A economia também chegou no lixo, literalmente. Ao longo da avenida Tamandaré, em Campo Grande, a diversidade de lixeiras se destacam pelos materiais sustentáveis, ideias criativas e que garantiram economia aos seus “criadores”. O gerente Marcelo dos Reis Fonseca, de 31 anos, conta que foi além e agora está ganhando dinheiro ao utilizar antenas para o descarte de lixo.
“Eu fiz primeiro para o comércio em que eu trabalho e depois mais 3 vizinhos pediram para fazer na casa deles. Meu irmão também comprou uma casa recentemente e fez uma encomenda da lixeira de antena. É algo que eu entrei em contato e disseram que não buscam, pois, quando muda a casa, muda também a parte elétrica e a antena não é reaproveitada”, explicou.
De acordo com Marcelo, a parte redonda da antena ganha um suporte de concreto ou madeira e ele cobra R$ 100 pela instalação. A primeira dos seus exemplares está na avenida, próximo ao cruzamento com a rua Mirabela.
“Antes de pensar na lixeira, eu levei em um local e me ofereceram R$ 0,20. Neste momento, tive a ideia de começar a reaproveitar as coisas e agora aproveito garrafas pet e pneus para a jardinagem, plantando coqueiros, entre outras plantas. A internet me ajudou muito com vídeos”, afirmou.
Pouco antes de iniciar o projeto de “recuperação” das antenas, ele conta que a irmã comprou uma lixeira de alumínio por R$ 350. “Ela colocou em um dia e, no outro, mesmo com o concreto, os ladrões levaram. Agora, com as minhas ideias, ela não quer gastar mais nada”, brincou.
No caso da costureira Eva Garcia, de 49 anos, a lixeira foi feita pelo seu patrão. Depois de muito bife na chapa, ela conta que a roda de pneu foi utilizada para o descarte de lixo. “É algo sustentável, ele mesmo soldou. Meu patrão é alguém bem curioso, faz muitas coisas. Além da lixeira, ele já inventou um ralador de milho elétrico, aproveita panela de pressão estragada para fazer uma comum, entre outras”, disse.
Renata Pereira Mendes, que está confeccionando vestimenta para o Carnaval, ressalta que a criação do vizinho, uma lixeira feita com resto de portão, também é muito útil e sustentável. “É moderno e diferente, na minha opinião. O ferro poderia ir para o lixo, mas, está sendo usado para guardar lixo constantemente”, comentou.
Já a aposentada Adelaide Cordeiro, de 69 anos, diz que ficou atraída por uma lixeira de tambor reaproveitado. “Eu comprei e estou achando ótima. Ela é muito resistente e ajuda o meio ambiente”, falou.
Conscientização
A bióloga, mestre em ecologia e conservação, Maria Silvia Gervásio, ressalta que a ação de construir lixeiras sustentáveis é interessante, em diversos momentos. “No aspecto da reciclagem, podemos entender que a reutilização de algo que iria para o lixo, tendo uma iniciativa da própria população, significa que muitos já se conscientizaram para o reaproveitamento, com benefícios estéticos e econômicos”, argumentou.
Conforme Gervásio, a iniciativa gera também um “olhar curioso” de quem passa pelo local. “Todo mundo ganha com isso. Alguns pensam que também poderiam fazer isso em casa, outros pensam que podem aprender a reciclar e ganhar dinheiro, por exemplo. Infelizmente, ainda existe gente muito mal educada e este tipo de produção racionaliza os custos, resultando em uma forma eficiente que gasta menos energia, deixa menos resíduos e pode até criar uma identidade para a rua, beneficiando inclusive o comércio local e mobilizando a sociedade”, finalizou.
Fonte: G1