Uma nova pesquisa sugere que ratos conseguem aprender a brincar de esconde-esconde e que eles se divertem fazendo isso. A pesquisa foi publicada nesta semana na revista Science, e descreve como neurocientistas de Berlim ensinaram ratos de laboratório brincar.
Uma das melhores partes da pesquisa foi ver que ratos conseguem se adaptar aos dois papéis da brincadeira: se escondendo e procurando. Dos seis ratos participantes, cinco foram treinados para fazer as duas coisas, enquanto um deles aprendeu apenas a procurar, porque ele foi o primeiro a ser treinado e a segunda habilidade foi incluída no experimento mais tarde.
O primeiro rato também não recebeu um implante cerebral que os outros receberam. Este implante serve para que os pesquisadores acompanhem quais partes do cérebro dos ratos estão sendo utilizadas com maior ênfase durante a atividade.
Ensinar ratos a brincar pode parecer uma perda de tempo, mas o trabalho trouxe informações importantes sobre as capacidades cognitivas de roedores e talvez até de pequenos mamíferos em geral.
O treinamento
No experimento, os ratos não foram recompensados com alimento ou água, e sim com atenção dos treinadores. Quando eles cumpriam o desafio, recebiam afagos e os treinadores faziam movimentos com as mãos imitando saltos de ratos. O curioso foi que os ratos pareciam estar se divertindo tanto na brincadeira que eles até adiavam o fim dela, se escondendo várias vezes em seguida e adiando a recompensa.
O treinamento teve início quando os animais tinham apenas três semanas de vida, sendo que no começo os cientistas apenas ficavam próximos deles para que eles se acostumassem com a presença dos humanos e ficassem bem à vontade. O treinamento mais puxado aconteceu entre a 5a e 23a semanas de vida.
A atividade acontecia em uma sala bem iluminada, com vários papelões grandes que permitiam aos pesquisadores se esconderem atrás, e também várias caixas de plástico pequenas para os ratos se esconderem. Havia caixas pretas e transparentes, para que os cientistas pudessem observar qual era preferida pelos ratos que se escondiam.
Para que os pesquisadores conseguissem se esconder sem serem imediatamente seguidos ou vistos pelos ratos, os animais eram presos em uma caixa escura, que era aberta com ajuda de um controle remoto acionado pelo pesquisador.
Ensinar os ratos a se esconderem e a procurarem um humano não foi muito fácil. No início, os pesquisadores apenas passaram bastante tempo com eles e brincaram da mesma forma que fariam com um animal de estimação.
Ensinando a procurar
“Depois que eles se familiarizaram conosco, eles começaram a querer interagir conosco. Usamos isso para ensiná-los o papel de quem procura. Primeiro, nos “escondemos” em plena vista, e quando os animais se aproximavam, recebiam a recompensa com uma interação brincando. Você pode fazer cócegas neles, persegui-los de brincadeira com a mão e ele também persegue a sua mão”, explicou o pesquisador Konstantin Hartmann.
Os pesquisadores passaram então a se esconder atrás das caixas de papelão, e quando o rato os encontravam, a pessoa iniciava a interação divertida.
Ensinando a se esconder
Ensinar os ratos a se esconderem foi mais difícil. “Começamos colocando o animal em uma caixa e sentando ao lado dele. Assim que o animal pulava para fora, nós brincávamos com ele. Depos só brincávamos quando ele se distanciava de nós e da caixa. Continuamente, apenas brincamos com o animal quando ele se aproximava de um esconderijo apropriado. O último passo era que o animal tinha que se esconder apropriadamente antes de nós brincarmos com ele”, descreveu ele.
É interessante notar que no início das interações, quando os ratos eram mais jovens, eles tentaram encerrar o jogo o mais rápido possível para receber carinho. Conforme eles ficavam mais velhos, eles alongavam o jogo o máximo possível, demonstrando gostar mais da brincadeira em si do que da recompensa.
Eles se tornaram cada vez mais estratégicos, preferindo se esconder nas caixas escuras do que nas transparentes. Eles também andavam de forma silenciosa na hora de trocar de esconderijo.
Duas hipóteses
No estudo, os pesquisadores trabalharam com duas hipóteses. A primeira foi chamada de “moldado para brincar”, e a segunda foi chamada de “brincadeira pela brincadeira”. Na primeira, os ratos brincariam porque foram condicionados com a recompensar, da forma clássica em que os outros experimentos com ratos são conduzidos. Na segunda, os ratos brincariam pelo simples prazer de brincar, não tanto pela recompensa.
A conclusão deles é que os ratos brincaram pelo prazer de brincar, ou seja, a “brincadeira pela brincadeira”.
“Primeiro, parecia que os animais estavam se divertindo. Comportamentos que mostram empolgação incluem: locomoção rápida e direta, procura frenética, provocar o experimentador, e execução de saltos de alegria. Os ratos eram bastante vocais e interessados em se envolver no jogo, mas pareciam cansados ao final da sessão de 20 tentativas. Além disso, os aspectos motivacionais se diferenciam do condicionamento através de comida”, escreveram eles.
Segundo os pesquisadores, quando ratos são condicionados com alimento, eles realizam a mesma tarefa incansavelmente, chegando a centenas de repetições. O comportamento dos ratos também parecia ter propósito. Eles preferiam se esconder em caixas escuras ao invés das transparentes, como se eles preferissem se esconder a serem encontrados logo para receber a recompensa.
Em termos de resultados científicos, o experimento permitiu que a equipe estudasse o comportamento de brincadeira dos ratos. Isso nos traz informações novas sobre o funcionamento do cérebro deles e como eles processam regras e papéis de jogos.
Fonte: Hypescience