A poluição atmosférica já é responsável por 7 milhões de mortes prematuras por ano em todo o mundo, sendo mais de 300 mil na região das Américas, segundo estimativa divulgada nesta quarta-feira (22) pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que atualizou suas diretrizes para a qualidade do ar pela primeira vez desde 2005.
De lá para cá, um corpo robusto de evidências científicas compiladas pelo órgão indicam que os impactos da poluição do ar sobre a saúde humana se tornaram tão graves quanto aqueles associados a problemas como tabagismo e dietas não-saudáveis. Por esse motivo, as novas recomendações do órgão sugerem limites mais restritivos para a emissão desses inimigos invisíveis — os chamados “poluentes clássicos”.
Formado pelos principais poluentes atmosféricos, esse grupo inclui as partículas transportadas pelo ar (PM), o ozônio (O₃), o dióxido de nitrogênio (NO₂), o dióxido de enxofre (SO₂) e o monóxido de carbono (CO). Com base em seis revisões sistemáticas que consideraram mais de 500 artigos, todos os limiares de referência que se referem a emissão dessas substâncias foram ajustados para baixo pelas novas Diretrizes Globais de Qualidade do Ar (AQGs).
A exposição a longo prazo a esses poluentes impacta diferentes aspectos da saúde. Entre as crianças, por exemplo, a exposição excessiva a esses poluentes pode afetar o desenvolvimento dos pulmões, causar infecções respiratórias e agravar a asma. A doença cardíaca isquêmica e o derrame cerebral, por sua vez, são as causas mais frequentes de mortes prematuras atribuídas à poluição atmosférica entre os adultos. E mais: de acordo com a OMS, também estão surgindo evidências de que os poluentes podem estar na origem de casos de doenças neurodegenerativas e diabetes.
O órgão internacional chama atenção particularmente para os riscos associados aos materiais particulados (PM), gerados principalmente pela combustão de combustíveis fósseis em diferentes setores, como transporte, energia, indústria e agricultura. Minúscula o suficiente para atravessar os pulmões, uma dessas partículas, a chamada PM 2.5, que é menor do que 2,5 mícrons de diâmetros (20 vezes menor do que um único grão de areia), pode até adentrar a corrente sanguínea, causando danos cardiovasculares e respiratórios. Em 2019, mais de 90% da população global vivia em áreas onde as concentrações desse material particulado excediam a diretriz de qualidade do ar da OMS de 2005.
“O ar puro deve ser um direito humano fundamental e uma condição necessária para sociedades saudáveis e produtivas”, defende Hans Henri P. Kluge, diretor regional da agência para a Europa. “No entanto, apesar de algumas melhorias na qualidade do ar nas últimas três décadas, milhões de pessoas continuam a morrer prematuramente, frequentemente afetando as populações mais vulneráveis e marginalizadas”, avalia o médico, em comunicado.
Embora a poluição atmosférica seja uma ameaça à saúde em todos os países, a entidade reforça que as nações de média e baixa renda são atingidas com mais força. Para o órgão, isso é uma consequência direta do avanço do crescimento das cidades e do desenvolvimento econômico baseado na combustão de combustíveis fósseis.
De acordo com a agência, das 7 milhões de mortes anualmente causadas pela poluição atmosférica, mais de 2 milhões estão concentradas no sudeste da Ásia. A região é seguida pelo Pacífico Ocidental (mais de 2 milhões), a África (1 milhão), o Mediterrâneo Oriental (500 mil), a Europa (500 mil) e as Américas (mais de 300 mil).
Melhorar a qualidade do ar traz benefícios não só à saúde das populações, mas também ao combate global às mudanças climáticas, e vice-versa. Segundo a OMS, a poluição e as alterações no clima impulsionadas pelas atividades humanas representam, juntas, as maiores ameaças ambientais à saúde humana.
Se os países adotarem as novas diretrizes, o órgão estima que as mortes relacionadas às partículas PM 2.5, por exemplo, seriam reduzidas em quase 80%. “As novas Diretrizes de Qualidade do Ar da OMS são uma ferramenta prática e baseada em evidências para melhorar a qualidade do ar do qual toda a vida depende”, avalia Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Exorto todos os países e todos aqueles que lutam para proteger nosso meio ambiente a colocá-los em uso para reduzir o sofrimento e salvar vidas”, disse.
Fonte: Galileu