Estudos desenvolvidos no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTIC) de como os organismos se adaptam aos ambientes e às mudanças climáticas despertaram a atenção da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que prospecta na instituição futuras parcerias. Organização autônoma com relações diretas com a Organização das Nações Unidas (ONU), a Agência tem interesse na aplicação do uso da energia nuclear em áreas temáticas como biologia, agricultura e saúde.
Dois diretores da AIEA, o Dr. Luis Carlos Longoria e o Dr. David Osborne, visitaram o Inpa na manhã desta quarta-feira (21), além de três oficiais da Marinha, o Contra-Almirante e Secretário de Coordenação de Sistemas do Gabinete de Segurança Institucional, Noriaki Wada; o Capitão de Fragata João Antônio de Barros Neto e um representante do 9º Distrito Naval. A comitiva foi recebida pelo chefe de Gabinete do Inpa Sergio Fonseca Guimarães e coordenadores da instituição. O Diretor o Inpa, Luiz Renato de França, está afastado por problemas de saúde.
“Vejo essa visita como oportunidade de aproximação com a Agência de Energia Atômica que por incrível que pareça não cuida só da parte nuclear, mas também da parte de meio ambiente, climática. Existem muitas possibilidades. É por isso que o Dr. Aldo Malavasi, que é um brasileiro e um dos diretores do mais alto nível nessa agência, vislumbrou possibilidades de parcerias”, disse Noriaki.
David Osborne é diretor do Nuclear Applications Environmental Laboratories e está no Brasil a convite da Marinha do Brasil para visitar três laboratórios da rede no país. No Brasil, a AIEA recebe os projetos encaminhados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para colaboração básica (investigação), regional (exemplo Panamazônia) e de regiões mundiais (África, Ásia, Pacífico).
Conforme o coordenador de Pesquisas do Inpa, Paulo Maurício Alencastro, o Instituto não tem tradição no uso de energia nuclear em suas pesquisas e a aproximação com a AIEA será uma oportunidade para desenvolver novas pesquisas, com técnicas avançadas e com alta aplicabilidade em áreas da saúde, alimentos e ambiental, por exemplo, interligada ao ciclo de carbono.
“Uma parceria com Agência pode estimular novas áreas de conhecimentos, estudos que possam ser gerados no Inpa utilizando técnicas de energia nuclear, como o uso de traçadores com radioisótopos em processos ecológicos ou em processos fisiológicos de organismos”, contou Alencastro.
Além de uma apresentação sobre a atuação do Inpa, fez parte da visita conhecer a estrutura e pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Ecofisiologia Evolução Molecular (LEEM), onde também funciona o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Adaptações da Biota Aquática na Amazônia (INCT Adapta /MCTIC/Inpa), coordenado pelo pesquisador Adalberto Val.
De acordo com Val, há muitos anos o LEEM usa isótopos radioativos de elementos básicos, como sódio, potássio e cálcio, para entender como os peixes da Amazônia interagem com os ambientes em que eles vivem. “Esses elementos radioativos permitem que a gente trace o comportamento deles na água e no peixe e de que forma eles interagem. Portanto, é uma ferramenta de altíssimo nível, ainda que muito cara, para entender essa interação dos peixes com os seus ambientes”, explicou.
Os elementos radioativos são chamados de traçadores biológicos e ajudam a contar a história dos organismos com seus ambientes. Conforme Val, em momentos em que se vive um período de mudanças climáticas intensas ter essas ferramentas mais sofisticadas é vital para entender melhor como os organismos se adaptam aos ambientes e às mudanças que estão ocorrendo.
“Eles ficaram impressionados com o nosso laboratório. De fato, nosso laboratório é o que chamamos de estado da arte, comparado com os melhores do mundo na área em que estamos estudando”, contou. “Eles propuseram que desenvolvamos algum trabalho em conjunto. Agora vou esperar o contato deles e se não houver eu mesmo vou contatá-los, pois estamos vivendo um momento em que a ciência se faz por meio de colaboração”, completou.
Adapta
Uma das perguntas que atualmente o Adapta procura responder é: o que tem espécies diferentes de peixes, crustáceos, plantas, fungos, microorganismos e insetos em comum enfrentando o mesmo desafio ambiental? Segundo Val, se os cientistas conseguem entender qual é o princípio que unifica as respostas dos organismos a um dado desafio ambiental, isso contribuirá com o entendimento em outros grupos de organismos incluindo o homem.
Outra frente que pesquisadores se debruçam é: o que tem um único organismo de uma espécie em comum quando ela enfrente diferentes desafios ambientais? Ela ativa o mesmo tipo de mecanismo ou ela usa mecanismos diferentes para os diferentes desafios ambientais?
“Pode parecer uma pergunta muito simples, mas o que a gente aprendeu ao longo desses anos, estudando o tambaqui e outros organismos, é que não se pode generalizar as respostas, considerando a diversidade biológica que temos na Amazônia. Por trás dessa diversidade há um amplo leque de respostas adaptativas aos diferentes desafios ambientais. Portanto, ao longo do tempo vamos aprendendo como os organismos respondem aos desafios ambientais naturais e aqueles impostos pelo homem. Vamos respondendo perguntas, vamos fazendo ciência e socializando a informação para a inclusão social”, explicou.
Fonte: Inpa