Os especialistas em saúde ambiental Douglas Brugge e Kevin James Lane alertam para um possível novo vilão da saúde humana: as partículas finas de poluição. Com menos de 2,5 milionésimos de metro, o material particulado fino é conhecido como PM2.5 e foi o quinto motivo de mortes no mundo em 2015. São aproximadamente 4,1 milhões de mortes anualmente por causa do material. Pesquisas sugerem que o PM2.5 sozinho causa mais mortes e doenças do que todas as outras exposições ambientais juntas.
“Os países desenvolvidos fizeram progressos, nas últimas décdas, na redução da poluição atmosférica causada por partículas. Mas ainda há muito o que ser feito para reduzir ainda mais esse risco”, afirma o professor de saúde pública da Universidade de Tuffs, Douglas Brugge, em artigo do The Conversation.
Brugge explica que a situação piorou nos países em desenvolvimento, em especial na China e na Índia. Ambos se industrializaram muito rápido e em escalas mais amplas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 90% das crianças do mundo respiram ar tão poluído que colocam sua saúde e desenvolvimento em risco. Os cientistas afirmam que novas pesquisas estão conectando a exposição ao PM2.5 a uma série alarmante de efeitos sobre a saúde.
Nos Estados Unidos, país natal dos especialistas, os esforços do governo de Donald Trump em apoiar a indústria de combustível fóssil poderiam aumentar essas emissões ao invés de reduzi-las. As partículas finas de poluição são produzidas, essencialmente, pela combustão. Elas podem ser provenientes de atividades industriais, veículos automoteres, queima de combustíveis e até mesmo da cozinha.
Os incêndios florestais também são uma fonte importante e crescente de disseminação dessas partículas, contam os especialistas. Os ventos podem transportar emissões dessas queimas de florestas a centenas de quilômetros das regiões de fogo. Em agosto de 2018, reguladores ambientais em Michigan relataram que partículas finas de incêndios florestais na Califórnia estavam afetando a qualidade do ar do seu estado.
As principais consequências para a saúde humana, decorrente da proliferação dessas partículas, são as doenças respiratórias e cardiovasculares, englobando principalmente ataques cardíacos e derrames. “Pesquisas emergentes continuam a expandir os limites dos impactos na saúde da exposição à PM2.5. Para nós, a preocupação é que parece afetar o desenvolvimento do cérebro e tem impactos cognitivos adversos”, dizem os especialistas.
Segundo Burgge e Lane, as partículas pequenas podem viajar diretamente do nariz para o cérebro através do nervo olfativo. Acredita-se que tanto o PM2.5 quanto partículas ainda menores, as chamadas ultrafinas, afetam o sistema nervoso central das crianças. A inalação desse material também pode acelerar o ritmo de declínio cognitivo em adultos e aumentar o risco dessas pessoas desenvolverem Alzheimer.
“O PM2.5 ganhou grande parte da atenção nos últimos tempos, mas os ultrafinos, por exemplo, são menos explorados e, por isso, não são considerados em estimativas de risco ou regulamentação do ar”, afirmam os especialistas.
No final de outubro de 2018, a OMS convocou uma conferência especial para discutir a poluição e a saúde global do ar. “O interesse contínuo da agência nesse assunto parece ser motivado por estimativas de risco que mostram que a poluição do ar é uma preocupação de magnitude similar a metas mais tradicionais de saúde pública, como a dieta e a atividade física”, relatam os especialistas.
Os conselheiros endossaram a meta de reduzir as mortes globais em dois terços até 2030. “É um objetivo ambicioso, mas pode concentrar atenção em estratégias como a redução das barreiras econômicas que dificultam a implantação de tecnologias de controle de poluição em países em desenvolvimento.”
Fonte: Revista Galileu