Nos últimos anos, Moçambique enfrentou, pelo menos, 10 grandes desastres naturais. O pior aconteceu em março deste ano, quando a passagem do ciclone Idai atingiu uma área de 3 mil quilômetros quadrados, causou 242 mortes e deixou 400 mil pessoas desalojadas no país.
Embora o país e o restante do continente africano estejam longe de ser os maiores emissores de gases de efeito estufa, são os que mais têm sofrido e estão entre os mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas globais. Além disso, poderão ser os mais afetados pela degradação da terra que tem acontecido em diferentes partes do mundo.
O Sumário para Formuladores de Políticas da primeira avaliação global do estado da natureza da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), lançado em 6 de maio de 2019, apontou que o continente africano, juntamente com a América do Sul e a Ásia, serão as regiões mais afetadas pela perda de biodiversidade e a consequente deterioração dos serviços ecossistêmicos, como o fornecimento de água e alimentos, que têm ocorrido em uma escala sem precedentes.
Os autores do relatório estimam que entre 100 e 300 milhões de pessoas estão em risco aumentado de inundações e furacões devido à perda de hábitats costeiros e de áreas de proteção natural.
“Os desastres naturais tornaram-se frequentes e uma realidade para nós”, disse Vitória Langa de Jesus, diretora executiva do Fundo Nacional de Pesquisa (FNI) de Moçambique, à Agência FAPESP.
“Quando se começou a falar sobre mudanças climáticas não sabíamos muito bem de que maneira iriam nos afetar. A partir da experiência que tivemos nos últimos anos, cresceu a preocupação de aumentar o apoio a pesquisas que possam dar subsídios a órgãos de governo para elaboração de planos de prevenção de desastres e de adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”, disse.
Para atingir esses objetivos, a agência de fomento à pesquisa moçambicana que a pesquisadora representa tem feito parcerias com instituições congêneres de diversos países, como a Alemanha e a França. A mais recente foi com a FAPESP, com quem firmou um acordo de cooperação no dia 6 de maio.
Alguns dos temas de interesse de pesquisa colaborativa entre os pesquisadores moçambicanos e do Estado de São Paulo serão, justamente, a prevenção de desastres naturais e adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Outra área de interesse é a agricultura, disse Langa de Jesus.
“A agricultura é fundamental para nós. Essa é uma das áreas em que acreditamos que os pesquisadores paulistas e moçambicanos possam fazer estudos voltados não só para a melhoria da produção, mas também sobre processamento de alimentos ou desenvolvimento de cultivares mais resistentes às mudanças climáticas”, afirmou.
Segundo Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, a cooperação científica de pesquisadores do Estado de São Paulo e de Moçambique em agricultura poderá ser exitosa, entre outros fatores, pelas semelhanças climáticas das duas regiões.
“A agricultura é uma área em que se pode ter um grande intercâmbio de conhecimento entre Moçambique e o Estado de São Paulo, que tem instituições muito fortes em agronomia, como a Esalq [Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo], entre outras”, disse.
Outra vantagem na cooperação científica de pesquisadores moçambicanos com colegas paulistas é que não há barreiras de idioma, disse Langa de Jesus. “Esperamos que, após a definição das áreas das pesquisas que apoiaremos e a seleção das propostas, os pesquisadores possam se unir para desenvolver projetos cujos resultados possam não só ajudar a solucionar questões nacionais como também tenham impacto internacional”, afirmou.
A dirigente e outros representantes da FNI estiveram no Brasil para participar da 8ª Reunião Anual do Global Research Council(GRC), que aconteceu entre os dias 1º e 3 de maio, em São Paulo, e reuniu chefes de 52 agências de fomento à pesquisa de 50 países dos cinco continentes. O encontro foi organizado pela FAPESP, pelo Consejo Nacional de Investigaciones Científicas e Técnicas (Conicet), da Argentina, e pela German Research Foundation (DFG), da Alemanha.
“Uma das razões que nos levaram a participar do GRC é a troca de experiências de dirigentes de agências de fomento à pesquisa sobre como podemos estimular a ciência nos nossos respectivos países”, disse Langa de Jesus.
“O GRC também permite nos inteirar sobre o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação no mundo e identificar agências de fomento à pesquisa, como a FAPESP, com as quais queremos estabelecer acordos de cooperação”, afirmou.
Fonte: FAPESP