Passaram-se apenas três anos, mas as eufóricas comemorações em torno do Acordo de Paris sobre o clima parecem ter se tornado uma memória distante.
Os mais de 190 países que participaram da conferência da ONU na capital francesa em 2015 conseguiram, após intensas discussões, chegar a um acordo que estabeleceu que o aumento da temperatura da Terra deveria ser limitado a 2º C acima dos níveis pré-industriais.
Na ocasião, a então ministra alemã do Meio Ambiente, Barbara Hendricks, chegou a afirmar que o acordo era um momento histórico para a proteção do clima. “A maioria das crianças de hoje ainda estarão aqui no final do século. Por isso é importante que a temperatura não aumente mais do que 2º C”, disse na época.
Agora, enquanto representantes de países de todas as partes do mundo voltam a se reunir para discutir o clima na 24ª reunião das Conferências das Partes (COP 24), na cidade de Katowice, na Polônia, a euforia de Paris parece ter se dissipado.
Um ano depois do Acordo de Paris, os americanos elegeram Donald Trump como presidente. Não demorou muito para que ele acabasse retirando os Estados Unidos do acordo. “Como presidente, tenho uma só obrigação, e essa obrigação é para com o povo americano”, afirmou Trump ao anunciar a decisão na época. Ele alegou que as metas climáticas dão prejuízos à economia e ao mercado de trabalho americanos, além de minar a soberania do país.
Alguns países, como Rússia, Irã e Iraque, ainda não ratificaram o acordo. Outros como o Brasil e a Austrália, que vivenciam o avanço do populismo de direita, praticamente retiraram o meio ambiente de suas agendas. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, já sinalizou a intenção de retirar o país do tratado. O Brasil, além disso, retirou sua candidatura como sede da COP em 2019.
Recentemente, o Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em Inglês), que envolve cerca de 900 cientistas de todo o mundo, alertou que a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa é ainda mais urgente do que se previa.
Um relatório do IPCC destacou efeitos como o derretimento de geleiras, aumento do nível do mar e a maior ocorrência de temperaturas extremas, que aconteceria com rapidez maior do que a esperada. Segundo o painel, as metas de Paris, na verdade, já não são mais suficientes.
Até mesmo autoridades dos EUA alertaram para futuras catástrofes associadas ao clima, apesar de Trump expressar dúvidas sobre a veracidade em torno do aquecimento global. Um relatório do próprio governo americano afirma que o aumento das temperaturas deverá causar sérios danos não apenas ao meio ambiente, mas à economia do país, a não ser que ações sejam tomadas imediatamente.
Esses alertas aumentaram as esperanças de que a COP 24, iniciada na Polônia neste domingo (02/12), possa renovar o ânimo em torno do Acordo de Paris. Para tal, esperam ambientalistas, os países da ONU devem trabalhar juntos, coordenando as metas e mantendo, acima de tudo, a transparência. Os países ricos precisam, ainda, demonstrar a solidariedade que prometeram para com as nações em desenvolvimento em 2015.
As nações industrializadas prometeram que a partir de 2020 disponibilizariam anualmente 100 bilhões de dólares para ajudar os países menos desenvolvidos a reduzir suas emissões de carbono e se adaptarem às mudanças climáticas.
“As nações em desenvolvimento devem estar aptas a confiar no apoio financeiro prometido”, disse há poucos dias a ministra alemã do Meio Ambiente, Svenja Schutze. Muito disso, porém, vai depender da União Europeia (UE), que costuma ser mais progressista do que os EUA em questões de meio ambiente.
A liderança da UE é mais necessária do que nunca, mas, até mesmo na Europa, a questão ambiental não é levada tão a sério. Muitos países do Leste Europeu temem que as medidas para reduzir as emissões de gases poluidores possam afetar suas economias.
“A UE sempre teve papel importante e construtivo nessas negociações, como uma pioneira da diplomacia ambiental”, diz Lutz Weischer, do grupo ambientalista alemão Germanwatch. “Mas ainda é muito hesitante, fraca, e deveria estabelecer metas mais ambiciosas para Katowice.”
Os países do bloco europeu também lutam para atingir suas próprias metas climáticas até 2020. Na Alemanha, por exemplo, a emissão de gases causadores do efeito estufa voltou a aumentar.
“Os países que mais tomam ações, no momento, são os que mais sofrem os efeitos das mudanças climáticas”, observa Weischer. “Há uma coalizão de pequenas nações insulares e países em desenvolvimento que tem como objetivo utilizar apenas energias renováveis. Países que se encontram sob forte pressão da indústria dos combustíveis fósseis, como os EUA e a Arábia Saudita, agem de forma mais lenta.”
Weischer destaca que, recentemente, as inovações tecnológicas tiveram novos impulsos, fazendo com que as energias renováveis tivessem maior competitividade em relação aos combustíveis fósseis. A mobilidade elétrica passou a ser uma alternativa real aos motores de combustão.
Os governos, entretanto, devem agir em conjunto para acelerar esse processo. “O trem da proteção ao clima não pode mais ser descarrilado”, diz Weischer. “O problema é que esse trem não anda rápido o suficiente”.
Fonte: Deutsche Welle