Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de Sydney, na Austrália, e publicada na última segunda-feira (7), responsabiliza o turismo por 8% das emissões atuais de gases de efeito estufa, processo em que a radiação da superfície é absorvida por gases da atmosfera, aumentando a temperatura do planeta. O total é três vezes maior do que o estimado para o setor até então. Segundo dados da Organização Mundial do Comércio de 2008, as emissões a nível global associadas ao turismo representariam 3% do total. A estimativa em questão, no entanto, era focada no setor de transporte, não considerando a “pegada de carbono” causada por outros aspectos relacionados a atividades turísticas, como alimentação, infraestrutura e serviços de varejo utilizados por turistas, por exemplo. Em um processo de análise que durou um ano e meio, o grupo internacional de pesquisadores levantou informações desse caráter para 160 países, coletadas entre 2009 e 2013. Em 2009, o total de gases de efeito estufa emitido ao redor do mundo alcançava a marca dos 3,9 bilhões de toneladas. Ao fim do período, essa quantidade já era estimada em 4,5 bilhões, um aumento médio superior a 14%. Os transportes seguem representando a maior porcentagem do total de gases de efeito estufa gerados pelo turismo. Das 4,5 bilhões de toneladas produzidos, quase 2,2 bi caem na conta de aviões e do número de viagens nacionais e internacionais, que vêm crescendo nos últimos anos. Outros dos maiores contribuintes são bens, alimentos e bebidas, agricultura e serviços. Do ranking de países, os Estados Unidos lideram a lista com ampla vantagem. O papel de países em desenvolvimento, porém, se evidencia com a presença da China no segundo lugar, Índia, México e Brasil, na 4ª, 5ª e 6ª colocações, respectivamente. Como destacado pelo site Quartz, o top 10 global é constituído pelos seguintes países: Para formar sua base de dados, a pesquisa utilizou diversas fontes relacionadas a turismo, que incluem desde dados coletados de maneira autônoma por dezenas de nações e levantamentos da Organização Internacional do Turismo, órgão das Nações Unidas. Conforme descrito neste artigo, publicado na revista científica Nature Climate Change, foram considerados vários tipos de gases de efeito estufa, não somente o CO2, que costuma generalizar a categoria. Entre esses poluentes estão o metano, óxido nitroso, CFCs (clorofluorcarbonetos) e HFCs (hidrofluorcarbonetos), por exemplo. “Nós analisamos informações muito detalhadas sobre os gastos dos turistas, incluindo as comidas e os souvenires. Observamos o comércio entre os diferentes países e também dados de emissões de gases do efeito estufa para chegar a um número abrangente sobre a emissão de carbono global no turismo.” Arunima Malik, que liderou o estudo, em entrevista à BBC Além de monitorar as emissões relacionadas ao turismo do país nativo dos viajantes, foi levado em consideração também o total liberado nos seus principais destinos. Isso permitiu que se calculasse com maior precisão o impacto desse ciclo de viagens internacionais, a nível global. De acordo com a IATA (sigla em inglês para Associação Internacional de Transporte Aéreo), o número de passageiros de voos comerciais deve quase dobrar até 2036, alcançando a marca dos 7,8 bilhões anuais. Viagens internacionais representam cerca de um quarto do total atribuído ao turismo. “Mudanças de comportamento por parte dos trabalhadores – viajar menos, preferir destinos mais próximos, pagar uma ‘taxa de compensação’ – se mostraram lentas e pouco efetivas”, disse um dos co-autores do estudo, Ya-Sen Sun, em entrevista à AFP. “Impostos sobre o carbono e novos sistemas de compensação podem ajudar a colocar pressão extra para acelerar esse processo.” O problema é que, caso fosse levada ao pé da letra e tivesse o objetivo de compensar sozinha essa “pegada de carbono”, tal taxação poderia encarecer muito o serviço. Outro co-autor, Manfred Lezen, estimou que, em um voo ida e volta de Melbourne, na Austrália, até o Reino Unido, um passageiro deveria pagar até US$ 425 para quitar por completo as emissões que causou. Voar ida e volta por 900 km pela costa australiana, entre as cidades de Sydney e Brisbane, por exemplo, resultaria em uma taxa extra de US$ 45. As tarifas se referem a janeiro de 2017, e foram calculadas levando em consideração certos critérios, como a distância e a pegada média de carbono por passageiro, conforme explica este comunicado. A BBC destaca que, de acordo com o estudo, a pegada de carbono criada por cada passageiro mostrou ter relação direta com sua renda. Pessoas que ganham mais que US$ 40 mil por ano tem participação maior no total de poluentes, já que cada 10% de aumento de renda a partir desse valor implica um incremento de 13% de emissões relacionadas ao turismo. As tentativas de se reverter esse cenário Segundo a Organização Mundial de Turismo, o turismo internacional movimentou em 2015 US$ 1,5 trilhão, considerando o total gasto por visitantes e despesas internacionais com transporte. Estima-se que o setor cresça a uma taxa de 4% ao ano e empregue um em cada dez trabalhadores no mundo. Assim como acontece com o setor de navegação, a aviação também acabou ficando de fora do principal acordo climático que visa conter emissões de gases de efeito estufa, o Acordo de Paris. Isso acontece porque atribuir emissões a aeronaves é uma tarefa de difícil precisão. Por transitarem entre diferentes aeroportos pelo mundo e espalhar poluição não somente em sua nação de origem, essa regulação acaba sendo feita de forma independente, a partir de resoluções estabelecidas nos próprios países. O Acordo de Paris, assinado por 197 países e que vale desde 2016, pretende garantir que a temperatura média do planeta permaneça, no máximo, 2°C maior em relação aos níveis anteriores à era pré-industrial. Para 2050, o ideal é que a Terra não esquente mais que 1,5ºC. 4% É a taxa anual de crescimento do setor de turismo Em 2016, no entanto, o setor presenciou um importante avanço nesse sentido. Um número de 191 nações estabeleceu um acordo que, até 2020, deve aumentar a responsabilidade de empresas de transporte de passageiros e cargas que excedam o limite de 10 mil toneladas de gases nocivos ao ambiente por ano. Quem se enquadrar nessa categoria precisará destinar 2% de seu faturamento a ações de recuperação ambiental, como reflorestamento e projetos que visam a redução da pegada de carbono. A decisão é importante principalmente em regiões em que o turismo é uma das principais atividades comerciais. O estudo relata que pequenas ilhas turísticas como as Maldivas, Chipre, e os arquipélagos africanos de Seychelles e Ilhas Maurício tem entre 30% e 80% de suas emissões relacionadas ao turismo. Para manter a sua biodiversidade conservada, países como Tailândia e Filipinas, no começo de 2018, estabeleceram medidas ainda mais rigorosas. Representantes das nações asiáticas acordaram o fechamento temporário de algumas das principais praias tidas como destino de turistas, para que haja a recuperação de eventuais danos causados pela poluição e atenuação dos efeitos das mudanças climáticas.
Fonte: Guilherme Eler/ Nexo Jornal