O fraturamento hidráulico, ou fracking, floresce nos Estados Unidos. Com substâncias químicas e alta pressão, formações rochosas subterrâneas são detonadas, liberando petróleo e gás metano. Mas um grande problema desse método é que nem todo o metano é capturado, com grande parte do gás poluente indo parar na atmosfera.
Uma equipe de cientistas de 16 instituições americanas acaba de mostrar num estudo que esse método de extração libera 60% mais metano no ar do que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) supunha até então, o equivalente a 2,3% da produção nacional de gás.
Os pesquisadores apresentaram seus resultados na revista especializada Science. “Este estudo fornece a melhor estimativa, até o momento, do impacto climático das atividades de extração de petróleo e gás nos EUA”, afirma o coautor Jeff Peischl. “É a culminação de dez anos de estudos de cientistas de todo o país.”
Impacto climático
O metano (CH4) é o segundo mais importante gás do efeito estufa de proveniência humana. Embora as quantidades liberadas sejam muito inferiores às do dióxido de carbono (CO2), ele é responsável por cerca de um terço do aquecimento global.
Num prazo de 20 anos, o impacto climático do metano é 86 vezes maior do que o do dióxido de carbono, indica uma análise sobre gás natural do Institute for Advanced Sustainability Studies (IASS), de Berlim.
Comparado com o carvão mineral, até agora o gás natural sempre tem sido considerado a opção energética mais ecológica. O Departamento Federal Alemão de Meio Ambiente (UBA) parte do princípio que as usinas da Europa que produzem eletricidade com gás da Rússia, Noruega ou Holanda emitem 40% menos gases do efeito estufa que usinas a carvão. O relatório do UBA leva também em consideração os vazamentos registrados na extração e transporte do gás na Europa e na Rússia.
Contudo, quando se trata do gás de fracking americano, o balanço climático em relação ao carvão não é mais tão positivo. Segundo o novo estudo publicado nos EUA, as elevadas emissões involuntárias de metano tornam a utilização do gás de fracking tão nociva quanto a do carvão.
Desse modo, ficaria neutralizada a potencial vantagem climática da substituição de carvão por gás natural, concluem os autores. Por isso, os pesquisadores reivindicam melhores formas de produção de gás nos Estados Unidos.
“Através de supervisão correta, pode-se, de fato, reduzir significativamente as emissões do gás natural”, sugere o coautor Colm Sweeney, especialista em atmosfera da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). “A identificação dos vazamentos maiores poderia reduzir consideravelmente as emissões que medimos.”
Transição questionável
O gás natural era considerado, até então, a tecnologia de transição mais ecológica. No entanto, ambientalistas de todo o mundo advertem contra uma ampliação continuada da extração e da infraestrutura gasífera.
Mesmo abandonando-se imediatamente o carvão, é possível que, explorando-se os campos de gás e petróleo já ativos, se ultrapasse a limitação do aquecimento global a 1,5 ºC, estipulada como meta pelo Acordo de Paris, alerta o relatório sobre o gás da Oil Change international, publicado por 20 organizações internacionais para meio ambiente e desenvolvimento.
“O mundo não tem tempo nem espaço para empregar o gás como combustível de transição. Até 2050 o mundo precisa estar totalmente descabornizado, se queremos ter boas chances de evitar uma crise climática de proporções catastróficas”, enfatiza a filipina Lidy Nacipil, coordenadora do Asian Peoples‘ Movement on Debt and Development.
Por esse motivo, a utilização de todos os combustíveis fósseis precisa ser suspensa o quanto antes. “Aqueles que defendem um aceleramento da produção e consumo de gás natural na fase de transição ou são ignorantes em termos de ciência, ou fingem intencionalmente”, acusa Nacipil.
O relatório alerta contra investimentos na infraestrutura fóssil, considera que as energias renováveis já atingiram um nível competitivo, e vê grandes chances de um avanço definitivo das tecnologias de armazenamento na próxima década.
“Gás fóssil é a solução errada. Existem energias renováveis, elas são sustentáveis, eficazes em termos de custo e podem ser utilizadas in loco pelas pessoas mais pobres. Por que precisamos então de gás como ‘tecnologia-ponte’, quando se pode saltar direto para as energias limpas?”, questiona a climatóloga Katherine Kramer, da organização britânica para o desenvolvimento Christian Aid.
Fonte: Deutsche Welle