No manejo florestal tradicional, as árvores ainda são vistas principalmente como fonte de madeira. Todos os outros produtos derivados de terras arborizadas — como mel, cogumelos, líquen, pequenos frutos, plantas medicinais e aromáticas, bem como quaisquer outros produtos extraídos de florestas para uso humano — são considerados de importância secundária.
No entanto, os recursos florestais não madeireiros trazem amplos benefícios para milhões de famílias no mundo todo, tanto em termos de subsistência como de renda. Além disso, o manejo sustentável das florestas permite sua conservação, garantindo o combate às mudanças climáticas e à poluição do ar. Leia o relato completo da ONU Meio Ambiente.
A colheita de cogumelos selvagens na Europa Oriental é mais do que uma tradição, é um evento social. Todos os anos, no fim do verão e início do outono, milhares de pessoas percorrem a floresta procurando as maiores e mais perfeitas espécimes.
Elas levam os filhos para indicar quais cogumelos são comestíveis e quais são venenosos, quais estão maduros e quais devem ser deixados por mais uma semana, transmitindo ensinamentos de gerações passadas e cuidando das florestas.
À noite, as famílias compartilham sua colheita ao redor de pratos com deliciosas iguarias fritas. Juntas, celebram seu amor pelas florestas, conversando sobre os melhores lugares e relembrando os animais ou pássaros que avistaram ao longo do caminho.
As florestas estão entre os tesouros mais valiosos do planeta: fornecem energia a partir da madeira, ajudam na regulação da água, na proteção do solo e na conservação da biodiversidade.
No entanto, no manejo florestal tradicional, as árvores ainda são vistas principalmente como fonte de madeira. Todos os outros produtos derivados de terras arborizadas — como mel, cogumelos, líquen, pequenos frutos, plantas medicinais e aromáticas, bem como quaisquer outros produtos extraídos de florestas para uso humano — são considerados de importância secundária.
Os recursos florestais não madeireiros, no entanto, trazem amplos benefícios para milhões de famílias, tanto em termos de subsistência como de renda. Esses subprodutos transformam-se em alimentos e itens de uso diário, como cosméticos ou remédios. A proteção do meio ambiente passa a ser considerada, portanto, uma necessidade vital.
A Bulgária, cujas florestas cobrem mais de um terço de sua área terrestre, é um dos pontos de maior biodiversidade da Europa. Ursos marrons, linces e lobos podem ser encontrados em suas florestas, que também abrigam centenas de espécies de aves, bem como uma grande variedade de tipos de árvores, incluindo faias, pinheiros, abetos e carvalhos.
O país tem uma longa tradição de práticas de manejo florestal. Programas de monitoramento em grande escala estão em vigor e as comunidades locais são conhecidas por manter um olhar atento sobre o ambiente natural. Juntos, esses fatores permitiram que as autoridades nacionais aproveitassem ao máximo sua biodiversidade.
Mais de 90% da colheita anual de ervas silvestres e cultivadas são vendidos como matéria-prima para Alemanha, Itália, França e Estados Unidos, tornando a Bulgária um dos principais fornecedores mundiais neste setor. Ao ganhar experiência na proteção e uso sustentável de produtos florestais não madeireiros, o país se tornou modelo para outras nações dos Bálcãs.
Nos últimos doze anos, a Bulgária recebeu 335,3 milhões de dólares em financiamento da União Europeia para projetos de conservação. Essas iniciativas foram implementadas pelo Ministério do Meio Ambiente e da Água, por parques nacionais e naturais, municípios e organizações sem fins lucrativos. Os recursos permitiram que o país ampliasse ainda mais seus programas ambientais e assegurasse que seus recursos florestais continuassem sendo utilizados de maneira sustentável.
No entanto, Miroslav Kalugerov, diretor do Serviço de Proteção da Natureza da Bulgária no Ministério do Meio Ambiente e da Água, sabe por experiência que receber dinheiro para proteção ambiental não leva necessariamente ao sucesso. Ele afirma que, embora o acesso a informações abrangentes seja vital para o bom gerenciamento de qualquer recurso natural, é apenas um primeiro passo em direção às soluções ambientais.
“Sem dados, a conservação da natureza é caótica, os objetivos podem não ser cumpridos e a conservação de produtos florestais não madeireiros é impossível”, diz Miroslav.
A Macedônia do Norte é um exemplo disso. Apesar de exibir características similares à Bulgária em termos de recursos naturais, o país ainda precisa aproveitar todo o potencial dos produtos e serviços que suas florestas têm a oferecer. A falta de legislação adequada e de capacidade para identificar e monitorar o status de espécies de importância econômica para o país são em grande parte a razão disso.
Para remediar a situação, a ONU Meio Ambiente, o Ministério do Meio Ambiente e Planejamento Físico da Macedônia do Norte e a Fundação Connecting Natural Values and People organizaram uma visita de estudo à Bulgária para compartilhar experiências sobre como preservar e administrar de maneira viável os produtos florestais não madeireiros. Essa iniciativa fazia parte de um projeto maior – Conseguindo a Conservação da Biodiversidade por meio da Criação e do Gerenciamento Efetivo de Áreas Protegidas e Integrando a Biodiversidade ao Planejamento do Uso da Terra – financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente.
“A união das forças de diferentes autoridades nacionais e locais, instituições, cidadãos e empresas através de diferentes atividades do projeto contribuirá para a proteção e uso sustentável dos produtos não madeireiros na Macedônia do Norte”, diz Iskra Stojanova, coordenador de projetos da ONU Meio Ambiente.
Cerca de 80% da população do mundo em desenvolvimento usa esses produtos para as necessidades de saúde e nutricionais, observa Anela Stavrevska-Panajotova, coordenadora do projeto na Fundação Connecting Natural Values and People. As práticas e habilidades aprendidas com os especialistas búlgaros são cruciais para trabalhar na identificação de produtos florestais não madeireiros e testes-piloto na Macedônia do Norte.
Educar os executivos e o setor empresarial como um todo sobre o uso sustentável dos recursos florestais é uma solução econômica para lidar com as mudanças climáticas. O uso sustentável de recursos ajuda a melhorar o estado das florestas e habitats e, por extensão, assegura a segurança econômica e alimentar das comunidades locais.
Além disso, as florestas atuam como sumidouros de carbono e podem remover poluentes da atmosfera, o que as torna ferramenta altamente versátil para combater a poluição do ar e mitigar as mudanças climáticas. Todos os anos, elas absorvem um terço do dióxido de carbono liberado pela queima de combustíveis fósseis em todo o mundo.
Melhorar a qualidade do ar continua a ser uma das prioridades para os Bálcãs Ocidentais, nos quais as centrais elétricas emitem 45 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono por ano. Os custos diretos da poluição do ar para a saúde podem ser medidos em bilhões de dólares.
Juntamente com a necessidade de mudar para fontes de energia limpa, as florestas são aliadas efetivas e naturais na luta por um ar mais limpo — e essenciais para garantir um futuro sustentável para as comunidades que dependem delas.
Fonte: ONU