Detalhando o abismo entre a real situação das emissões de CO2 e aquela que seria desejável, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgou nesta terça-feira (27/11) seu relatório anual sobre a emissão de gases de efeito estufa, antes da cúpula climática COP24 na próxima semana na Polônia.
O relatório concluiu que os atuais compromissos assumidos pelos países no Acordo de Paris estão aquém do necessário para manter o aquecimento global abaixo de 2°C. O lapso entre a real situação da proteção climática e aquela que realmente precisa-se alcançar é conhecido como o hiato de emissões.
O Pnuma adverte que, se não for fechado o hiato de emissões até 2030, a possibilidade de limitar o aquecimento a um máximo de 2° Celsius será inacessível. O relatório também levanta preocupações sobre a minguante probabilidade de alcançar o teto de aquecimento de 1,5°C, muito mais desejável.
Se as tendências atuais continuarem como estão, o aquecimento provavelmente atingirá 3,2°C até o final do século, de acordo com os autores do relatório.
“Se o estudo do IPCC [Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas] representou um alarme global de incêndio, este relatório é a investigação incendiária”, diz em comunicado Joyce Msuya, vice-diretora-executiva do Pnuma. “Estamos alimentando este fogo enquanto os meios para extingui-lo estão ao nosso alcance.”
O relatório também destaca como as emissões de CO2 aumentaram em 2017 após uma redução de três anos, refreando o otimismo de que as emissões globais possam estar chegando ao máximo.
Segundo a equipe internacional de cientistas que preparou a avaliação, limitar o aquecimento a 2°C exigiria triplicar os compromissos nacionais assumidos no Acordo de Paris. Isso se destina apenas a atingir a meta de 2°C. Para manter o aquecimento global a 1,5°C, os esforços precisariam ser quintuplicados.
Philip Drost, coordenador do comitê de orientação do relatório, aponta Costa Rica, Suécia e Marrocos como os países “incrivelmente ambiciosos” quando se trata de seus objetivos e esforços.
Ele explica ainda que alguns países que vão além de seus compromissos podem não ter estabelecido metas suficientemente ambiciosas, deixando espaço para melhorias.
“Nem tudo são más notícias”, afirma Drost à DW, apontando para a inovação em torno da proteção climática e formas concretas de os países melhorarem seu desempenho. “Todo mundo é capaz de encontrar algo em que podem melhorar.”
As áreas sugeridas, onde esse hiato pode ser fechado, incluem o desenvolvimento de energias renováveis, eletrodomésticos e carros energeticamente eficientes e a reversão do desmatamento.
“O relatório mostra que os países têm poucas desculpas”, diz Jan Burck, do grupo ambiental alemão Germanwatch, que não participou do estudo. “As energias renováveis são muito baratas, a proteção climática traz fortes cobenefícios – como o ar mais limpo – e as vantagens para o desenvolvimento sustentável são evidentes.”
Ele acrescentou que uma rápida e completa eliminação do carvão seria decisiva para fechar o hiato.
A política fiscal – especialmente a precificação de carbono – também foi um dos principais focos do relatório.
Brigitte Knopf, secretária-geral do Mercator Research Institute e um dos 20 autores do relatório, diz que o “hiato político” deve ser abordado. “Eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis e estabelecer um preço nas emissões de carbono seriam fundamentais para fechar essa lacuna e cumprir o Acordo de Paris”, disse Knopf em comunicado.
Tecnologias inovadoras também foram consideradas cruciais: o Pnuma apontou para um “impulso crescente do setor privado” como um ponto de otimismo.
Segundo o relatório, é tecnicamente possível preencher o hiato de emissões, o que implica que a verdadeira questão é se há vontade política e econômica para realizar as mudanças necessárias.
“Vontade política – no final, essa sempre é a questão”, diz Drost. “É realmente difícil prever o que esta COP trará.”
Embora o relatório tenha a intenção de influenciar a COP24 na próxima semana e disponibilizar muitas soluções, ainda não se sabe se tal alerta causará verdadeiras mudanças políticas entre as nações.
Fonte: Deutsche Welle