Quarenta e três quilômetros da costa de San Francisco, nos Estados Unidos, são ocupados pelas Ilhas Farallon. A região é lar da maior colônia de reprodução de aves marinhas do país: todos os anos, 350 mil animais de 13 espécies diferentes descansam nas ilhas. Mas há também camundongos indesejados que ameaçam as aves. Por isso, o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA teve a ideia de despejar 1.360 quilos de um veneno de ratos, chamado Brodifacoum-25D, para matar os roedores.
A proposta provocou a preocupação de organizações ambientais da Califórnia sobre o potencial de envenenamento não intencional de outras espécies, impactos na qualidade da água e no escoamento oceânico.
Os roedores foram introduzidos em Farallon há dois séculos e causaram “danos ecológicos de longo prazo” ao comerem espécies nativas, competirem com a vida selvagem e caçarem filhotes durante a época de reprodução.
A população de camundongos está entre as mais altas de todas as ilhas do planeta, com mais de 490 indivíduos. Os defensores do plano dizem que a erradicação da espécie vai restaurar as populações locais de animais e plantas.
“A implementação do projeto levará a uma mortalidade de outras espécies selvagens. No entanto, embora este efeito seja inevitável, não seria significativo no contexto das populações de espécies da região”, escreveu a entidade ambiental US Fish and Wildlife Service (USFWS) em seu relatório de 33 páginas, defendendo que os benefícios de remover os ratos superam qualquer custo de mortes não intencionais.
A organização também afirmou que os efeitos sobre os recursos marinhos seriam restaurativos, com “efeitos adversos temporários minimizados e monitorados”.
Mas outras instituições ambientes não estão convencidas. A papelada de certificação do Brodifacoum-25D aponta que “os mamíferos e aves predadores podem ser envenenados caso se alimentem de animais que tenham comido iscas”.
Processo
Em 27 de junho, documentos de entidades que se opõem à ação foram registrados, entre eles da The Ocean Foundation e dos condados norte-americanos de Marin e Santa Cruz. Uma avaliação independente conduzida pela Coastwalk California indica que a medida terá muitas falhas na erradicação dos roedores.
“Em suma, se uma criatura está povoando uma ilha a tal ponto que nenhum habitat permanecerá, então, sim, alguma forma de controle pode ser justificada, mas o método aplicado deve ser aquele que não destrói o próprio ecossistema que estamos tentando preservar”, escreveu a Coastwalk California, acrescentando que dados do USFWS sugerem que “indiretamente, os ratos estão atraindo uma média de seis corujas por ano, que ocasionalmente matam os filhotes de aves, não demonstrando que os roedores têm impacto negativo nas Ilhas Farallon”.
O Santuário Marinho Nacional de Greater Farallon respondeu diretamente ao plano, observando que o depósito de qualquer material é “proibido e, portanto, ilegal”. A entidade solicitou uma análise detalhada dos efeitos do veneno, incluindo um delineamento dos métodos de descarte de carcaças de camundongos e avaliação de potenciais contaminantes ambientais.
Fonte: Revista Galileu