O que é Nord Stream 2?
Para que serve: O Nord Stream 2 é um gasoduto que permitiria à Alemanha dobrar efetivamente o volume de gás natural que importa da Rússia. Em 2017, comprou um recorde de 53 bilhões de metros cúbicos do combustível russo, cerca de 40% de seu consumo total. O sistema Nord Stream 2 é projetado para transportar até 55 bilhões de metros cúbicos por ano.
Onde fica: Berlim e Moscou estabeleceram uma rota de 1.200 quilômetros, conectando a área de Ust-Luga, perto de São Petersburgo, a Greifswald, no nordeste alemão. As tubulações passariam sob o Mar Báltico, a maior parte seguindo a rota do já existente Nord Stream 1, operacional desde 2011.
Quem paga: A gigante russa da energia Gazprom é a única acionista da Nord Stream 2 AG, a companhia encarregada de implementar o projeto de 9,5 bilhões de euros. Ela também cobre a metade dos custos, o resto é financiado por cinco empresas ocidentais: a Engie, OMV, Royal Dutch Shell, Uniper e Wintershall.
Por que a controvérsia?
Países da União Europeia: A rota planejada passa ao largo de países da Europa Central e Oriental, como Eslováquia e Polônia, impossibilitando-os de arrecadar as lucrativas taxas de trânsito de gás. Além disso, podendo fornecer o produto diretamente a seu principal comprador, a Alemanha, será mais fácil o governo da Rússia trancar os gasodutos existentes que atravessam o Leste Europeu, se quiser.
O projeto também contraria os esforços de Bruxelas para cortar a dependência europeia do gás russo. Em abril de 2018, a Comissão Europeia se recusou a apoiar o projeto, alegando que ele não contribuía para as metas da comunidade de diversificar as reservas de gás. Paralelamente, ambientalistas afirmam que o gasoduto é nocivo para a flora e fauna do Báltico.
Ucrânia: Moscou poderia facilmente suspender o fornecimento de gás à Ucrânia, a fim de pressionar Kiev. O país fatura cerca de 1,7 bilhão de euros por ano em taxas de trânsito do combustível, que constituem uma fonte central de divisas. Sempre que a Rússia fechou as torneiras nos últimos anos, a suspensão de abastecimento prejudicou tanto a Gazprom quanto seus clientes em países ricos da Europa Ocidental, deixando todas as partes ansiosas para superar a crise.
Estados Unidos: No palco global, os críticos acusam Berlim de ignorar os interesses de seus aliados, ao encher os cofres russos num momento de conflito diplomático. O presidente americano, Donald Trump, censurou Berlim em julho de 2018, declarando-o “prisioneiro da Rússia”, por sua política energética. “Dólares de gasoduto para a Rússia não são aceitáveis!”, tuitou.
Os EUA têm, ainda, uma razão prática para se opor ao Nord Stream 2: as companhias do país já começaram a vender para países europeus seu gás obtido por fraturamento hidráulico (fracking), respaldadas pelas autoridades americanas, segundo as quais a Europa deveria procurar alternativas para o produto russo. No entanto, o gás dos EUA é mais caro do que o dos gasodutos russos.
Quais são as implicações políticas do Nord Stream 2?
O ponto de vista alemão: Apesar das críticas, até agora a Alemanha tem defendido sua posição, apresentando o projeto como uma questão puramente econômica. Os políticos favoráveis enfatizam que a Alemanha Ocidental comprava gás da União Soviética mesmo durante a Guerra Fria, e que Moscou é mais dependente das exportações do que vice-versa. Além disso, com os campos de gás natural europeus praticamente esgotados, e a Alemanha abandonando a energia nuclear, Berlim necessita de uma fonte confiável, a fim de possibilitar sua transição duradoura para as fontes renováveis.
Pressionar Moscou em relação à Ucrânia: Ao mesmo tempo, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, tentou aplacar os temores de Kiev no encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, em maio de 2018. “O ponto de vista alemão é que a Ucrânia teria que manter seu papel como nação de trânsito, depois de o Nord Stream 2 ser concluído. É uma questão de significado estratégico”, declarou a chefe de governo. Por sua vez, Putin apenas concedeu que o trânsito de gás por território ucraniano não será suspenso “enquanto for economicamente justificado”.
Obras já começaram
As autoridades alemãs já forneceram todas as licenças necessárias, e em maio de 2018 começou oficialmente a construção no extremo oeste do gasoduto, perto de Greifswald, no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Finlândia e Suécia também aprovaram as obras, enquanto a Dinamarca ainda retém seu consentimento, por razões ambientais.
Segundo os organizadores, contudo, mesmo com o veto dinamarquês o gasoduto simplesmente tomará uma rota alternativa. Segundo o cronograma atual, os trabalhos de construção deverão estar concluídos antes do fim de 2019.
Fonte: Deutsche Welle