Estudantes do mundo inteiro participaram nesta sexta-feira (15/03) de uma greve em prol do meio ambiente. O evento global faz parte do movimento “Fridays for Future”, iniciado pela estudante sueca Greta Thunberg.
Coordenado através das mídias sociais por voluntários de mais de 100 países, o ato contou com mais de 2 mil manifestações espalhadas pelo mundo. Da Austrália aos Estados Unidos, passando por Índia, Uganda, Filipinas e Nepal, crianças, adolescentes e adultos se ergueram contra o que chamam de uma “crise ambiental”.
Só na Alemanha, cerca de 200 locais serviram como palco para os protestos, com a capital Berlim recebendo mais de 20 mil estudantes. O que motivou tantos jovens a trocarem as salas de aula pelas ruas nos quatro cantos do mundo é explicado pelas palavras dos próprios ativistas.
Leia alguns depoimentos:
“A pressão sobre os políticos está crescendo” – Daisy, 16 anos, Austrália
Matar aula é um símbolo de dedicação: estamos sacrificando nossa educação para que possamos ter um futuro. O clima nas greves é insano. Às vezes quando você levanta a voz se sente como um prego saltado que as pessoas querem esmagar de volta para baixo. Mas nas paralizações parece que ascendemos todos juntos. Nossas demandas são: barrar a construção de Adami [uma nova mina de carvão em Queensland], barrar o uso de mais carvão ou gás, e 100% de energia renovável até 2030.
Nosso clima já está cada vez mais imprevisível e intenso. No ano passado, logo após uma seca, houve severas enchentes em Queensland e milhares de pessoas tiveram de deixar suas casas. Em outras partes do estado, florestas tropicais que nunca tinham visto fogo estavam subitamente em chamas. Eu estava no noroeste de New South Wales na primavera do ano passado. Nessa época do ano, normalmente há milhares de flores por lá – é incrível. Em vez disso, não havia nada, estava tudo morto. Havia esqueletos de canguru por toda parte.
A resposta do nosso governo, até agora, tem sido abissal. Mas a pressão sobre os políticos está crescendo. Precisamos continuar nos mexendo depois da greve global. Diante das eleições federais australianas em maio, continuaremos a lutar pela ação climática. Essa será uma eleição orientada para o clima: pode ser a decisiva. No ano passado, a ONU alertou que temos apenas 12 anos para tomar medidas drásticas para evitar a catástrofe climática – são apenas mais quatro mandatos.
“Estamos fazendo isso porque estamos aterrorizados” – Mia, 15 anos, e Katie, 18, Canadá
Katie: Não somos representados frequentemente em grandes decisões que dizem respeito ao meio ambiente ou às mudanças climáticas. Então, quando jovens se erguem e provam que estamos de olho nos líderes políticos e os desafiamos, acho que é realmente chocante para algumas pessoas. Às vezes os adultos não percebem a gravidade do que os jovens fazem. Não temos tempo: não podemos mais nos dar ao luxo de esperar.
Mia: Os jovens que estão indo às ruas em greve não o fazem porque querem se tornar famosos ou porque querem popularidade. Fazemos isso porque podemos não ter um futuro, e estamos fazendo algo a esse respeito. Fazemos isso porque estamos aterrorizados: todos nós estamos. Trata-se de uma crise, mas é muito mais do que apenas um item na lista de crises a serem enfrentadas: estamos caminhando para um apocalipse climático. Os adultos ficam loucos porque estamos saindo da escola, mas eles deviam ver o que nós estamos mostrando. As pessoas precisam começar a levar isso a sério.
“Nós podemos fazer a diferença” – Nakabuye, 20 anos, Uganda
Um dos meus professores me disse que a mudança climática é o plano de Deus e que deverá acontecer. Tentei informar alguns professores, mas muitos pensam que têm mais informações só porque são mais velhos. Digo a eles que a mudança climática é real e que é nossa responsabilidade fazer algo, pois podemos fazer a diferença.
A desertificação já está acontecendo em Uganda. Portanto, se não agirmos agora, não acho que haverá vida nas próximas décadas. Às vezes, ao acordarmos, algumas partes da floresta acabaram de desaparecer. Além disso, há os planos do oleoduto do distrito de Hoima. E a poluição plástica está presente em todos os lugares. Precisamos de desenvolvimento, mas não às custas do nosso futuro. Temos a chance de migrar para energia renovável. Participação ativa e inclusão em questões que afetam nossas vidas são cruciais, especialmente quando os adultos priorizam o lucro. Sou fissurada em mudanças: não consigo parar de pensar nisso. Se não nós, então quem as fará?
“Nosso meio ambiente não deveria ser uma guerra política” – Max, 17 anos, EUA
Aprendo na escola que a mudança climática é descaradamente real e, em seguida, acesso a internet e vejo Trump tuitando algo que seria motivo de chacota na sala de aula. Há uma enorme contradição entre o que nos ensinam nas escolas e o que realmente está acontecendo. Isso é parte da razão que nos leva a entrar em greve.
Acho que as redes sociais têm desempenhado um papel importante ao nos permitir ver que temos uma voz, e que movimentos como esse podem inspirar a mudança não apenas no público em geral, mas entre nossos políticos – porque é isso que realmente precisa ser inspirado neste momento. É super frustrante ver adultos defendendo argumentos mesquinhos e improdutivos sobre a mudança climática.
Limitar as emissões de carbono, um “Novo Acordo Verde”, e não investir em projetos de infraestrutura de combustíveis fósseis são algumas de nossas principais demandas. Nosso meio ambiente não deveria ser uma guerra política. Seja você republicano ou democrata, você deve se preocupar com o futuro de seus filhos e deste planeta.
“Os estudantes agora estão tendo que se educar” – Anna, 18 anos, Reino Unido
As greves nas escolas têm feito algo que nunca aconteceu antes: unido estudantes em todo o mundo em um único movimento.
Sempre usamos palavras como “crise” e “catástrofe” porque é isso o que são. O problema é que a mídia e o sistema educacional não as usam. Sou estudante de geografia e a “crise climática” sequer aparece nos meus livros didáticos. Os estudantes agora estão tendo que se educar. É quase como se os jovens tivessem sido mantidos alienados pela mídia e pelo sistema educacional. Eu acho que quando os jovens se tornam mais conscientes, isso choca. Conheci muitos que sentem que sua saúde mental realmente piorou.
É importante lembrar que não se trata apenas do nosso futuro. Trata-se da injustiça e do sofrimento já observados em países como os das ilhas do Pacífico. Podemos tentar garantir que o governo admita sua responsabilidade e tente mitigar a crise. Não podemos barrá-la, mas possivelmente podemos ao menos reduzir seus efeitos.
“A crise já está aqui” – Valentina, 17 anos, Chile
Sem dúvida, o movimento das greves escolares pode alcançar grandes mudanças. Consideramos vital para nós, como estudantes, exigir um futuro seguro – um futuro no qual possamos viver, sobretudo porque as medidas que nosso governo tem tomado para ajudar o planeta não são suficientes, infelizmente. Não estamos falando de uma crise futura – a crise já está aqui: fome, seca, desmatamento e a extinção da flora e da fauna.
Não vemos isso no noticiário, vemos representados apenas os interesses políticos e econômicos. O aparato estatal deve evoluir para lidar com esses fatores sociais. Em termos de políticas ambientais e sociais, o Chile está décadas atrás em comparação com a Europa ou o Canadá. É por isso que é nosso dever neste momento de crise informar a comunidade sobre como suas ações afetam o planeta. Estamos atrás de um futuro, não só para nós, mas também para a próxima geração de todas as espécies e grupos étnicos.
“A mudança climática acontece bem debaixo do nosso nariz” – Emily, 17 anos, Hong Kong
Temos acompanhado o que Greta Thunberg tem feito na Suécia e achamos que Hong Kong seria o lugar perfeito para uma greve, pois apresenta inúmeros sinais da mudança climática. O nível do mar no porto está subindo e continua ficando mais quente. Há tufões muito fortes que pioram a cada ano – em setembro tivemos o mais forte já registrado. O preocupante é que isso está acontecendo bem debaixo do nosso nariz e ninguém está fazendo nada a respeito.
Em Hong Kong, atualmente, usamos cerca de 1% de energia renovável, e a meta é apenas aumentar alguns pontos percentuais. Estamos muito atrás de outros países, e isso é decepcionante. Hong Kong é coberta de edifícios e a maioria deles poderia ter painéis solares. A cidade tem muito potencial para energia renovável. Esse é um dos nossos principais objetivos com os quais queremos pressionar o governo.
Para fins de clareza e brevidade, as entrevistas foram editadas.
Fonte: Deutsche Welle