que é novo.
“A América jovem tem uma grande paixão – uma verdadeira fúria – pelo “novo””, disse Abraham Lincoln uma vez. É hora de todos nós sermos assim jovens novamente. E, também, à medida que o projeto de recuperação do nosso ambiente se desenvolve e, à medida que os outros desafios internacionais estão a ser geridos e resolvidos, de fazer reviver uma conceção mais antiga do trabalho com base no exercício da iniciativa e no uso da própria criatividade. A vida boa deve novamente ser entendida como uma viagem pessoal ao desconhecido, através da qual se pode “agir no mundo” e “fazer crescer o seu jardim” para se ser “alguém”.
A preocupação, a minha preocupação, pelo menos, é que as nossas economias nacionais, muitas delas já altamente reguladas em nome da estabilidade, se tornem muito mais reguladas em nome de uma economia verde. Sim, podem ser necessários muitos regulamentos, mas devemos ter cuidado nos nossos esforços para salvar o planeta para não estrangularmos as fontes do que faz que a vida valha a pena ser vivida.
Fonte: Diário de Noticias