Os mosquitos são os animais mais mortíferos da Terra: eles eliminam cerca de 830.000 pessoas em todo o mundo a cada ano, de acordo com o Gates Notes.
A maioria dessas mortes (mais de 440.000) são casos de malária, doença transmitida por um parasita unicelular carregado por mosquitos fêmeas quando nos picam e sugam nosso sangue.
A Fundação Bill e Melinda Gates faz parte de uma cruzada para erradicar essa e outras doenças mortais transmitidas por mosquitos. Até agora, já doaram cerca de US$ 2 bilhões em subsídios para combater a malária.
O último investimento da fundação, de US$ 4,1 milhões, acaba de ser conferido a uma nova abordagem radical contra a condição: consiste em liberar para o meio ambiente diversos mosquitos machos modificados geneticamente, construídos para essencialmente matar seus próprios filhos.
Oxitec
A fundação firmou um acordo de cooperação com a Oxitec, empresa sediada no Reino Unido, para desenvolver os mosquitos geneticamente alterados.
A Oxitec, empresa de engenharia genética que surgiu da Universidade de Oxford em 2002, já fez experimentos anteriormente com mosquitos modificados. A Fundação Gates já injetou pelo menos US$ 5 milhões na Oxitec para criar tais linhagens de mosquitos assassinos em 2010.
Algumas cepas foram implantadas no Brasil, nas Ilhas Cayman e no Panamá para ajudar a matar o Aedes aegypti, por exemplo, um inseto que pode transmitir zika, dengue e febre amarela. Em certos locais, eles reduziram as populações selvagens de Aedes aegypti em cerca de 90%.
A nova empreitada
Os mais novos mosquitos serão lançados para acasalar com fêmeas naturais portadoras de malária.
Uma vez que apenas as fêmeas picam, os insetos de laboratório não são uma ameaça para a população. Em vez disso, eles se acasalarão com as fêmeas e passarão um gene “autolimitante” para seus descendentes. Esse gene deve matar as futuras gerações de mosquitos fêmeas antes que elas atinjam a idade adulta, fase em que normalmente picam seres humanos.
Os machos podem continuar acasalando com fêmeas por mais dez gerações, embora o processo não seja perfeito. Em um teste no Panamá, a Oxitec acabou liberando cerca de uma fêmea geneticamente modificada para cada 10.000 machos, mas a empresa afirmou que essas fêmeas são livres de doenças e morrem em dias.
Dificuldades
Encontrar novas formas de combater a disseminação da malária está se tornando cada vez mais urgente porque os casos da doença, que haviam caído 62% entre 2000 e 2015, aumentaram desde então em todo o mundo.
Além disso, os cientistas acham que alguns dos parasitas que causam as formas mais mortais da malária estão se tornando mais resistentes às drogas que usamos para tratá-la
Os novos mosquitos da Oxitec podem estar prontos para testes de campo até 2020, o que ofereceria uma bem-vinda esperança, mas a empresa tem enfrentado resistência da população quanto ao uso de táticas de engenharia genética.
A Oxitec espera testar alguns de seus mosquitos feitos em laboratório em Florida Keys, nos EUA, nos próximos meses, mas os residentes já expressaram oposição feroz à ideia no passado. Em 2016, os locais votaram contra a permissão para que os mosquitos geneticamente modificados fossem liberados em Keys.
Preocupação real?
A Oxitec não é a única empresa que está tentando usar mosquitos transgênicos para a prevenção da malária.
Um grupo de cientistas do Imperial College London, no Reino Unido, também está trabalhando em uma mutação que essencialmente esterilizaria mosquitos fêmeas portadores de malária. Esses mosquitos ainda não saíram do laboratório.
Grupos ambientalistas como a Federação Amigos da Terra Internacional, entretanto, se colocam vigorosamente contra os mosquitos geneticamente modificados, argumentando que não sabemos como essas criaturas podem impactar o frágil equilíbrio dos ecossistemas do planeta.
Os cientistas afirmam que o objetivo de liberar mosquitos geneticamente modificados não é matar todos eles, mas sim causar um impacto maior em doenças como zika e malária.
“Se tivermos sucesso, as pessoas nem perceberão”, disse o biólogo molecular Tony Nolan, que trabalha com mosquitos transgênicos no Imperial College London, à Smithsonian Magazine. “Haverá muitos mosquitos por aí”.
Fonte: Natasha Romanzoti, Hypescience