Estive em minha cidade, Senador Pompeu (293 km de Fortaleza), ao longo desses últimos meses. Em meio ao desânimo com o fraco comércio do fim de ano e as desilusões com as promessas políticas da administração municipal, pude presenciar, através de minhas caminhadas vesperais, uma cidade invadida pelo lixo em todas suas periferias.
Nota-se que as pessoas, em grande maioria os jovens, estão conectados febrilmente às redes sociais e, ao mesmo tempo, desligados das questões do meio ambiente. Parece faltar uma ideia, um grito e uma campanha que desperte a população para salvar a cidade do entulho que lhe avassala. Já não existe mais tapetes onde se possa esconder tanta sujeira.
Caso haja um redemoinho na região, fenômeno comum por essa época que antecede o inverno, os ventos não mais levantarão poeira para abrir o caminho do Aracati que refresca o sertão. Um redemoinho, mesmo de pequena intensidade, poderá tumultuar o céu da cidade ao revolver a imensidão de sacos plásticos, garrafas pet, latas de cerveja, restos de embalagens, sobras de sapatos, carcaças de pneus, dentre outros lixos domésticos que são depositados pelas vias periféricas da cidade.
Não creio que essa desatenção com a natureza seja um privilégio apenas de Senador Pompeu. Não se entende de que modo uma cidade que não sabe conviver com seu próprio lixo possa receber o lixo de uma outra cidade, ainda que seja para um aterro sanitário. Pior: sem debate com a população e os movimentos sociais. No caso de Senador Pompeu, a prefeitura e a população estão longe de uma reflexão a respeito da melhor convivência com seus dejetos e a preservação ambiental.
Dizem que, muitas vezes nas crises, surgem soluções para os graves problemas. Essa parece ser a esperança, ainda que abstrata, perigando surgir no horizonte cinza das cidades do Sertão Central do Ceará. Talvez uma Árvore de Natal ornamentada com lixo alertasse a população a respeito do que plantamos e já estamos a colher.
Fonte : O Povo