Nos últimos anos, a Ilha Dunk, na costa australiana de Queensland, tem sido um refúgio de férias privado para seus proprietários.
Até 2011, a ilha paradisíaca, que fica próxima à Grande Barreira de Corais, abrigava um resort com 160 quartos. Mas a propriedade foi destruída por um ciclone naquele ano.
Na época, o turismo em toda a região estava em crise. Então, em vez de reformar o hotel, os proprietários embolsaram o pagamento do seguro e decidiram curtir Dunk sozinhos.
Agora, a ilha está à venda no mercado com um preço inicial de aproximadamente 20 milhões de dólares australianos (cerca de R$ 54 milhões).
Tom Gibson, que está gerenciando a venda na empresa de serviços imobiliários JLL, diz que o comprador receberá o “esqueleto” do antigo resort, uma pista de pouso construída pela companhia aérea australiana Qantas, energia elétrica e uma estação de tratamento de esgoto.
Segundo ele, os atuais proprietários querem vender a ilha para alguém que possa “trazer a operação de volta à vida”.
Do tamanho da Itália
O destino de Dunk faz parte de um cenário de decadência que atinge diversos resorts ao longo da icônica barreira de corais australiana.
É uma da série de ilhas paradisíacas que foram à ruína, à medida que fortes ciclones e a crescente concorrência atingiram em cheio o turismo. Os investimentos sofreram perdas e vários hotéis insulares ficaram abandonados.
“Não podemos depender das glórias passadas, quando éramos destino de férias favorito dos australianos”, diz Daniel Gschwind, diretor-executivo do Conselho da Indústria de Turismo de Queensland.
“Levou um tempo para a gente perceber isso e reagir”, acrescenta.
Com aproximadamente o tamanho da Itália, a Grande Barreira de Corais se estende por 2.300 km ao longo da costa de Queensland.
Uma das principais portas de entrada para o maior recife de corais do mundo é o conjunto de resorts das Ilhas Whitsundays.
E, neste momento, Gschwind diz que quatro das sete ilhas do arquipélago que oferecem hospedagem para turistas estão fechadas.
Isso se deve em parte aos fortes ciclones que atingiram a região, sobretudo o ciclone tropical Debbie em 2017.
Mas a devastação causada vai muito além dos danos às propriedades, explica Gschwind, uma vez que os desastres naturais podem golpear o turismo muito tempo depois de o sol voltar a brilhar.
“Esses impactos de percepção costumam ser mais catastróficos para a nossa indústria do que os danos físicos causados”, afirma.
Segundo ele, alguns negócios não sofreram avarias físicas, mas estão “à beira do colapso”, já que os turistas se afastaram da região por medo de não ser um passeio seguro ou agradável.
“É deprimente quando você vai a esses lugares e o sol está brilhando, está calor [e] as pessoas estão lá sentadas, sem clientes, por nenhum motivo aparente.”
Aperto econômico
O clima não foi o único fator que prejudicou o turismo na ilha. O dólar australiano forte, aliado a um aumento nas tarifas das passagens aéreas, representou um duro golpe para muitos operadores de turismo.
De acordo com analistas, essa tendência se intensificou há cerca de uma década, quando em vez de passar férias no próprio país, os australianos conseguiam pagar por viagens mais exóticas para lugares como Bali, na Indonésia, ou Phuket, na Tailândia. E, para os turistas internacionais, a Austrália parecia um destino muito caro.
“A força da moeda é o maior impulsionador do mercado de turismo australiano”, diz Sam Charlton, coproprietário do Bedarra Island, um resort de luxo ao longo da costa norte de Queensland.
Charlton e a mulher, Kerri-Ann, compraram Bedarra em 2011. Naquela época, a crise financeira global estava pesando sobre o turismo, e o dólar alto piorava a situação.
Ele diz que quando o ciclone Yasi chegou em 2011, criou “a tempestade perfeita de (efeitos) negativos” para os operadores da ilha.
Foi o início de um período de decadência para muitos resorts da região. Com cada vez menos turistas chegando e o dinheiro acabando, a manutenção começou a ficar em segundo plano.
“O resultado agora é uma coleção de ilhas que têm construções que não são cuidadas há 10 anos”, diz Charlton.
Recuperação gradual
Algumas ilhas fecharam quando os tempos estavam mais difíceis, diz ele, e agora “há muito trabalho a fazer” para reativar essa indústria.
Mas muito desse trabalho já começou. O investimento está voltando para a região por meio de uma onda de revitalização.
O resort da Ilha Daydream reabriu oficialmente neste mês, e a Ilha Great Keppel – famosa pelas festas – foi comprada por uma empresa cingapuriano-taiwanesa em 2018.
Um resort Intercontinental na Ilha Hayman está previsto para abrir no próximo mês, e há um projeto de revitalização da Ilha Lindeman avaliado em 583 milhões de dólares australianos. Em paralelo, a Long Island estaria à venda no mercado por cerca de 15 milhões de dólares australianos.
A empresa JLL, de Gibson, gerenciou várias vendas de ilhas em Queensland nos últimos anos. Ele diz que a região “baixou um pouco a guarda a partir de 2005 com a falta de reinvestimento”, mas isso está mudando.
Neste mês, o governo de Queensland disse que investiria mais de 55 milhões de dólares australianos em parceria com o setor privado “para restaurar a antiga glória desses resorts”.
O turismo já apresenta sinais de recuperação. O grupo Tourism and Events Queensland diz que 7,7 milhões de pessoas visitaram regiões ligadas à Grande Barreira de Corais em 2018 – um aumento de 13% em relação ao ano anterior.
Isso representa um impulso importante ao setor. Um relatório da Deloitte de 2017 mostrou que a Grande Barreira de Corais sustenta 64 mil empregos e contribui com 6,4 bilhões de dólares australianos por ano para a economia australiana.
Ainda assim, algumas pessoas estão preocupadas com o impacto da mudança. Grupos de conservação têm demonstrado receio em relação aos planos de desenvolver ilhas como Hinchinbrook, um dos maiores parques nacionais insulares, arrendando a grupos comerciais.
A preservação dos corais também está sob os holofotes. A ameaça representada pelas mudanças climáticas e o aumento da temperatura do mar, que provoca o branqueamento generalizado de corais, levanta preocupações sobre seu futuro.
Essa perspectiva não está ajudando a indústria do turismo, diz Charlton, do resort Bedarra Island.
“É frustrante como (proprietário do resort) que haja toda essa pressão de (dizer) que o coral está morrendo. Não está.”
Ele argumenta que o recife de corais está “em condições muito boas, na verdade”.
“O pobrezinho do recife atraiu muita publicidade negativa que não merece. Ao ponto de recebermos hóspedes que vêm para ver o coral antes que desapareça. E quando voltam do passeio ao coral, dizem que é espetacular, cheio de cor e vida – e é mesmo.”
Fonte: BBC