Mais de dois milhões de pessoas foram afetadas pela passagem do ciclone Idai por Moçambique, Zimbábue e Malaui, no sul da África, e estão precisando de comida, água limpa e abrigo, alertaram agências humanitárias, prevendo que uma “bomba relógio” de doenças transmitidas pela água deve logo estourar na região.
Moçambique foi atingida pelo ciclone na noite de 14 de março, quando o Idai fustigou a cidade portuária de Beira, na região central do país, levando os rios Buzi e Pungue a irromper de suas margens e deixar vilas inteiras alagadas, com corpos flutuando sobre as águas. Após ter passado por Moçambique, o Idai seguiu para o Zimbábue e o Malaui, onde também inundou diversas vilas, destruiu casas e deixou um rastro de morte.
A ONU fez um apelo de emergência nesta terça-feira (26/03) pedindo 282 milhões de dólares ao longo dos próximos três meses para ajudar 1,85 milhão de pessoas em Moçambique. Campanhas similares devem ser lançadas nos próximos dias no Zimbábue e no Malaui.
“Algumas pessoas estão em situações críticas de ameaça à vida. Algumas, tristemente, perderam seus meios de subsistência, o que, embora seja uma tragédia terrível, não é uma ameaça à vida imediata”, disse o coordenador do Escritório das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários (Ocha), Sebastian Rhodes Stampa.
Quase 500 mil hectares de terras foram inundados em Moçambique, danificando colheitas inteiras, e dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas, segundo a Ocha.
O número de mortes nos três países, de ao menos 686 pessoas, ainda é “muito preliminar”, segundo autoridades, que afirmaram que mais corpos serão encontrados quando as águas da inundação baixarem. Centenas de pessoas ainda estão desaparecidas em Moçambique e no Zimbábue.
Além disso, a Federação Internacional da Cruz Vermelha e Sociedades do Crescente Vermelho (IFRC) alertou que a região está diante de uma “bomba relógio” de doenças prestes a estourar.
O chefe da IFRC, Elhadj As Sy, alertou para o alto risco de doenças transmitidas pela água como cólera e tifo, assim como a malária, endêmica na região. Como ainda há água estagnada em muitas regiões, corpos em decomposição e falta de saneamento em abrigos lotados, é provável que muitas áreas se tornem criadouros desse tipo de doenças.
O governo de Moçambique já identificou alguns casos de suspeita de cólera, segundo Sy. “Esse é o motivo pelo qual estou soando o alarme. Muitas dessas doenças transmitidas pela água são um grande risco, mas elas podem ser prevenidas”, disse.
“A pior coisa são as crianças chorando e procurando seus pais… é de partir o coração”, disse, acrescentando que ainda não está claro quantas crianças ficaram órfãs.
Os serviços médicos na região já estavam sobrecarregados antes mesmo do ciclone chegar, segundo o grupo de ajuda humanitária Médicos Sem Fronteiras. Cerca de 17 centros de saúde ficaram sem teto ou cobertura após o ciclone, informou a organização.
Com o recuo das águas nesta terça-feira, liberando rotas de acesso, a expectativa é de que os sobreviventes do ciclone comecem a receber remédios, comida e tendas. Buzi, uma das vilas mais afetadas em Moçambique, só se tornou acessível por terra nesta segunda-feira.
Stampa, da Ocha, afirmou que há missões de ajuda humanitária acessando a região por via aérea e por via terrestre para que o auxílio possa ser entregue em grande volume. “Estamos levando comida e abrigo agora – isso será entregue (nesta terça-feira) tanto no norte como no sul”, disse. “Agora será muito mais rápido levar ajuda”, disse.
Os Estados Unidos afirmaram terem doado quase 3,4 milhões de dólares para ajuda alimentar de emergência ao Programa Alimentar Mundial da ONU.
Fonte: Deutsche Welle