Um dos representantes globais do Brasil são as Havaianas, as sandálias de dedo das Alpargatas, vendidas em cerca de 100 mercados internacionais como acessório cobiçado por muitos estrangeiros que querem levar uma lembrança do país. Mas foi uma marca estrangeira que decidiu usar a cana-de-açúcar nacional como principal matéria-prima de seus chinelos. A Allbirds, de São Francisco, na Califórnia (EUA), lançou no início do mês a linha de calçados Sugarfootwear, vendida nos Estados Unidos, Austrália, Canadá e Nova Zelândia.
O material usado na fabricação dos chinelos de dedo é a resina EVA (copolímero etileno acetato de vinila), da Braskem, feita a partir de fonte renovável, a cana-de-açúcar, assim como o polietileno, ou plástico verde, chamado de I’m green™. No mercado americano, os chinelos da Allbirds custam US$ 35. As tiras, que contam com um forro de microfibra e são vendidas avulsas por US$ 15, podem ser intercambiáveis.
A Allbirds tem como apelo o uso de matérias-primas renováveis. Atualmente, oferece três linhas de calçados: wool (lã), tree (árvore) e sugar (da cana-de-açúcar). Com isso, conseguiu atrair o ator e ativista Leonardo DiCaprio para o seu quadro de investidores. O anúncio foi feito na conta do Twitter do artista no dia 1º, mesmo dia do lançamento dos chinelos com EVA brasileiro.
Com cerca de dois anos de mercado, a Allbirds já conseguiu se tornar referência entre aqueles que procuram produtos que levam em consideração a sustentabilidade em seu processo. Em março, lançou uma linha de calçados feitos com tecido produzido a partir da fibra de eucalipto. Quase toda a água usada na produção do material têxtil é reutilizada e as árvores são cortadas de maneira sustentável.
As embalagens também têm a pegada ambiental e são feitas com um papelão muito fino. O desenho procurou minimizar o desperdício de material e até de recursos com o transporte. Por esses diferenciais, a Allbirds se tornou uma das marcas queridinhas de quem trabalha no Vale do Silício, como designers e programadores.
Certificação
Para não ficar apenas no marketing, toda sua cadeia de suprimentos é auditada e certificada quanto à redução do impacto ambiental no seu processo produtivo. Fundada depois de conseguir recursos pelo Kickstarter, maior site de financiamento coletivo do mundo, a Allbirds começou sua história com tênis de corrida feitos de lã de ovelha da raça merino. Não é uma lã qualquer. Para seguir o conceito da marca, que oferece produtos que têm como apelo o respeito ao meio ambiente, o material é comprado de criadores da Nova Zelândia que praticam a agricultura sustentável.
A startup vendeu cerca de 1 milhão de pares do tênis de lã desde o lançamento, em julho de 2016. Sem detalhar suas cifras, os sócios da Allbirds dizem que o negócio é lucrativo desde o primeiro produto. Hoje, a empresa emprega 130 pessoas e atraiu outras celebridades além de DiCaprio, como o jogador de basquete Andre Iguodala, do Golden State Warriors. Entre os investidores, Neil Blumenthal, CEO da marca de óculos Warby Parker, se tornou um consultor do conselho.
Mais produtos
A parceria com a Braskem começou com os chinelos, mas poderá avançar. Hoje, a sola dos calçados da Allbirds também é verde, feita a partir do poliuretano obtido na extração do óleo da mamona. No lançamento dos chinelos com resina EVA obtida da cana-de-açúcar, os sócios da empresa falaram dos planos de usar a matéria-prima brasileira, chamada de “SweetFoam”, em todos os seus modelos. Joey Zwillinger, um dos co-fundadores, diz que vem recebendo consultas de outras empresas do setor de calçados interessadas na tecnologia utilizada pela Allbirds.
Com a chegada de DiCaprio ao time de investidores, a expectativa dos fundadores é de que a expansão possa se acelerar. “É um grande endosso do qual estamos muito orgulhosos”, declarou o cofundador Tim Brown. A Braskem informa que, por enquanto, a Allbirds é a primeira empresa a usar o EVA verde. Procurada para comentar se pretende utilizar a matéria-prima obtida da cana-de-açúcar nas Havaianas, a Alpargatas não respondeu aos contatos. Na área ambiental, a empresa brasileira atua junto à organização não governamental Conservação Internacional e destina 7% das vendas líquidas das sandálias da linha Ipê para esses projetos.
Fonte: Correio Braziliense