O pampa é um ambiente natural único e que, no Brasil, só existe no Rio Grande do Sul. Para preservar essa riqueza, os pecuaristas da região podem assumir um papel de destaque. Eles mostram que é possível existir convivência harmônica entre produção de carne e preservação da natureza.
Mata nativa é árvore ou pasto? A resposta parece fácil. A árvore é símbolo de natureza, de mata preservada, mas e se o pasto for tão rico como uma floresta? Uma mata rasteira, mas muito diversa, com milhares de espécies: 60% do bioma pampa original é formado por esses campos nativos.
Planícies extensas. Pasto até onde os olhos alcançam. Essa é a característica do pampa, o menor dos cinco biomas brasileiros, presente em apenas 2% do território nacional. São 176 mil quilômetros quadrados exclusivos do Rio Grande do Sulx. Ali, o pampa ocupa 63% do estado e depois se estende pelos nossos vizinhos: Uruguai, Argentina e uma pontinha do Paraguai.
Nos arredores de Porto Alegre, onde a Mata Atlântica encontra o pampa, é possível encontrar plantas como: rabo-de-burro, macela, alecrim do campo e por aí vai. “Nosso recorde de um levantamento feito por nossa equipe é de 56 espécies num único metro quadrado. É muita coisa. É comparável com a diversidade de uma floresta tropical”, explica Gerhard Overbeck, engenheiro ambiental.
Aliança das Pastagens
Desde a época colonial, o pasto variado alimenta o gado e movimenta a produção de carne, hoje concentrada na região conhecida como Campanha. São os municípios do sudoeste, já na fronteira com Uruguai e Argentina.
A paisagem é típica do Rio Grande do Sul, com as colinas e o gado no pasto nativo. É o pampa conservado, mas gerando produtividade.
Em Uruguaiana, uma das fazendas de João Paulo Schneider, tem lavoura de arroz, mas metade dos oito mil hectares é de mata nativa, ou melhor, pasto do pampa. “São campos rasos, não apropriados para a a lavoura. São eles que proporcionam uma oferta forrageira adequada para a criação de raças britânicas e também sintéticas”, explica Schneider.
A propriedade é uma das 130 que se uniram em um programa ambiental internacional, a Alianza Del Pastizal, nome em espanhol que quer dizer Aliança das Pastagens. Todas elas têm pelo menos metade das terras reservadas para a vegetação nativa, que alimenta o gado.
“Os animais são criados livres nessas propriedades, inclusive é um condicionante para que uma propriedade faça parte da Alianza”, explica Marcelo Fett, coordenador do programa.
Nas terras de Eduardo Eichemberg, 80% da área é de vegetação nativa. A principal técnica aplicada na área é chamada de diferimento, onde uma parte do pasto nativo fica vazia, sem animais, por períodos de 30 até 90 dias.
A reserva coincide com o momento em que as plantas nativas ganham sementes e criam novas mudas. Desse jeito o criador mantém quase um animal por hectare, um pouco abaixo da média brasileira, mas com a vantagem de conservar a vegetação nativa e com bom ganho de peso. “O novilho, se bem manejado, e com áreas de bom potencial de campo nativo poderiam a partir dos dois anos, já serem carregados gordos”, afirma.
Em Santana do Livramento, é aplicada outra técnica de manejo. A roçadeira tira toda a palhada do do capim caninha. “Ele perde qualidade quando fica mais entocerado, e fica muito alto. Então ele seca e perde a qualidade, fica com pouca proteína”, explica Adroaldo Potter, criador.
O campo nativo perde espaço principalmente para a agricultura. A soja está avançando no Rio Grande do Sul. Desde o início dos anos 2000, as lavouras ganham terreno em especial na parte do sul do estado, que é uma área de pecuária tradicional. “A velocidade de perda de bioma do pampa é em torno de quatro vezes maior do que acontece com a Floresta Amazônica”, aleta Kuriakin Toscan, analista ambiental Ibama.
Em Bagé, Ricardo Juliane é um dos produtores que testaram a soja para reforçar a renda do arroz e da pecuária. “Ela melhorou muito a rentabilidade destas áreas que estavam com uma produção pecuária, muitas vezes bem extensiva, pela área estar degrada, com invasor…”, conta.
O problema é quando a soja tem que voltar a ser campo nativo. Um desafio, que fica evidente em Rosário do Sul, onde Embrapa, universidades, Ibama e Exército se reúnem no Campo de Instrução Barão de São Borba para fazer o planejamento de áreas: 80% pode ser arrendada para produtores rurais e em antigas lavouras, os militares notaram problemas. Uma área que era lavoura de soja, há dois anos está sendo recuperada. O solo que estava exposto em várias partes já está com uma boa cobertura.
Fauna no pampa
No trabalho para recuperar o pasto nativo, os animais tem um papel fundamental. Para trazer o pampa de volta, os pesquisadores precisam de uma parcela boa e diversa. O gado entra, pasta come e logo depois é tranferida para a área degradada. “Essa semente será carreada pelo gado de diferentes maneiras, desde ingerindo a sementes e levando através do esterco, até outras que vão coladas no pelo, e também algumas espécies que o ato de pastar faz com que elas se alastremn e vão cobrindo o solo” explica Danilo Santanna, veterinário – Embrapa
Os estudiosos se procupam com o futuro das pradarias e das raras serras do pampa. Em uma região do pampa, o pasto a perder de vista ganha contornos diferentes. Chão de pedra, formando cerros com até cem metros de altura, e uma vista com diferentes tons de verdes, a chamada Serra do Sudeste.
Encravada no caminho entre Porto Alegre a fronteira sul, ela é o pampa em montanhas. Conforme a serra desponta, os animais diminuem e a vista é das ovelhas, dos cactos e lajes no meio do pasto.
“Até pouco tempo, essa região foi considerada atrasada, até mesmo pelos produtores”, declara Mateus Garcia, presidente Associação de Desencolvimento Sustentável do Alto Camacuã, na Serra do Sudeste.
Jorge Luís Dias, veterinário deixou o trabalho em empresa e voltou para um desafio no campo. “O maior desafio é trabalhar culturalmente comn esta afimração de que campo nativo não dá. Não dá se você não cuidar dele. Manejo é simples: limpeza e controle da invasora, além da introdução de espécies que eu possa em determinado momento utilizar ela, principlamnte no período de inverno, e depois o campo nativo retorna”.
Ter renda com o pampa é produzir e ao mesmo tempo admirar as belezas deste bioma. O pampa abriga mais de 500 espécies de aves. Uma das mais raras é o Veste-Amarela.
A noivinha-de-rabo-preto, serve de sentinela e o Veste-Amarela aproveita a guarida. Juntas essas espécies podem desaparecer sem o pampa.
“Aqui no pampa ele ainda encontra refúgio em propriedades em que pecuária é feita sobre campo nativo. Por isso que a conservação do pampa e dos campos naturais do extremo sul do país está nas mãos de proprietários provados”, diz o biólogo Gleison Bank, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.
“A gente fica muito feliz de poder contribuir com a natureza. Hoje em dia se fala tanto em conservaçãio ambiental, produzir com sustentabilidade, então ficamos feliz de estar no meio disso tudo”, avalia o produtor Lucídio.
A carne produzida pelos pessoal da aliança das pastagens vai pra supermercados de porto alegre e são paulo, com um selo de proteção do pampa.
Fonte: G1 Globo Rural