![Embarcação de apoio a mergulho (DSV, na sigla em inglês) se prepara para expedição no mar, acompanhada por diversos membros da equipe](https://ichef.bbci.co.uk/news/976/cpsprodpb/1421/production/_106935150_pix7.jpg)
O novo mergulho recordista chegou a uma profundidade de 10.927m
Em uma expedição recordista com submarino, que chegou à maior profundidade já alcançada, um americano encontrou no fundo do mar mais do que uma amostra intocada da natureza – ele se deparou com resíduos plásticos, como sacolas e embalagens de balas.
Victor Vescovo chegou a quase 11km da região mais profunda do oceano – a Fossa das Marianas, no Pacífico.
Ele ficou quatro horas explorando a base da fossa com um submersível, construído para suportar a imensa pressão nestas profundezas. Agora, materiais orgânicos e inorgânicos coletados ali serão estudados em laboratório – para detectar, por exemplo, a possível presença de microplásticos nas criaturas marinhas.
É a terceira vez que os humanos chegam a profundidades extremas do oceano.
![Crustáceos com formato semellhante a camarões nas profundezas da Fossa das Marianas](https://ichef.bbci.co.uk/news/660/cpsprodpb/3811/production/_106935341_pix18.jpg)
Exploradores acreditam terem descoberto novas espécies de crustáceo
O diretor de cinema James Cameron fez um mergulho solo meio século depois, em 2012, em seu submarino verde.
A descida de agora, que chegou a 10.927m abaixo das ondas, é a mais profunda – fazendo de Victor Vescovo o novo recordista.
![Don Walsh (na foto, Ã esq.), que participou de expedição em 1960, parabeniza nova conquista de Victor Vescovo; eles aparecem sorrindo e apertando as mãos](https://ichef.bbci.co.uk/news/660/cpsprodpb/14599/production/_106935338_pix11.jpg)
Don Walsh (na foto, à esq.), que participou de expedição em 1960, parabeniza Victor Vescovo pela nova conquista
Aparato de alta tecnologia
Vescovo e sua equipe realizaram cinco mergulhos durante a expedição; equipamentos robotizados também foram usados para fazer prospecção no terreno.
“É quase indescritível o quão empolgados todos nós estamos em conquistar o que acabamos de fazer”, comemorou o americano.
“O submarino e sua nave-mãe, além da talentosa equipe da expedição, levaram a tecnologia marítima a um nível ridiculamente alto ao explorar – rápida e repetidamente – a área mais profunda e difícil do oceano”.
Don Walsh, pioneiro na exploração da Fossa das Marianas, acompanhou a nova conquista. Ele disse à BBC News: “Eu saúdo Victor Vescovo e sua brilhante equipe pela conclusão bem-sucedida de suas explorações históricas da fossa”.
“Há seis décadas, eu e Jacques Piccard fomos os primeiros a visitar o lugar mais profundo dos oceanos.”
“Agora, no inverno da minha vida, foi uma grande honra ter sido convidado pela expedição a um lugar da minha juventude.”
A equipe acredita ter descoberto quatro novas espécies de crustáceos, semelhantes a camarões; e ter avistado um indíviduo da classe echiura, a 7.000m, e um peixe-caracol rosa, a 8.000m.
Eles também descobriram afloramentos rochosos de cores vivas, possivelmente criados por micróbios, e coletaram materiais do fundo do mar.
O impacto da ação humana no planeta também ficou evidente com a descoberta da poluição plástica, algo que outras grandes expedições já haviam constatado antes.
Milhões de toneladas de plástico chegam aos oceanos a cada ano, mas pouco se sabe sobre onde isso acaba.
![Victor Vescovo aparece manejando controle de dentro do submarino](https://ichef.bbci.co.uk/news/660/cpsprodpb/AD41/production/_106935344_pix20.jpg)
Os cientistas agora querem fazer testes com os espécimes coletados para ver se eles carregam microplásticos – um estudo recente mostrou que este é um problema amplo, até mesmo para seres que vivem em lugares muito profundos.
A expedição na Fossa das Marianas faz parte de uma maior, intitulada Five Deeps – que tem o objetivo de explorar os pontos mais profundos de cada um dos cinco oceanos do planeta.
A Five Deeps é financiada pelo próprio Vescovo, um investidor que, antes de buscar as profundezas extremas dos mares, já chegou aos picos mais altos dos sete continentes.
![O submarino é içado para a nave-mãe](https://ichef.bbci.co.uk/news/660/cpsprodpb/15C05/production/_106939098_pix8.jpg)
Além da Fossa das Marianas, no Pacífico, nos últimos seis meses também foram feitas expedições na Fossa de Porto Rico, no Oceano Atlântico (a 8.376m); na Fossa Sandwich do Sul, no Oceano Austral (7.433 m); e na Fossa de Java, no Oceano Índico (7.192m).
O desafio final será chegar à Fossa de Molloy, no Oceano Ártico, algo programado para agosto de 2019.
Fronteira final
O submersível usado, conhecido também como uma embarcação de apoio a mergulho (DSV, na sigla em inglês), foi construído por uma empresa dos Estados Unidos, a Triton Submarines. O equipamento foi produzido de forma a poder ser usado várias vezes, em diferentes partes do mar.
A embarcação pode levar duas pessoas, portanto, os mergulhos podem ser feitos solo ou em par.
Ela pode suportar a pressão esmagadora no fundo do oceano, equivalente a 50 aviões jumbo empilhados em cima de uma pessoa.
Além de trabalhar sob pressão, o submarino pode operar no escuro e em temperaturas congelantes.
Estas condições também dificultaram as filmagens da equipe da Atlantic Productions para um documentário do Discovery Channel, que mostrará a trajetória da expedição.
Anthony Geffen, diretor criativo da Atlantic Productions, diz que esta foi a filmagem mais complicada que já fez.
“Nossa equipe teve de inaugurar novos sistemas de câmeras e operar a até 10.000m abaixo do nível do mar”, conta.
Depois que a expedição Five Deeps for concluída, o plano é passar o submersível para instituições científicas, cujos pesquisadores continuarão a usá-lo.
Os desafios de explorar o oceano profundo, mesmo com a ajuda de veículos robóticos, fizeram das fossas uma das últimas fronteiras do planeta.
Antes considerado um conjunto de áreas remotas e hostis, o fundo do mar está repleto de vida. Há também evidências crescentes de que ele é um verdadeiro sumidouro de carbono, desempenhando um papel na regulação da química e do clima da Terra.
Fonte: BBC