A região do Ártico está sendo devastada por incêndios florestais – vastas áreas do norte da Sibéria, Escandinávia, Alasca e Groenlândia estão ardendo em chamas.
Os incêndios na região costumam ser provocados por relâmpagos, mas neste ano a situação foi agravada pelas ondas de calor do verão. As temperaturas estão mais altas do que a média em decorrência da mudança climática.
O fogo é tão intenso que a fumaça pode ser vista até do espaço.
Mark Parrington, especialista em incêndios florestais do Copernicus Atmosphere Monitoring Service (Cams), descreve o incidente como “sem precedentes”.
Qual a gravidade?
Há centenas de focos de incêndios consumindo a vegetação, sobretudo em regiões desabitadas do leste da Rússia, norte da Escandinávia, Groenlândia e Alasca.
Mas a fumaça está afetando áreas vizinhas, encobrindo completamente alguns lugares.
Cidades do leste da Rússia registraram uma diminuição significativa na qualidade do ar desde o início dos incêndios.
A fumaça teria chegado até a região russa de Tyumen, no oeste da Sibéria, localizada a seis fusos horários dos focos de incêndio na costa leste.
Em junho, o fogo liberou cerca de 50 megatoneladas de dióxido de carbono – o equivalente à produção anual de carbono da Suécia, segundo a Cams.
Quão raro é isso?
Os incêndios no Ártico são comuns entre maio e outubro, e os incêndios florestais são parte natural de um ecossistema, oferecendo alguns benefícios para o meio ambiente, de acordo com o site do Alaska Centers.
Eles ajudam no crescimento de capim novo e arbustos, atraindo roedores e perdizes – e, depois, raposas, martas e aves de rapina. Além disso, permite que ervas, brotos de árvores e frutas silvestres atraiam alces e ursos, e permitem uma reciclagem de nutrientes do solo.
Mas a intensidade das chamas, assim como a grande área que ocupam, tornam este episódio incomum.
“É incomum ver incêndios dessa escala e duração em latitudes tão altas em junho”, diz Parrington.
“Mas as temperaturas no Ártico têm aumentado a uma taxa muito mais rápida do que a média global, e as condições mais quentes favorecem os incêndios a se alastrar e perdurar, uma vez que são desencadeados”.
A terra seca e as temperaturas extremamente mais quentes do que a média, combinadas com relâmpagos e ventos fortes, fizeram com que as labaredas se espalhassem de forma agressiva.
A queima foi sustentada pelo solo da floresta, composto de turfa descongelada, exposta e seca – substância com alto teor de carbono.
Expansão perigosa
De acordo com Jonathan Amos, correspondente de ciência da BBC, satélites estão monitorando uma série de incêndios florestais novos e contínuos no Círculo Polar Ártico.
“O fogo está liberando grandes volumes de dióxido de carbono e metano – reservas de carbono que, em alguns casos, estavam armazenadas no solo há milhares de anos”, afirma.
Segundo ele, os cientistas dizem que o que estamos vendo é uma evidência do tipo de reação que devemos esperar de um mundo mais quente, onde o aumento das concentrações de gases causadores do efeito estufa gera mais aquecimento, levando a condições que liberam ainda mais carbono na atmosfera.
“Muitas das partículas emanadas por esses incêndios vão acabar se instalando em superfícies de gelo mais ao norte, escurecendo as mesmas e acelerando assim seu derretimento”, explica Amos.
Tudo isso faz parte de um processo de expansão.
O que está sendo feito?
As autoridades russas não estão combatendo a maior parte dos incêndios, argumentando que o custo seria maior do que o dano causado pelas chamas.
“Eles (os incêndios) não ameaçam nenhuma comunidade ou economia”, declarou a assessoria de imprensa do Ministério Florestal da região de Krasnoyarsk a um site de notícias siberiano.
As hashtags #putouttheSiberianfires (“apague os incêndios na Sibéria”) e #saveSiberianforests (“salve as florestas siberianas”) estão ganhando força no Twitter, à medida que os russos reclamam que o governo não está fazendo o suficiente para enfrentar a crise.
Alguns argumentam que o incêndio que atingiu a catedral de Notre Dame, em Paris, em abril deste ano, recebeu muito mais atenção da imprensa do que os incêndios florestais.
“Vocês lembram como as notícias sobre o incêndio da Notre Dame se espalharam? Agora é hora de fazer o mesmo com os incêndios florestais na Sibéria”, escreveu um usuário.
“Não vamos esquecer que a natureza não é menos importante que a história. Vários animais perderam suas casas, e muitos deles provavelmente estão mortos. Só de pensar nisso é doloroso”, dizia outro tuíte.
Fonte: BBC