Os incêndios florestais geram novas ameaças no sudeste da Austrália neste sábado (04/01), com o agravamento da situação em razão de ventos fortes e temperaturas altas. Novos focos de incêndio surgem na região, fazendo com que as forças que combatem as chamas tenham de ser deslocadas para novas frentes.
A governadora do estado de Nova Gales do Sul, Gladys Berejiklian, alertou que os piores cenários possíveis estão se tornando realidade, apesar de as evacuações em massa diminuírem significativamente o risco de perdas humanas. “Ainda não chegamos ao pior de tudo isso”, afirmou.
Desde o início dos incêndios em setembro, 23 pessoas morreram e mais de 1,5 mil casas foram atingidas pelas chamas, que cobrem uma área equivalente ao território da Bélgica. As últimas 12 mortes foram registradas apenas nesta semana. As vítimas mais recentes estavam na ilha de Kangaroo, um popular destino turístico, onde duas pessoas morreram nesta sexta-feira ao ficarem presas em um carro atingido pelo fogo.
Na noite de sexta-feira, o estado de Victoria registrou 14 focos de incêndio em nível de emergência ou de evacuação. Em Nova Gales do Sul, 11 locais estão sob alerta de emergência. Mais de 150 focos foram registrados nos dois estados. Com a piora das condições do tempo, muitas linhas de contenção foram rompidas pelas chamas, permitindo que o fogo se espalhasse por novas áreas.
O abastecimento de energia das maiores cidades da região também está ameaçado pelas chamas, com duas subestações fora de serviço e linhas de transmissão danificadas. Autoridades alertam que uma área com quase 8 milhões de habitantes, que inclui a metrópole de Sidney, poderá sofrer uma série de apagões.
Até o momento, mais de 100 mil pessoas no sudeste australiano deixaram suas casas. Nesta sexta-feira, milhares atenderam aos chamados de evacuação e saíram de suas residências ou locais de veraneio, gerando novos congestionamentos nas estradas em direção a Sidney e outras cidades.
Vários novos alertas de emergência foram emitidos neste sábado. Há temores de que um incêndio a sudoeste de Sidney possa atingir a periferia da cidade, que registou novo recorde de temperatura com 48,9º C no subúrbio de Penrith. Na capital, Canberra, os termômetros marcaram 44 graus, também um recorde para a cidade.
Primeiro-ministro sob fogo
O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, cuja atuação em relação aos incêndios vem sendo amplamente criticada, mobilizou 3 mil reservistas das Forças Armadas para ajudar milhares de bombeiros e voluntários. Ele também anunciou que vai disponibilizar mais um navio da Marinha com equipamento para lidar com catástrofes e carregamentos de ajuda humanitária.
Pouco depois de ser rechaçado pela opinião pública por ter viajado de férias ao Havaí em meio a crise dos incêndios florestais no país, Morrison foi acusado de utilizar o combate aos incêndios para promover uma campanha política em prol de seu partido.
Em diversas aparições na mídia, o primeiro-ministro prometeu utilizar todos os recursos disponíveis para aliviar o desastre, incluindo mais financiamento para aviões de combate ao fogo e a convocação de reservistas. Em sua conta no Twitter, Morrison divulgou um vídeo enaltecendo as medidas tomadas por ele próprio, com uma postagem semelhante feita no perfil de sua legenda, o Partido Liberal, junto a um link para o portal de internet da sigla.
No vídeo, Morrison prometeu “colocar mais pessoal de defesa em campo, mais aviões no céu, mais navios no mar e mais caminhões que chegarão para apoiar os esforços de combate aos incêndios”. A mensagem, acompanhada de imagens de temática militar, termina com a frase “autorizado por S. Morrison, Partido Liberal, Canberra”.
A Associação de Defesa da Austrália, que monitora questões de interesse público no país, disse que o anúncio é uma “clara violação” das convenções nacionais que estabelecem que os militares devem ser deixados de fora da política. O grupo acusou o partido do primeiro-ministro de tentar tirar proveito da ação de agências civis que combatem os incêndios.
Opositores o acusam de tentar explorar a tragédia nacional em benefício próprio, ao pedir doações para seu partido enquanto milhões de australianos sofrem as consequências dos desastres.
A viagem de férias de Morrison em meio à crise gerou protestos e lhe rendeu uma enxurrada de críticas nas redes sociais. Após retornar ao país e visitar comunidades atingidas pelos incêndios, ele foi filmado pela imprensa sendo hostilizado por moradores que pediam ele que fosse embora.
O primeiro-ministro também é amplamente criticado por negar a influência das mudanças climáticas nos incêndios florestais no país, apesar das chamas terem atingido dimensões inéditas. Ele se recusa a considerar um possível impacto do aquecimento global, dizendo se tratar apenas de um desastre natural.
Fonte: Deutsche Welle