Em todo o mundo, as geleiras estão desaparecendo em ritmo mais rápido do que os cientistas imaginavam, e somente nos Alpes, mais de 90% delas podem desaparecer até o fim deste século, apontam estudos divulgados nestas segunda e terça-feira (09/04).
Segundo pesquisadores suíços, até 2100, emissões descontroladas de gases causadores do efeito estufa e aquecimento global podem resultar no derretimento da maior parte do gelo que define as paisagens e os ecossistemas dos Alpes. Há mais de 4 mil geleiras na região.
“Na abordagem mais pessimista [se as emissões continuarem aumentando no ritmo atual até o fim do século], os Alpes estarão na maior parte descobertos de gelo até 2100, com algumas porções isoladas em locais e elevação alta, representando 5% ou menos do volume de gelo dos dias atuais”, afirmou o coautor do estudo Matthias Huss, da Universidade ETH de Zurique.
Mesmo num cenário em que, após atingirem seu máximo dentro de alguns anos, as emissões regridam a zero até o final do século, somente um terço das geleiras alpinas sobreviveria.
Talvez a descoberta mais preocupante dos pesquisadores seja que, devido ao histórico de emissões e os níveis atuais de CO2, os Alpes perderão metade de suas geleiras até 2050, não importa o que venha a ser feito para conter as emissões.
A atmosfera terrestre contém atualmente mais de 400 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono, o nível mais alto em três milhões de anos.
“As geleiras são reservatórios. Mesmo uma geleira saudável irá, normalmente, derreter no verão e se tornar um pouco maior no inverno. Isso significa que quando as pessoas mais necessitam de água, elas recorrem à água das geleiras”, afirmou o pesquisador da Universidade Deflt de Tecnologia da Holanda Harry Zekollari, coautor do estudo.
“Se as geleiras desaparecerem, não haverá esse reservatório. Nos Alpes, pode ser que ainda seja ok, mas se considerarmos os Andes e o Himalaia, bilhões de pessoas que vivem ali precisam realmente da água das geleiras”, observou.
As reservas de gelo também contribuem para a produção de energia hidrelétrica em vários países alpinos, além de proteger os vales. Segundo Zekollari, se as condições piorarem ainda mais, poderão resultar em tragédias naturais, como enchentes e deslizamentos de terra.
Outro estudo, publicado pela revista científica Nature nesta segunda e que inclui a medição mais abrangente das geleiras já realizada em todo o mundo, concluiu que milhares de massas de gelo estão diminuindo 18% mais rápido do que havia sido calculado por um painel de cientistas em 2013.
As geleiras mundo afora estão perdendo anualmente 369 bilhões de toneladas de gelo e neve e diminuindo cinco vezes mais rápido do que nos anos 1960, contribuindo para o aumento do nível do mar. Essa aceleração é atribuída ao aquecimento global.
“Em mais de 30 anos, quase todas as regiões começaram a perder massa ao mesmo tempo”, diz o cientista que liderou o estudo, Michel Zemp, diretor do Serviço de Monitoramento de Geleiras na Universidade de Zurique, que liderou o estudo. “Isso é claramente o aquecimento global”, afirmou.
As geleiras diminuem mais rapidamente na Europa Central, no Cáucaso, oeste do Canadá, Nova Zelândia, em 48 estados americanos e em regiões próximas aos trópicos.
Nesses locais, a perda da massa de gelo é de 1% ao ano, aponta o estudo. “Nessas regiões, segundo os índices atuais de derretimento das geleiras, elas não vão sobreviver a esse século”, disse Zemp.
A equipe de pesquisa utilizou medições por satélite e em solo para analisar 19 mil geleiras, número bem superior a qualquer estudo feiro anteriormente. Segundo os cientistas, apenas no sudoeste asiático as 19 geleiras existentes não estão diminuindo, devido às condições locais do clima.
Desde 1961, o mundo já perdeu 10,6 trilhões de toneladas de gelo e neve (9,6 trilhões de toneladas métricas), o que seria suficiente para cobrir os 48 estados americanos mais ao sul do país com 1, 2 metros de neve. Esse derretimento pode aumentar o nível da água do mar em 27 milímetros.
Fonte: Deutsche Welle