Lajeado – Contribuir com o meio ambiente, reciclar e diminuir a quantidade de lixo descartado são ações simples e que podem ser feitas em um pequeno espaço da casa. Bastam algumas caixas plásticas com furos na base, um pouco de terra e de água e minhocas. Com cerca de R$ 200,00 já é possível começar, caso a preferência seja adquirir um kit específico. Mas a montagem pode ser ainda mais fácil.
É o que mostra Yasmin Curvelo Doehl (16), que vai para o 3º ano do Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat). A ideia de ter um minhocário no apartamento surgiu há cerca de uma década, quando a família assistiu a um programa na TV. O documentário abordava a criação e a possibilidade de reciclar os restos de alimentos e folhas em um pequeno espaço. Interessados, os pais da jovem descobriram uma empresa em São Paulo e compraram as primeiras minhocas e composteiras. A jovem destaca que é possível reciclar até um quilo de resíduos orgânicos por dia em casa.
“Conseguimos reduzir bastante o que descartamos depois que montamos o minhocário. Basicamente, só não colocamos restos de carne aqui”, explica Yasmin.
Enquanto a família Curvelo usa produto da decomposição para adubar as plantas, a empresária Mara Schneider vai além. Transformou em negócio as composteiras domésticas, que têm como foco reduzir a quantidade de resíduos orgânicos descartado pela população. “Conseguimos diminuir até 60% desse material. É uma forma simples e eficiente de contribuirmos com o meio ambiente”, explica a proprietária de uma empresa que trabalha com minhocultura. Ela destaca a importância destes equipamentos. A empreendedora trabalha ainda com húmus, que as pessoas terão em casa se tiverem minhocários, e farinha de minhoca, um alimento para animais com alta concentração de proteínas, ainda proibida para consumo humano pela legislação brasileira.
Para quem quiser apostar nessas amigas da terra, o engenheiro agrônomo Fernando Mallmann explica que a espécie mais indicada para composteiras domésticas é a Eisenia foetida, popularmente conhecida como “vermelha da Califórnia”. “Em um ambiente adequado, se reproduzem rapidamente. Se tiverem muito alimento, se multiplicam mais. Com menor oferta de comida, diminuem o ritmo reprodutivo. Matérias orgânicas mais doces tendem a acelerar o processo, já que as minhocas entram em uma espécie de frenesi”, descreve. “Por isso, não é recomendável que se tenha muitas. Com uns 200 exemplares já é possível ter um minhocário bastante produtivo em casa”, complementa. A estimativa dele é que cada animal consuma o equivalente a seu peso por dia. “Calcula-se que cada minhoca pese um grama.”
Montando seu minhocário
A coordenadora do projeto de processos de vermicompostagem para uso de bioprodutos da Univates, Lucélia Hoehne, frisa que a montagem de um minhocário é muito simples. “Dá pra fazer até mesmo em potes plásticos de sorvete”, revela. “É possível reciclar cascas de frutas, borra de café, erva-mate”, orienta. Dentro de casa, o ideal é mantê-lo próximo à cozinha e à lavanderia. “Os minhocários precisam de temperatura controlada e certa umidade. Estes locais são adequados para isso.” São necessárias, pelo menos, três caixas, com furos na base e tampa. Empresas como a de Mara Schneider comercializam um kit com duas unidades plásticas de 50 litros (digestora), uma de 36 litros com torneira (coletora de líquido), uma tampa, um pacote com palha (matéria vegetal seca para iniciar o processo), minhocas e substrato. O preço médio do kit fica em torno de R$ 200,00.
Empilha-se as três caixas, ficando na parte mais baixa a que tem torneira. O acessório serve para retirada do excesso de chorume (líquido que escorre da produção do húmus). Nas outras duas, se colocam, intercaladas, camadas de palha seca e matéria orgânica. A primeira caixa deve ter húmus de boa qualidade em aproximadamente oito meses. “Se percebe que está pronto quando a terra está escura, granulada, não se consegue mais identificar qual matéria orgânica tinha se colocado ali e não tem cheiro”, revela Mara Schneider. Depois, a cada um ou dois meses, conforme a produção de lixo orgânico da casa, se trocam os andares das caixas superiores. O material resultante é o húmus, um adubo orgânico, que deve ser utilizado em plantas e vegetais.
Melhoria na qualidade dos alimentos
O resultado de decomposição nos minhocários é objeto de estudo no meio acadêmico. “Há pesquisas indicando que a qualidade de alimentos como alface, rúcula e morangos, é maior quando se tem um solo com uma concentração de 50% ou mais de húmus. As alfaces, por exemplo, crescem mais e tem mais folhas neste tipo de solo”, destaca a professora da Univates, Lucélia Hoehne. Misturar húmus com terra também é importante. “As plantas precisam dos minerais do solo. Não adianta colocar só o adubo orgânico querendo obter bons resultados. É necessário ter percentuais das duas fontes para as plantações”, ensina.
Saiba mais
Húmus é o produto resultante da matéria orgânica decomposta. Quando formada a partir do processo digestório das minhocas, recebe o nome de vermicompostagem. É considerado o mais completo adubo. Apresenta como características físico-químicas: inodoro (não possui cheiro), substância asséptica, rico em micronutrientes (ferro, boro, cobre, zinco, molibidênico, cloro) e macronutrientes (potássio, nitrogênio, fósforo). A formação do húmus repõe minerais no solo, corrigindo a deficiência de nutrientes proporcionalmente às necessidades dos vegetais. Isto faz com que a terra se torne mais estável e apropriada para diversas culturas.
Com o deslocamento das minhocas, se formam galerias que arejam o solo e facilitam a infiltração de água.
Fonte: O Informativo do Vale – MATHEUS AGUILAR