As emissões de gases de efeito estufa causadas pelos devastadores incêndios florestais na Austrália estão agora quase no mesmo patamar das geradas pelas chamas que atingiram a Amazônia brasileira no ano passado, afirmaram cientistas nesta quinta-feira (09/01).
De setembro a 6 de janeiro, os incêndios florestais na Austrália emitiram 370 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), de acordo com o Serviço de Monitoramento da Atmosfera Copérnico (CAMS), do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF).
Em comparação, os incêndios que atingiram os estados brasileiros localizados na Amazônia emitiram 392 milhões de toneladas de gases de efeito estufa entre 1º de janeiro e 15 de novembro do ano passado.
“As pessoas não estão percebendo as consequências da emissão de carbono”, afirmou Joe Fontaine, professor de ciências ambientais na Universidade Murdoch, em Perth, na Austrália, sobre os incêndios que estão ocorrendo no país. A estimativa das emissões de carbono geradas pelas chamas que atingem a Austrália “é sóbria e deprimente”, afirmou o especialista à Fundação Thomson Reuters.
Até agora, 27 pessoas morreram, milhares ficaram sem teto e outros milhares tiveram que deixar suas casas à medida que o fogo queimava grandes extensões da Austrália, especialmente no sudeste do país.
Enquanto a cobertura da mídia tem focado os impactos devastadores para as pessoas e a vida selvagem, juntamente com a poluição do ar, o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, tem sido criticado por tentar minimizar o papel das mudanças climáticas na crise.
A maioria dos cientistas diz que os incêndios têm sido agravados por três anos de estiagem em todo o país, e que o fogo está ligado às alterações climáticas.
O aquecimento global está tornando eventos extremos como estiagens, ondas de calor e incêndios florestais mais intensos e mais prováveis, afirma Adam Hodge, que trabalha para o Programa Ambiental das Nações Unidas.
“Os incêndios florestais são normais na Austrália como parte do ciclo natural, mas algumas estimativas mostram que a dimensão dos atuais incêndios pode ser a pior já registrada”, diz Hodge. “Eles são um prenúncio do que está por vir. Estes são os efeitos que estamos vendo em um mundo cuja temperatura média subiu para 1,1 ºC acima da média pré-industrial.”
A Austrália responde por apenas 1,3% das emissões globais de carbono, mas é o segundo maior emissor per capita, atrás dos Estados Unidos. O Brasil é o sétimo maior emissor de gases de efeito estufa.
O combate às mudanças climáticas ajudaria a evitar catástrofes como os incêndios recentes, contou Hodge, acrescentando que os países não estão fazendo o suficiente para combater o aquecimento global.
Comparações são complexas
Comparações entre os dados de emissões de queimadas da Austrália e do Brasil são complexos devido às diferentes dinâmicas do fogo, tais como o tipo de vegetação e como os incêndios são iniciados, disse Mark Parrington, um cientista do CAMS, em Reading, na Inglaterra.
“Muitos incêndios nos trópicos são iniciados deliberadamente, muitas vezes para a agricultura”, sublinhou Parrington. “Houve queimadas relacionadas ao desmatamento no Brasil, enquanto que a Austrália é um país que tem um habitat de fogo (natural), então o fogo é parte do ecossistema.”
Comparar a emissão de gases de efeito estufa entre regiões pode também politizar o tema e mudar o foco para outros países, afirmou.
Apesar dos picos nas áreas atingidas por incêndios florestais, a Austrália está experimentando um ano médio, em nível nacional, de emissões provenientes de incêndios, disse uma porta-voz do CAMS, embora os quatro últimos meses tenham ficado acima da média.
Desde 2010, a média anual de emissões relacionadas a incêndios na Austrália foi de 440 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), sendo que o recorde, de 916 milhões de toneladas, foi registrado em 2011.
Em termos globais, o número de incêndios e emissões relacionadas declinou sobretudo ao longo das últimas décadas, observa Parrington.
De acordo com especialistas em carbono, as emissões devido ao fogo podem ser compensadas quando a vegetação se recuperar nas áreas queimadas.
De acordo com a Global Forest Watch, um serviço de monitoramento florestal, de outubro de 2019 a 8 de janeiro nos estados de Nova Gales do Sul, Queensland, Austrália do Sul e Vitória, as zonas em alerta de incêndio representavam cerca de 5,4 milhões de hectares.
Entretanto, o tamanho da área que sofreu queimadas no estado do Amazonas, durante todo o ano de 2019, totalizou 567 mil hectares, sublinhou.
Fontaine, que pesquisa incêndios florestais e o gerenciamento de incêndios, disse que a Austrália precisava investir mais em pesquisa para a compreensão sobre os incêndios e o que o país enfrentará agora e no futuro.
Os riscos de incêndio devem ser melhor gerenciados e o financiamento aumentado para acelerar a resposta a eles, incluindo uma maior força profissional de combate a incêndios, além de ajudar as pessoas a obterem seguro, acrescentou.
Fonte: Deutsche Welle