A Austrália está vivendo uma de suas piores temporadas de incêndios florestais, alimentados por temperaturas recorde e meses de seca extrema.
E, segundo trabalhadores de emergência que combatem as chamas, o pior ainda está por vir.
Shane Fitzsimmons, do Serviço de Bombeiros Rurais de New South Wales, Estado na costa leste da Austrália, advertiu que condições “voláteis” poderiam intensificar os incêndios.
Nesta segunda-feira (6), a chuva trouxe alívio a partes da Austrália e as temperaturas caíram. Mas autoridades disseram que os incêndios podem se intensificar de novo.
No sábado, os incêndios arderam fora de controle na costa leste, impulsionados por altas temperaturas e ventos poderosos, deixando milhares de casas sem eletricidade.
O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, advertiu que os incêndios podem continuar ardendo por meses.
Neste guia, explicamos detalhadamente o que está acontecendo.
Onde estão acontecendo os incêndios?
Os incêndios estão acontecendo em regiões das costas leste e sul, que é onde vive a maioria das pessoas na Austrália.
Essas regiões incluem áreas ao redor de Sydney e Adelaide.
Desde setembro do ano passado, os incêndios deixaram um saldo de ao menos 24 mortos e dezenas de desaparecidos.
Até o momento, 1.200 casas foram destruídas.
Só em New South Wales, mais de 4 milhões de hectares foram queimados (um hectare tem o tamanho de aproximadamente um campo de futebol).
Por que essa temporada de incêndios está tão mais forte?
A Austrália sempre teve incêndios florestais, mas no ano passado e neste estão piores que o normal.
A causa imediata é o clima, especificamente um fenômeno conhecido como Dipolo do Oceano Índico (ou, também, como El Niño índico, que causa um período de mais calor e seca).
Em 2019, a Austrália registrou duas vezes novos recordes de temperatura máxima. O dia 17 de dezembro alcançou uma máxima de 40,9ºC e, no dia seguinte, 41,9ºC.
Isso se soma a um prolongado período de seca.
Além disso, alguns incêndios foram iniciados de propósito.
Como os incêndios são combatidos?
Além do combate por terra, os bombeiros estão lançando água e agentes extintores de aviões e helicópteros.
Mas combater incêndios florestais é algo extremamente difícil e muitas vezes as autoridades se concentram em evitar que se espalhem, mais que em extinguir as chamas que estão ardendo.
A propagação pode ser contida, por exemplo, cavando fossas na terra para criar limites e assim evitar que as chamas de propaguem.
A prioridade é salvar vidas.
Quem está fazendo esse trabalho?
Os bombeiros profissionais são os primeiros na batalha contra o fogo, mas são superados em quantidade por milhares de voluntários.
Também chegou ajuda do exterior: Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia enviaram contingentes de bombeiros.
A polícia, o Exército e a Marinha se envolveram nos esforços de resgate e evacuação.
E o primeiro-ministro australiano anunciou recentemente que mobilizará 3 mil soldados da reserva para conter os incêndios no país.
Os incêndios estão relacionados às mudanças climáticas?
O consenso científico é que os níveis crescentes de CO2 estão esquentando o planeta.
Faz cada vez mais calor na Austrália nas últimas décadas e o esperado é que continue fazendo.
Embora os incêndios façam parte natural do ciclo climático australiano, especialistas advertiram durante muito tempo que esse clima mais quente e seco iria contribuir para que os incêndios ficassem cada vez mais frequentes e intensos.
Os padrões climáticos mais extremos e as temperaturas mais altas aumentam o risco dos incêndios florestais e fazem com que se espalhem mais rapidamente e por uma área maior.
Como os incêndios afetam a vida silvestre?
Enquanto a maioria das pessoas consegue fugir dos incêndios, as chamas estão sendo devastadoras para a vida silvestre das regiões afetadas.
Os cangurus, que se movem rapidamente, podem em geral escapar a menos que sejam rodeados pelas chamas. Os coalas, que andam devagar, costumam perder a vida nos incêndios.
Mas as chamas não apenas matam diretamente os animais. Elas também destróem seu habitat, deixando os sobreviventes vulneráveis mesmo depois do fim dos incêndios.
Um estudo acadêmico estima que 480 milhões de animais morreram só em New South Wales. Além disso, diversas vacas e ovelhas também perderam a vida.
Esse número de quase meio bilhão é baseado em um relatório do professor Chris Dickman, um especialista em biodiversidade australiana na Universidade de Sydney.
Segundo seu estudo para o World Wide Fund for Nature (WWF) em 2007, há uma média de 17,5 mamíferos, 20,7 pássaros e 129,5 répteis por hectare no país. Então, multiplicou-se o número de animais pelo número de hectares incendiados.
O que o governo está fazendo?
Cada Estado está administrando sua própria operação de combate às chamas (New South Wales está oficialmente em estado de emergência).
O primeiro-ministro, Scott Morrison, prometeu mais financiamento para bombeiros e pagamento para bombeiros voluntários.
Também anunciou o envio de 3 mil soldados para lutar contra as chamas.
Mesmo assim, Morrison foi duramente criticado por australianos que o acusam de não ter respondido apropriadamente à crise.
Também foi questionado por seus opositores por não ter feito o suficiente para combater as mudanças climáticas.
O país é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa per capita no mundo, mas, segundo acordos internacionais, se comprometeu a reduzir as emissões.
Fonte: BBC