Foto: Patrick Rodrigues / Jornal de Santa Catarina / Jornal de Santa Catarina
O uso de agrotóxicos, embora cercado de polêmica, torna os alimentos mais abundantes e baratos no Brasil – e é um dos grandes responsáveis por fazer do país o terceiro maior exportador mundial de alimentos, segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC). Este é um dos principais argumentos dos agricultores a favor do pacote de leis que altera a regulação de pesticidas no Brasil.
Há cerca de dois anos, em um congresso internacional sobre milho e sorgo, realizado no Rio Grande do Sul, o representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Alan Bojanic, disse que será necessário aumentar em 70% a produção de alimentos até 2050, para alimentar uma população estimada em 9,3 bilhões de habitantes.
Nesse cenário, a produção agrícola brasileira tem papel importante para o mundo. Será necessário garantir preço competitivo, com menor perda da produção para as pragas e mudanças climáticas – e aí entram os pesticidas. O representante da FAO, no entanto, citou a contaminação e o mau uso da água entre os desafios a serem enfrentados pelo Brasil para manter o protagonismo no cenário mundial.
Uma parte dos agrotóxicos aplicados nas lavouras vai parar nos rios e no lençol freático, absorvidos pelo solo, ou levados pela água da chuva. Robson Barizon, pesquisador da Embrapa, diz que é possível evitar o problema com o manejo correto do solo – evitar revolver a terra e manter a cobertura da superfície, por exemplo. Mas grande parte da água que vai para tratamento no Brasil tem algum nível de agrotóxicos.
– O fato de ser detectado não quer dizer que represente necessariamente um risco ambiental. Há resoluções que estabelecem os limites para a água potável e a situação no Brasil é confortável, não temos muitos casos que extrapolam esses limites. Mas seria necessário que houvesse uma base de dados maior, há várias lacunas – avalia.
A lei brasileira não prevê a dosagem de pelo menos duas substâncias que têm análise obrigatória nos países da Europa. Assim, embora os resultados sejam positivos, nem sempre correspondem à realidade.
Em Santa Catarina, o Centro de Apoio Operacional do Consumidor do MPSC iniciou em março um programa de coletas de água para análise de resíduos de agrotóxicos, em parceria com a Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento (Aris) e a Agência de Regulação de Serviços Públicos de Santa Catarina (Aresc). O projeto começou pelo Oeste e a Grande Florianópolis, mas deverá cobrir todas as regiões do Estado.
Já foram analisadas amostras de água em Chapecó, São Miguel do Oeste, Maravilha, São Lourenço do Oeste, Pinhalzinho, Coronel Freitas, Águas Frias, Serra Alta, Concórdia, Caçador, Joaçaba, Fraiburgo, Xanxerê, Capinzal, Xaxim, Seara, Irani, Ponte Serrada, Antonio Carlos, Palhoça, Biguaçu, São José e São Bonifácio. A avaliação mediu os níveis de 204 substâncias.
Dos 24 laudos emitidos até agora, só um apresentou resíduos de agrotóxicos. São três substâncias em uma mesma amostra – duas estão dentro dos limites estabelecidos por lei, e uma não faz parte das análises obrigatórias, por isso não tem limite máximo permitido.
A possibilidade de contaminação da água está entre as maiores preocupações dos pesquisadores. Doutora em química, a professora Sonia Corina Hess, da UFSC, diz que há uma defasagem preocupante entre a legislação e o conhecimento científico no Brasil, que torna a contaminação da água difícil de controlar. O problema é dos mais graves: diferente da alimentação, em que podemos fazer escolhas, da água contaminada não há como escapar.
Fonte: DC Clirbs