O mundo vem perdendo em média 26 milhões de hectares de cobertura florestal por ano – uma área pouco superior à do estado brasileiro de São Paulo. Essa é a conclusão de um estudo divulgado nesta quinta-feira (12/09) pelo think tank Climate Focus, baseado na Holanda, que analisou um período de quatro anos posterior à assinatura da Declaração de Nova York sobre Florestas, de 2014.
A declaração, promovida pelas Nações Unidas, previa uma redução global das taxas de desmatamento pela metade até 2020 e totalmente até 2030. Mas, segundo a Climate Focus, provavelmente será impossível alcançar essas marcas. Nos quatro anos que se passaram após a assinatura, as taxas de desmatamento no mundo cresceram 43%. Já nas florestas tropicais primárias, como a Amazônia, o crescimento foi de 44%.
O estudo também destaca que o CO2 liberado anualmente pela derrubada das florestas tropicais já é equivalente a todas as emissões produzidas pelos países da União Europeia.
“O mundo está em chamas. A vulnerabilidade das florestas se tornou óbvia”, disse Charlotte Streck, cofundadora e diretora da Climate Focus. “Parece que estamos em uma época em que há muita conversa e pouca acção.”
A organização ainda destacou que os países da América Latina, incluindo o Brasil, respondem pela maior parte do volume perdido de florestas tropicais primárias, mas que a África registrou as maiores taxas de crescimento de derrubada.
Na América Latina, a perda da cobertura cresceu em média 35%, enquanto que na África o desmatamento saltou 146%. No total, segundo o think tank, o mundo perdeu em média 4,3 milhões de hectares de floresta tropical primária por ano desde a assinatura da declaração. É uma área similar à do estado do Espírito Santo.
O relatório concluiu ainda que outros objetivos da Declaração de Nova York também não devem ser atingidos, como a intenção de restaurar 150 milhões de florestas degradadas até 2020. Somente um quinto desse objetivo foi atingido até agora.
Os cálculos do relatório não incluem dados consolidados de 2019, portanto as recentes queimadas na Amazônia, que provocaram protestos pelo mundo, ficaram de fora. Em agosto, o crescimento da taxa de desmatamento na Amazônia foi de 222% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A Climate Focus destacou que o Brasil costumava ser um caso de sucesso no combate ao desmatamento, mas que agora esse comprometimento é incerto por causa das políticas do governo de Jair Bolsonaro.
“A tendência atual no Brasil mostra a fragilidade da política de florestas diante de mudanças de prioridades políticas. Depois de uma mudança de governo em 2019, o desmatamento no Brasil cresceu por causa da reversão das políticas de proteção legais e institucionais da floresta e da rede de proteção”, afirma o documento.
Ainda segundo o relatório, entre 2001 e 2018 o Brasil perdeu 55 milhões de hectares de cobertura florestal – uma área equivalente ao território do estado da Bahia. Dessa perda, 84% ocorreu na Amazônia.
O Brasil não assinou a Declaração de Nova York sobre Florestas em 2014. À época, membros do governo Dilma Rousseff afirmaram que o país não havia sido consultado sobre a elaboração do documento e que o texto era vago sobre a definição de desmatamento legal. No final, só 40 governos assinaram a declaração, que não tinha efeito vinculante.
Fonte: Deutsche Welle