Nações ricas e pobres devem investir mais para se adaptarem às consequências “inevitáveis” das mudanças climáticas, se não quiserem pagar um preço maior no futuro, alertou nesta terça-feira (10/09) uma comissão liderada pelo ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, o fundador da Microsoft, Bill Gates, e a diretora-executiva do Banco Mundial, Kristalina Georgieva.
Essa adaptação também pode apresentar oportunidades econômicas. Investir globalmente US$ 1,8 trilhão entre 2020 e 2030 em cinco áreas vitais não apenas ajudaria a amortecer os piores impactos do aquecimento global, mas poderia gerar mais de US$ 7 trilhões em benefícios líquidos, argumenta o relatório da Comissão Global sobre Adaptação.
As cinco áreas emergenciais citadas pelo relatório são: sistemas de alerta avançados, adaptação de infraestruturas, melhorias da produção agrícola, proteção dos manguezais e das fontes de água.
“Somos a última geração que pode mudar a evolução da mudança climática e a primeira que deve viver com suas consequências”, afirmou Ban Ki-moon durante a apresentação, em Pequim, do informe da comissão, criada em 2018 por iniciativa da Holanda e integrada por 20 países. “Espere e pague ou planeje e prospere”, acrescentou, repetindo um slogan da comissão.
Enquanto as temperaturas do planeta aumentam, governos e empresas têm que mudar radicalmente a maneira de tomar decisões em áreas econômicas vitais, como agricultura e infraestrutura, segundo o relatório.
“Em outras palavras, deixar de aproveitar os benefícios econômicos da adaptação climática com investimentos de alto retorno pode significar a perda de trilhões de dólares potenciais em crescimento e prosperidade”, avisa o texto.
“As ações globais para retardar a mudança climática são promissoras, mas insuficientes. Devemos fazer um esforço maciço para nos adaptarmos às condições que já são inevitáveis”, resume o informe, citando, entre outros, o aumento da temperatura e do nível do mar.
Sem medidas de adaptação, a produtividade agrícola pode cair 30% até 2050, afetando principalmente pequenos agricultores, segundo o estudo.
Isso pode forçar centenas de milhões de pessoas a deixarem seus lares em cidades costeiras, enquanto levaria 100 milhões de pessoas à pobreza em países em desenvolvimento até 2030, de acordo com o informe.
Já uma adaptação adequada pode possibilitar “um crescimento melhor e desenvolvimento”, com benefícios econômicos e também no âmbito social e ambiental, conforme o texto.
Redução de emissões
Durante a apresentação do documento, o ministro do Meio Ambiente da China, Li Ganjie – cujo país é o maior emissor de C02 do mundo – chamou as práticas de adaptação de “um requisito inerente ao desenvolvimento sustentável da China”.
Dominic Molloy, coautor do relatório e funcionário do Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, disse que um novo foco na adaptação não deve diminuir a necessidade de reduzir a poluição por carbono.
“Precisamos fazer as duas coisas, reduzir as emissões e nos adaptar”, afirmou, em entrevista à agência de notícias AFP. “O objetivo desta comissão é aumentar a visibilidade da adaptação e não deixar de lado a mitigação.”
O fracasso em conter as emissões de gases do efeito estufa que aquecem lentamente o planeta já desencadeou um aumento das ondas de calor letais, escassez de água, tempestades mais destrutivas e aumento do nível do mar, ressalta o relatório. As Bahamas, por exemplo, foram devastadas neste mês por uma das mais fortes tempestades já registradas no Atlântico.
A temperatura média da superfície da Terra aumentou 1c desde o final do século 19 e está a caminho – nas taxas atuais de emissão de CO2 – de aumentar outros dois ou três graus até o final do século.
O Acordo de Paris de 2015 estabelece que o aquecimento global deve ser limitado a um nível “bem abaixo” de 2°C e 1,5°C, se possível, mas a meta foi prejudicada severamente quando o presidente dos EUA, Donald Trump, se retirou do pacto, em 2017.
“Espero sinceramente que o presidente Trump volte ao acordo climático de Paris e faça algo de bom para a humanidade”, disse Ban.
“Plano Marshall global”
O preço de adaptação de US$ 1,8 trilhão do relatório para o período 2020-2030 não é uma estimativa das necessidades globais, cobrindo apenas sistemas de alerta e as quatro outras áreas identificadas.
O dividendo de US$ 7,1 trilhões é baseado no cálculo do Banco Mundial de que o valor dos danos causados pelas mudanças climáticas está aumentando, em média em todo o mundo, em cerca de 1,5% ao ano.
Patrick Verkooijen, CEO do centro que encomendou o relatório, descreveu a proposta como um “Plano Marshall global” – em referência ao programa de ajuda dos EUA que ajudou a reconstruir a Europa Ocidental após a Segunda Guerra Mundial.
Fonte: Deutsche Welle