A cada vez que inspiramos, um sem número de partículas microscópicas suspensas no ar invadem nosso corpo, chegando até os nossos alvéolos pulmonares. As consequências são graves: partículas finas de poluição, que são mais dificilmente “filtradas” pelo nosso organismo, é responsável por provocar aproximadamente 4,1 milhões de mortes anualmente em todo o mundo.
De acordo com a Plataforma da Qualidade do Ar, iniciativa da ONG Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), o Brasil não apenas está exposto a essas micropartículas danosas à saúde como também apresenta uma falha grave em relação ao monitoramento dos poluentes: na maior parte do país, a análise da poluição do ar não é devidamente calculada.
Somente quatro estados fazem o monitoramento dos poluentes conhecidos como PM2.5 (material finíssimo de tamanho de 2,5 milionésimos de metro): Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, e Espírito Santo, sendo que somente nesses dois últimos o MP2,5 é regulado. O problema, no entanto, não se resume à partícula. Dos 27 estados, apenas nove realizam algum tipo de monitoramento da qualidade do ar.
“Tudo no Brasil que aborda a qualidade do ar é descrito em resoluções, como do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), não por lei. Isso faz uma grande diferença, pois tem a regulamentação de monitorar, mas não direciona financiamento”, conta a meteorologista, Beatriz Oyama, que organizou a plataforma.
Assim, fica sob responsabilidade dos próprios estados realizar esse monitoramento. Na maioria dos casos, as estações são instaladas por indústrias como parte do processo de licenciamento ambiental, mas fica longe de atender todo o país. Não há qualquer tipo de controle sobre a poluição do ar em todo a região Norte, por exemplo. No Centro-Oeste, é feito somente em Goiás e no Distrito Federal. No Nordeste, se restringe à Bahia. Já no Sul e no Sudeste, somente Santa Catarina não possui nenhum tipo de controle.
“A gente observa que enquanto são tomadas medidas para a redução de poluentes primários, como fumaça e partículas maiores (MP10), o aumento no número de carros apresenta uma tendência de piora na poluição por MP 2,5 e por ozônio”, explica Oyama.
“Esses são os piores materiais a serem monitorados. Ele são poluentes secundários, que se formam a partir de outros poluentes”, afirma a pesquisadora, que utiliza o Parque do Ibirapuera como exemplo. “O local tem cara de que está mais protegido da poluição e, de fato, os poluentes primários chegam um pouco menos lá. Mas existe um poluente que ninguém comenta porque demora para se formar na atmosfera, que é o ozônio.” Com formação química complexa, a substância é formada pela incidência da radiação solar em óxidos de nitrogênio (NOx). “Dessa forma, o ozônio não tem tem concentração máxima no horário dos picos de trânsito, mas sim no final da tarde”, revela. “Ele vai se formando ao longo do dia, pela incidência solar, e desaparece durante a noite”.
De acordo com a OMS, 90% da população mundial respira ar poluído, matando 7 milhões de pessoas todos os anos. No Brasil, a média é de 50 mil óbitos por doenças desencadeadas pela poluição do ar todos os anos.
Fonte: Revista Galileu