A gestora ambiental Cristiane Mazzeti trabalha como especialista em florestas no Greenpeace, organização não-governamental (ONG) com escritórios em mais de 41 países. Para estar próxima das áreas mais desmatadas, ela mora em Manaus e viaja com frequência para o sul do Amazonas e para o Pará. Suas tarefas têm como foco pressionar o governo e empresas privadas para uma política mais sustentável.
O dia a dia é dinâmico. Um expediente pode ocorrer no escritório, pensando em campanhas de preservação do meio ambiente. Na semana seguinte, Cristiane talvez esteja caminhando por uma área recém-queimada para exploração da madeira.
Abaixo, veja o que a especialista conta sobre trabalhar com gestão ambiental no terceiro setor:
Tarefas de uma especialista em florestas
“Eu tenho muitos afazeres – desde dar entrevistas até fazer pesquisas. Planejo e executo campanhas de preservação ambiental, coordeno times multidisciplinares e defino estratégias para combater um problema. No caso do desmatamento no sul do Amazonas, por exemplo, pesquiso quem está envolvido, vejo com quem podemos falar e penso em parcerias.
O trabalho tem várias esferas: divulgar na mídia o que está acontecendo, conversar com comunidades afetadas pelas queimadas ou incêndios florestais, fazer relatórios com ideias de como zerar o desmatamento. Depois, buscamos outras ONGs e escritórios do Greenpeace que apoiem essa causa. Até relação com parlamentares acontece: em 2015, submetemos uma proposta de lei sobre o desmatamento, por exemplo, e fomos a várias audiências públicas.”
Dicas de como ser selecionado para uma vaga em ONG
“Para trabalhar no Greenpeace, por exemplo, não é exigido que se tenha uma especialização. Mas, como a formação em gestão ambiental aborda vários temas, é interessante que o profissional vá sentindo, ao longo da carreira, se precisa focar em algum tema e estudá-lo mais a fundo.
No caso da minha vaga, de especialista em florestas, alguns critérios importantes são: conteúdo que o profissional domina, experiências extracurriculares, estágio, habilidade de comunicação e entendimento da causa de problemas ambientais.”
Qualidade de vida e rotina
“Como preciso estar perto do foco do problema do desmatamento, me mudei para Manaus. Não tive dificuldade em me adaptar, porque já conhecia a cidade. Tem quem estranhe o clima e a cultura diferentes, mas não tem jeito: para trabalhar com Amazônia, precisa estar perto dela.
A rotina é uma mescla: tem o tempo de ficar no escritório, fazendo pesquisas e elaborando relatórios; e tem a parte de ir a campo. Não dá para viajar todo o tempo porque isso gera custos. Mas costumamos ir a reuniões em Brasília ou a visitas ao sul do Amazonas e ao Pará.
Quanto ao salário, se a gente comparar o terceiro setor com as empresas privadas, a remuneração é menor. Mas, na minha posição, consigo viver bem – apesar de saber que é um padrão distante do que o setor privado poderia proporcionar. Mas a satisfação pessoal é muito grande. É uma causa pela qual luto. É corrido, mas, no fim do dia, a gente vê que fez algo importante.”
A melhor memória
“Em 2016, a gente passou um tempo em uma terra indígena, fazendo campanha no Pará contra a construção de uma hidrelétrica. Foi muito interessante. Aprendi muito com a comunidade – com a cultura, com a história.
Esse trabalho de campo costuma ser muito rico. Gosto de conversar com pequenos agricultores. Recentemente, fui ao Cerrado, no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde o agronegócio tem se expandido. Quis entender a dinâmica, como estão vivendo as pessoas, onde está avançando a cultura da soja. Só assim dá para entender todo o conflito.”
A cena mais difícil
“Há um tempo, a gente foi a uma área recém-desmatada para chamar atenção das pessoas. Árvores grandes que seriam vendidas e regiões que seriam queimadas. Foi muito triste. Um sentimento de morte.”
Fonte: G1