Um estudo divulgado nesta quarta-feira (28/02) pela revista científica Nature revela que as primeiras estrelas surgiram cerca de 180 milhões de anos depois do Big Bang, um período que coincide com as primeiras evidências da existência de hidrogênio no universo.
Astrônomos do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) e da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, captaram com uma antena de rádio do tamanho de uma mesa situada no oeste da Austrália sinais tênues de gás hidrogênio procedentes da origem do universo.
Essa antena permitiu “ver mais longe do que os mais poderosos telescópios espaciais, abrindo uma nova janela para os primórdios do universo”, afirmou Peter Kurczynski, da Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos, que colaborou no estudo.
“Os telescópios não conseguem enxergar longe o bastante para fornecer diretamente imagens de estrelas tão antigas”, afirmou o astrônomo da Universidade do Arizona e diretor da pesquisa, Judd Bowman. Segundo ele, as “ondas de rádio vindas do espaço” permitem ver quando elas ganharam vida.
Os cientistas rastrearam os sinais até 180 milhões de anos depois do Big Bang – a explosão cósmica à qual se atribui a origem do universo – captando as primeiras evidências de hidrogênio observadas no Universo.
“É um período do universo sobre o qual não sabemos nada a respeito”, disse Bowman, que descreve a descoberta como “a primeira frase” do capítulo inicial da história do cosmos.
O hidrogênio estava em um estado que só poderia ser observado nas primeiras estrelas, que surgiram em um universo desprovido de luz e emitiram uma radiação ultravioleta que interagia com o gás.
Os átomos de hidrogênio começaram então a absorver a radiação de fundo, uma forma de radiação eletromagnética que existe no espaço, resultando em mudanças fundamentais que os cientistas puderam detectar em forma de ondas de rádio.
Segundo os pesquisadores, as evidências encontradas significam que as primeiras estrelas teriam começado a brilhar aproximadamente 180 milhões anos depois do Big Bang.
Nova compreensão da evolução do universo
“Este é o primeiro sinal real de que as estrelas estavam começando a se formar e a afetar o meio que as cercavam”, explicou o coautor do estudo e pesquisador do Observatório Haystack do MIT, Alan Rogers. O cientista disse que parte da radiação das primeiras estrelas possibilitou que o hidrogênio fosse captado em certas radiofrequências.
Após o Big Bang, o universo era um lugar escuro, onde não havia estrelas nem galáxias, e estava cheio principalmente de gás hidrogênio neutro. Passaram-se entre 50 e 100 milhões de anos até que a gravidade começasse a atrair as áreas mais densas de gás para começar a formar estrelas.
Foram necessários 12 anos de pesquisa para detectar os vestígios das primeiras estrelas. Os sinais de rádio proporcionaram “a primeira evidência de que os antepassados mais antigos de nossa árvore genealógica cósmica nasceram apenas 180 milhões de anos depois do início do Universo”, segundo afirma um comunicado da Universidade do Arizona.
Algumas caraterísticas dessas ondas de rádio sugerem que o hidrogênio e o universo em sua totalidade deveriam ser duas vezes mais frios do que os cientistas estimavam anteriormente, com temperatura de aproximadamente -270º C.
O motivo de o universo ter sido mais frio do que se imaginava permanece desconhecido, mas alguns cientistas sugerem que a temperatura teria sido afetada pela interação da matéria escura.
Segundo o diretor do Observatório de Haystack, Colin Lonsdale, a descoberta exige algumas mudanças na compreensão atual da evolução do universo em seus primórdios, e os modelos cosmológicos atuais deverão ser repensados a partir de agora.
Fonte: Deutsche Welle