Daqui a uma semana, no dia 28 de fevereiro, vários cientistas vão começar uma viagem,liderada pela bióloga marinha Katrin Linse, pelas Ilhas Malvinas. O destino é o maior iceberg do mundo, formado em julho do ano passado, quando parte da prateleira de gelo Larsen C se separou, formando um pedaço de gelo que é quatro vezes maior do que Londres. Com isso, a vida marinha debaixo de camadas de gelo da Antártida se mostram pela primeira vez. Como não poderia deixar de ser, os cientistas não vão perder essa oportunidade para pesquisar e tentar responder a mais questões fundamentais sobre o impacto das mudanças climáticas nas regiões polares.
Ao jornal britânico “The Guardian”, a bióloga disse que é muito importante chegar lá rapidamente, antes de o ambiente submarino mudar, o que pode começar a acontecer à medida que a luz solar entrar na água e novas espécies começarem a colonizar.
Que sejam mesmo rápidos e eficazes. E, se as pesquisas que começam a implementar contribuírem para que as pessoas comuns possam refletir, mudar seus hábitos e ajudar a desacelerar o aumento do nível dos oceanos, será uma expedição muito bem-vinda. Até porque, há uma semana, novos dados de satélites mostraram que o derretimento de lençóis de gelo na Groenlândia e na Antártica está acelerando o ritmo do aumento do nível do mar.
São registros que foram publicados na semana passada pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NAS na sigla em inglês). Uma equipe de pesquisadores liderada por Steve Nerem, professor de engenharia aeroespacial na Universidade do Colorado, contou com informações coletadas por satélites durante mais de duas décadas.
“A pesquisa da equipe mostra que o aumento do nível do mar devido ao derretimento de lençóis de gelo já é responsável por metade do aumento de 7 centímetros observado desde 1993. O aumento do nível dos oceanos, que neste momento é de aproximadamente 3 milímetros por ano, pode triplicar até dez milímetros adicionais por ano até 2100. Isso significaria que o nível do mar poderia aumentar em 65 centímetros até o final do século, uma figura em consonância com as estimativas do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas”, diz o texto do site da ONU.
Para quem mora em cidades costeiras ao redor do mundo, esta não é uma boa notícia. E isso é sério. Pense em comprar um apartamento em alguma avenida costeira, depois pense no que pode acontecer no futuro com seu patrimônio, quando o mar começar a invadir e a abalar as estruturas de prédios erguidos perto do mar. Aqui no Brasil, temos um caso emblemático sobre a necessidade de se levar a sério esse tipo de advertência dos cientistas. Vimos um grande trecho da construção à beira-mar na cidade do Rio de Janeiro, a ciclovia Tim Maia, ruir em abril de 2016, por causa da ressaca do mar, deixando dois mortos. Há seis dias, outro trecho desabou.
Foi um caso clássico. Agora, imaginem isto acontecendo com territórios maiores em todo um país. É esta a preocupação dos países costeiros do Oceano Pacífico. Por conta disso, em 1990 eles se uniram numa associação, chamada Alliance of Small Island States (Aosis) ou Aliança de Pequenos Países-Ilhas (em tradução literal), numa tentativa de chamar a atenção do mundo para o constante perigo que correm. Precisam e pedem dinheiro aos países ricos, não só para lidar com os problemas causados pelos eventos extremos que têm enfrentado, como também para tentar evitá-los. Afinal, como os dados científicos demonstram, o uso abusivo de combustíveis fósseis, sobretudo no mundo dos mais abastados, é que tem causado o sofrimento dos mais pobres e que emitem menos gases poluentes.
Entre outras coisas, Fiji país que assumiu a presidência da conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP23) no ano passado, criou um processo único chamado Diálogo Talanoa, para ajudar a alcançar os objetivos do Acordo de Paris, conseguido ao final da COP21. Trata-se de um compromisso que os países das Nações Unidas assumiram para tentar, pelo menos, que o aquecimento do planeta não exceda 1,5ºC até o fim do século, marca que já vai trazer problemas para as nações-ilha.
Talanoa é uma palavra usada tradicionalmente pelos habitantes de Fiji e de todas as ilhas do Pacífico. Reflete um processo de diálogo inclusivo, participativo e transparente.
“O propósito de Talanoa é compartilhar histórias, construir empatia e tomar decisões sábias para o bem coletivo. O processo de Talanoa envolve o compartilhamento de ideias, habilidades e experiências através da narração de histórias.Durante este processo, os participantes criam confiança e promovem o conhecimento através da empatia e da compreensão. Culpar os outros e fazer observações críticas são atitudes inconsistentes com a construção de confiança e respeito mútuos e, portanto, inconsistentes com o conceito de Talanoa”, explica o texto no site da ONU sobre Mudanças Climáticas.
Gostei disso. E acho que esse mundo, do jeito que está, tão polarizado, poderia prestar mais atenção ao conceito de Talanoa. Não custa nada tentar.