Falta de monitoramento prejudica o combate à poluição do ar no Brasil

Faixa mais escura representa a poluição no ar de São Paulo (Foto: Alexandre Giesbrecht/Wikimedia Commons)

FAIXA MAIS ESCURA REPRESENTA A POLUIÇÃO NO AR DE SÃO PAULO (FOTO: ALEXANDRE GIESBRECHT/WIKIMEDIA COMMONS)

O ar que você respira carrega elementos que voce nem imagina: além dos gases que compõem a atmosfera da Terra, há poluentes que afetam a sua respiração, e que podem prejudicar o meio ambiente e até a infraestrutura de centros urbanos. O problema é tão preocupante que virou a temática deste Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado no dia 5 de junho por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU).

No Brasil, apenas 10 unidades federativas monitoram a qualidade do ar, o que contribui para a falta de ações e políticas públicas para combater a poluição. São eles: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e o Distrito Federal. 

“A rede existente é insuficiente no Brasil, que infelizmente não tem a qualidade do ar como uma prioridade”, afirma à GALILEU André Ferreira, diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). “A pressão por melhorias não é grande e a demanda para solucionar o problema é baixa.”  

O IEMA é responsável pela Plataforma de Qualidade do Ar, que coleta dados sobre a poluição do ar nos 10 estados de 2002 até 2017. Os poluentes mais preocupantes, reconhecidos pelos danos à saúde, são as partículas totais em suspensão (PTS), partículas inaláveis (MP10), fumaça, dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2), monóxido de carbono (CO) e ozônio (O3) – estes dois últimos são os mais difícieis de combater e, de acordo com o IEMA, não deve apresentar queda no país pelos próximos anos. 

Estudos indicam que a poluição de ozônio no solo pode diminuir em até 26% o rendimento de culturas básicas até 2030, afetando a agricultura brasileira. Além disso, a ONU aponta que 92% da população mundial não respira ar limpo. 

Para Ferreira, uma forma de evitar a poluição seria a existência de uma política para o tema, assim como há a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Existe um Projeto de Lei na Câmara dos Deputados, o PL nº10.521/2018, de autoria do deputado Paulo Teixeira (PT/SP), sobre o combate à poluição do ar no país. O documento segue aguardando parecer do relator, o deputado José Ricardo (PT/AM). “O Brasil ainda depende muito de pesquisas internacionais para saber como a poluição do ar afeta a saúde”, comenta David Tsai, engenheiro químico do IEMA. “É importante ter um inventário nacional para criar políticas públicas.”

Monitoramento
Ferreira explica que os estados brasileiros possuem duas formas de monitorar o ar: com estações manuais e automáticas. “As manuais só medem alguns poluentes, enquanto as automáticas pegam amostras do ar e analisam a poluição de forma completa”, ele esclarece.

Para o IEMA, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) possui atuação em destaque no trabalho de monitoramento do ar. No total, o Brasil possui 284 estações de monitoramento, sendo 79 somente em São Paulo. A região Norte não possui nenhuma. 

Segundo o diretor-presidente, não é justificável a falta de monitoramento, visto que o problema não é exclusivo dos centros urbanos. A incidência de queimadas (naturais ou provocadas), comuns nos ambientes rurais, também é preocupante. “Assim como a queima de cana, a queimada emite poluentes no ar que podem prejudicar a vegetação”, informa Ferreira. 

Queimadas nas zonas rurais também emitem tóxicos na fumaça que poluem o ar (Foto: Sishir Panthi/Wikimedia Commons)

QUEIMADAS NAS ZONAS RURAIS TAMBÉM EMITEM TÓXICOS NA FUMAÇA QUE POLUEM O AR (FOTO: SISHIR PANTHI/WIKIMEDIA COMMONS)

Os especialistas do IEMA, Beatriz Sayuri Oyama, meteorologista, e David Tsai, engenheiro químico, explicam que a principal causa da poluição é a combustão incompleta. Ou seja, a queima incorreta de combustível de veículos que usam gasolina ou álcool. Neste caso, os carros e as motos são os que mais poluem o ar, enquanto os ônibus, que geralmente são movidos a diesel, não emitem tantos poluentes. 

Por isso, Ferreira considera importante enfrentar a situação pensando na locomoção das pessoas nas cidades. “A mobilidade urbana não pode se basear no transporte individual. É preciso aumentar a participação do transporte público e do transporte ativo, como bicicletas”, ele comenta. “Individualmente, as pessoas podem usar menos carro, andar mais a pé e se organizar para pressionar os tomadores de decisão a enfrentar o problema.”

De acordo com ele, a poluição do ar no país não está aumentado, mas está estagnada em um nível acima do que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda. “Não temos um quadro no Brasil que garante que a poluição do ar vai reduzir. Hoje, o monitoramento é insuficiente para isso”, afirma. 

Pesquisas apontam que, a longo prazo, a poluição do ar pode causar infertilidade nos homens, aumenta a ansiedade de crianças e pode deixar as pessoas cada vez mais mal humoradas. 

Segundo David Tsai, do IEMA, a solução pode ser bem simples: “para limpar o ar, basta parar de sujar”.

Fonte: Revista Galileu